Resenha: O mundo tangente de Donnie Darko

Ler o livro Donnie Darko foi como voltar no tempo (ok, essa vai ser a única piada sobre o assunto). Meu primeiro contato com esse cult do século XXI foi aos 12 ou 13 anos de idade. Meu amigo de escola que é fã de filmes de terror, ficou impressionado com a obra de Richard Kelly e fez o maior alvoroço para assistirmos. Pois bem, naquela época eu fiquei super impressionado com tudo no filme. Era assustador e divertido ao mesmo tempo. O único problema é que na minha primeira vez assistindo Donnie Darko, eu só me importei com a fantasia macabra de coelho, com os sustos, efeitos especiais e a trilha sonora incrível.

Anos depois eu soube que Donnie Darko ganharia uma continuação chamada S. Darko e me interessei em assistir novamente o primeiro filme e descobri que ele era bem melhor do que eu imaginava.

              

Para quem não sabe, o filme conta a história de um adolescente problemático diagnosticado com esquizofrenia limítrofe e sonambulismo, que escapa da queda do motor de um avião em seu quarto graças aos seus problemas. A partir daquele momento, Donnie passa a ter visões com Frank, o “humano numa estúpida roupa de coelho”.

Como se sobreviver a queda de um motor de avião não fosse o suficiente, Donnie surge com a sequência de números “28:06:42:12” pintado no braço, que é dado como o tempo restante para o fim do mundo e ainda precisa sobreviver aos desafios diários da adolescência: escola, professores autoritários, hormônios à flor da pele e é claro, muito conflito com a família.

Donnie é introvertido, maduro, inteligente, compassivo e frequenta a terapia psiquiátrica sob tratamento da toxicodependência; sofre de um estado depressivo aparente e vive com o tédio da existência de não compreender o seu significado.  Muitas vezes entra em conflito com aqueles que, com a hipocrisia, quer dar uma visão simplista e feliz na vida.

Se você achou a lista de assuntos extensa para serem tratados em um só filme, você não viu nada. Richard Kelly, criador de Donnie Darko, ainda consegue incluir temas existencialistas, viagem no tempo, metafísica e política no meio disso tudo.

Sobre o livro:

15 anos depois do lançamento do filme e muitos anos depois de toda a hype de Donnie Darko no início dos anos 2000 (época que ainda escolhíamos assistir em VHS ou DVD), a editora Darkside Books presenteia os fãs deste filme com uma edição simplesmente incrível.

Além de uma das edições mais lindas que eu já vi, o livro conta com o roteiro original do filme e muito conteúdo extra. O prefácio é de ninguém menos que o próprio Jake Gyllenhaal (ator que deu vida a Donnie Darko), ainda temos uma entrevista exclusiva com Richard Kelly dirigida por Kevin Conroy Sscott, contando todo o processo de criação do filme, desde a montagem do roteiro, escolha de elenco e todas as dificuldades de se conseguir verba e produtora do filme.

A entrevista com Richard Kelly é muito esclarecedora não apenas para os faz de Donnie Darko, mas também para quem sonha em trabalhar no universo do cinema. Você sabia, por exemplo, que a verba disponível para o longa era de apenas U$2,5 milhões e que Kelly levou mais de um ano para vender seu projeto?

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– Você disse em várias entrevistas que não é Donnie Darko. Entretanto, Donnie diz à sua nova namorada que ele quer ser um escritor ou pintor, dois de seus talentos que aparecem nesse filme. É certo dizer que o personagem Donnie Darko é ao menos parcialmente autobiográfico?

Admito que há muitas partes minhas nesse personagem. Mas eu nunca fui diagnosticado como doente mental. Entretanto, existem muitas partes dele que fazem parte de mim. É inevitável. Arte é pessoal. Para mim, todos os artistas que admiro se expõem. É perigoso se expor porque você sempre corre o risco de que todos vejam que grande babaca você é. É perigoso e assustador, mas se isso é o que você quer fazer da vida, e quer fazer bem-feito, precisa estar disposto a se expor.

Para finalizar, o livro ainda conta a trilha sonora do filme e com um extra sensacional para os fãs: A Filosofia da Viagem no Tempo. Sim! O livro escrito por Roberta Sparrow, a Vovó Morte do filme. No filme, Donnie lê este livro para tentar desvendar o que está acontecendo no mundo ao seu redor. Para Richard Kelly, a criação do livro A Filosofia da Viagem no Tempo foi uma maneira de dizer “eis minha teoria, posso estar errado, mas aqui está. Ele se considerou como um simples espectador enquanto as escrevia, não como o cineasta. Foi feito para servir como uma linha de raciocínio que as pessoas  podiam concordar ou discordar. Para Kelly, aquelas páginas provavelmente fizeram as pessoas indagarem mais sobre o que tudo aquilo significa.

Como você pode perceber, existem várias maneiras de ler Donnie Darko. Você pode devorar o livro de uma vez. Pode começar lendo o roteiro e em seguida a entrevista, ou o contrário. Só o que você não deve deixar de fazer é assistir ao filme mais uma vez, agora mais atento aos detalhes e com novas teorias em mente!

Se você já assistiu Donnie Darko, vai adorar o livro. Se ainda não assistiu, aí está um grande momento para se tornar grande fã da obra.

“Toda criatura viva neste planeta morre sozinha.”

61oAi7uKwQLDados Técnicos:

 

Título | Donnie Darko

Autor | Richard Kelly

Tradutor | Antônio Tibau

Editora | DarkSide®

ISBN | 978-85-66636-99-4

Idioma | Português

Especificações | 254 páginas, Limited Edition (capa dura)