08 livros inspiradores escritos por mulheres

MÊS DE MARÇO NO BUTECO SERÁ TODO DEDICADO PARA HOMENAGEAR O DIA DAS MULHERES. Além das autoras premiadas como Donna Tartt e Toni Morrison, a lista conta também com Ilana Casoy, que é uma grande criminóloga e pesquisadora na área de violência e criminalidade; Hilda Hilst, que tem uma escrita marcada pela obscenidade, pela seriedade e pelo seu manifesto feminista; a grande voz da ficção científica Ursula LeGuin e outras mulheres incríveis. Muito além de seus prêmios, elas estão nesta lista por serem verdadeiras inspirações para todos nós! Confira.
livros escritos por mulheres

Intensidade
O Pintassilgo – Donna Tart

O que um pássaro acorrentado num poleiro pode nos ensinar sobre a vida? O Pintassilgo é uma prosa contemporânea que explora com rara sensibilidade temas como a perda, obsessão e sobrevivência. O livro conta a vida de Theo Decker, um nova-iorquino de treze anos, que sobrevive milagrosamente a um acidente que mata sua mãe. Abandonado pelo pai, Theo é levado pela família de um amigo rico. Desnorteado em seu novo e estranho apartamento, perseguido por colegas de escola com quem não consegue se comunicar e, acima de tudo, atormentado pela ausência da mãe, Theo se apega a uma importante lembrança dela: uma pequena, misteriosa e cativante pintura que acabará por arrastá-lo ao submundo da arte.

A obra passou mais de 30 semanas na lista dos mais vendidos do The New York Times, recebeu elogios rasgados sendo disparados por gente que raramente emite opinião sobre literatura. Com tamanho reconhecimento, Donna Tartt ficou conhecida como uma mistura de Fiódor Dostoiévski e Charles Dickens de saia. Eu prefiro dizer que Donna Tartt ficou conhecida como Donna Tartt: a vencedora do Pulitzer de 2014, autora de obras incríveis como A História Secreta e O Amigo de Infância e que vem auxiliando alguns autores desconhecidos a se lançar na carreira.

“Pois, se nosso segredo é o que nos define, em oposição à cara que mostramos ao mundo, então a pintura foi o segredo que me elevou acima da superfície da vida e me permitiu saber quem eu sou. E ele está lá nos meus cadernos, em cada página, mesmo não estando. Sonho e mágica, mágica e delírio. A teoria do campo unificado. Um segredo sobre um segredo.” 

Representatividade
O olho mais azul – Toni Morrison

O olho mais azul não está em nossa lista simplesmente pela autora ter sido a primeira mulher negra a ganhar o Prêmio Nobel da Literatura em 1993, mas por tratar da questão de representatividade em uma época bastante complicada nos Estados Unidos. O livro conta a história de Pecola, que encontra rejeição em todos os ambientes que freqüenta. Na escola, é ridicularizada até pelas outras crianças negras, pois é quem tem a pele mais escura. Em casa, o pai a oprime e a mãe prefere dedicar seu amor à família branca para a qual trabalha.

Nos Estados Unidos da década de 40, época em que se passa a história, o padrão de beleza é exatamente o oposto daquele que a menina ostenta. Garotas negras e pobres, como ela, costumavam ganhar de presente bonecas brancas de olhos azuis e tomar leite em canecas estampadas com o rosto da atriz-mirim Shirley Temple. Todas as noites, a pequena Pecola reza para ter olhos azuis – num delirante e inconsciente desejo de redenção e ascensão social.

Coragem
Hibisco Roxo – Chimamanda Ngozi Adichie

O nome de Chimamanda ficou bastante conhecido depois da cantora Beyoncé usar trechos da sua palestra no TED Talks “Sejamos Todos Feministas” em sua música e também pelo seu bestseller Americanah. Para a lista, a recomendação é o livro Hibisco Roxo, um livro narrado em primeira pessoa pela adolescente Kambili, que nos apresenta os problemas terríveis que sofre pela religiosidade fanática de seu pai, um homem rico, dono de fábricas e de um jornal progressista na Nigéria. Ao ver que a vida de sua família está sendo gradativamente destruída pelos comportamentos abusivos e violentos do pai, Kambili decide trocar sua vida de riqueza por uma mais simples ao se mudar para a casa da tia, professora universitária em tempos de crise.

Durante uma temporada na casa de sua tia, Kambili acaba se apaixonando por um padre que é obrigado a deixar a Nigéria, por falta de segurança e de perspectiva de futuro. Enquanto narra as aventuras e desventuras de Kambili e de sua família, o romance também apresenta um retrato contundente e original da Nigéria atual, mostrando os remanescentes invasivos da colonização tanto no próprio país, como, certamente, também no resto do continente.

Inspiração
Casos de Família – Ilana Casoy

Sabe aquele papo de que mulher tem que ser isso e aquilo? Esqueça! A autora Ilana Casoy está aí para provar que mulher pode ter a profissão que ela quiser! Ilana Casoy é criminóloga e pesquisadora na área de violência e criminalidade, especializada em Criminologia pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. Tem treinamento em Investigação e Perícia Forense em casos de homicídio pelo U.S. Police Instructor Teams. Atualmente, é Membro Consultivo da Comissão de Política Criminal e Penitenciária da OAB SP, colaborou com o site do canal Investigação Discovery, participou de um conselho para explicar o perfil criminal no personagem principal da série Dexter, que se tornou uma das mais cultuadas dos últimos anos. Ilana Casoy atuou como consultora da série escrita por Gloria Perez e dirigida por Mauro Mendonça Filho, Dupla Identidade, na Rede Globo.

Em Casos de Família, Ilana traz para seus leitores o mistério desvendado de comentários originais dela mesma no calor dos acontecimentos e descobertas. Além de acompanhar passo a passo o rumo das investigações e julgamento dos assassinos que romperam a linha da lei e do sagrado, os sentimentos e dúvidas da autora ficam agora expostos ao público. Em “Arquivos Richthofen” o leitor vai acompanhar o comportamento dos três assassinos — as contradições e os erros decisivos; a distância de Suzane ao relatar os fatos, o descontrole de seu namorado Daniel na reprodução simulada do crime, os depoimentos e técnicas de investigação da polícia, dos médicos legistas, peritos e especialistas, que não deixaram outra alternativa aos culpados que confessar os assassinatos brutais.

Já em “Arquivos Nardoni” o mergulho é em um dos casos criminais mais polêmicos já ocorridos no Brasil, que contou com um qualificado trabalho da polícia técnico-científica — única “testemunha” do crime. Ilana reconstrói os cinco dias do julgamento de Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella de Oliveira Nardoni, condenados pelo assassinato dela.

Sexualidade
Do desejo –  Hilda Hilst

Esqueça 50 Tons de Cinza ao pensar em livros eróticos e sensuais. Para começo de conversa, 50 Tons é um livro machista, que caracteriza seu protagonista galã como um cara desejado, poderoso, rico, enquanto a garota é pobre, perdida na vida. A verdade que muitos não devem ter percebido, é que Christian Gray é controlador, manipulador e pratica violência psicológica em sua namorada.

Quer ler um livro que mostre melhor a sexualidade da mulher? Leia os livros de Hilda Hist! A autora brasileira faleceu em 2004, aos 74 anos. Sua escrita foi marcada pela obscenidade, pela seriedade e pelo seu manifesto feminista presente em suas poesias e romances. Marcada por uma época em que era estranho ver uma mulher falando sobre sexo, Hilda se fez presente! Em A Obscena senhora D, por exemplo, a autora consegue nos apresentar uma narrativa que mescla o existencialismo, loucura, muito sexo em plena terceira idade. Um brinde a Hilst! Do Desejo é uma coleção com os sete livros de Hilda, entre eles: Cartas de Sedutor, O Caderno Rosa de Lori Lamby e A Obsena Senhora D.

 

“E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo, prazer, lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro.
E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me. ”

Desconstrução
A Mão Esquerda da Escuridão – Ursula LeGuin

Ursula Le Guin aborda em seu livro não apenas a questão dos gêneros, mas sim toda a dualidade que vem a partir disso. Escrito em 1969, a autora buscou se diferenciar dos outros autores de ficção científica e extrapolar a visão de futuro, explorando a natureza da sexualidade de um ponto de vista feminista e acabou vencendo os prêmios Hugo e Nebula, um dos mais importantes da literatura. Em sua obra, Le Guin se arrisca na filosofia, psicologia e na estética da representação de gênero. E tudo isso de forma genuína e completamente original. A partir da perspectiva psicológica, a autora examina ainda o papel simbólico do gênero, pegando o ponto de vista estético para utiliza-lo como metáfora, tornando A Mão Esquerda da Escuridão mais atual que nunca!

Em suma, o discurso praticado tanto em um nível pessoal quanto político em A Mão Esquerda da Escuridão representa a capacidade de como nos relacionamos, demonstrando que a conquista da diferença entre os sexos tem em si o potencial que vai além do material, nos fazendo deixar a escuridão para abraçarmos a luz.  Então, se você quer um livro que te faça refletir e desconstruir muitos argumentos, eu indico esta obra da Ursula Le Guin, que, em 1969 começou a despertar seus leitores para implicações como a misoginia, as consequências de um comportamento heteronormativo fortemente presente em nossa sociedade.

Redescobertas
Rio Paris Rio – Luciana Hidalgo

Em Rio-Paris-Rio conhecemos Maria, neta dos militares que acabaram de instituir a ditadura no Brasil. Estudante de filosofia e trabalhando na bilheteria de um cinema, ela não consegue viver sem o sentimento forasteira. No apartamento vizinho  Marechal, um jovem brasileiro que foge do Brasil para não ser pego pelos militares está dando uma festa. Neste momento, Maria conhece Arthur. Carioca como ela, enviado para o exílio por conta do passado político do pai. O amor (ou a ideia de amor) entre eles é o componente fundamental da trama.

O drama é o seguinte: Maria não consegue revelar ao namorado seu segredo: que ela é neta de um dos militares que arquitetaram o golpe de 1964. Em uma terra estrangeira, com receio de falar a respeito de suas origens a seus amigos revolucionários, a brasileira revê em silêncio seu passado, repassando memórias que há tempos mantinha escondidas de si mesma enquanto o maio de 1968 toma conta da cidade em que vive.

Denúncia
Bom Dia, Verônica – Andrea Killmore

“(…) Quase não havia estatística sobre esse crime, de tão difícil que era uma mulher dar queixa quando era vítima dele.”

Bom dia, Verônica é um livro de ficção para lá de real. Infelizmente, os casos de violência contra a mulher no Brasil não param de crescer. Em 2015, por exemplo, cresceu 44,74% (76.651 denúncias)! Abordando o assunto com bastante profundidade, o livro nos mostra a atuação preconceituosa da polícia diante das denúncias recebidas e como a violência psicológica também é grave.

Em Bom dia, Verônica, acompanhamos a secretária da polícia Verônica Torres, que, na mesma semana, presencia de forma chocante o suicídio de uma jovem e recebe uma ligação anônima de uma mulher desesperada clamando por sua vida. Com sua habilidade e sua determinação, ela vê a oportunidade que sempre quis para mostrar sua competência investigativa e decide mergulhar sozinha nos dois casos. No entanto, essas investigações teoricamente simples se tornam verdadeiros redemoinhos e colocam Verônica diante do lado mais sombrio do homem, em que um mundo perverso e irreal precisa ser confrontado.