Mesa de Bar: O Mistério das Palhetas

TODA SEMANA, TULLIO DIAS E LUCAS PAIO se reúnem numa mesa de bar virtual e discutem as principais notícias do cinema dos últimos sete dias – ou simplesmente o que lhes vier à cabeça, como hoje.

Lucas: Tullio Dias, o Mesa de Bar deste dia de hoje não é sobre as notícias cinematográficas da semana, ou sobre videoclipes dirigidos por cineastas famosos, ou sobre assuntos importantes de interesse geral que agradariam à maior parte da nossa base de leitores. Em vez disso, resolvemos falar sobre palhetas.

Tullio: As malditas. As amaldiçoadas. Aquelas que literalmente te deixam na mão…

Lucas: O assunto surgiu por conta de mais uma das nossas listas especiais que estamos preparando sobre os melhores filmes dos anos 2000 (jabá atravessando a conversa): um dos filmes citados foi o longa do Tenacious D, a dupla engraçadaça formada por Jack Black e seu amigo Kyle Gass. O subtítulo original do filme é “The Pick of Destiny”, ou “A Palheta do Destino”, referindo-se a uma palheta de guitarra extremamente especial que pertenceu ao próprio Diabo e passou de mão em mão pelos melhores guitarristas que já existiram. Talvez seja a palheta de maior destaque na história do cinema, ou você consegue lembrar de alguma mais proeminente?

Tullio: Vale dizer qualquer uma que tenha passado pelas mãos do Russell em Quase Famosos ou serei fanboy demais?

Para quem não sabe, acredito que a maioria esmagadora, tanto eu quanto o Lucas nos conhecemos através da música. Isso em 2005, creio. Ele tinha essa banda que tocava direto numa casa autoral de BH e eu fui num show. Depois começamos a trocar ideia e viramos bff.

Lucas: Faço parte dessa maioria esmagadora, Tullio. Nem lembrava de como tinha te conhecido. Achei que você tinha simplesmente brotado do nada, mas boa lembrança.

Até já tocamos uma vez juntos n’A Obra, no aniversário da sua extinta banda O Móbile, quando duas cervejas me fizeram esquecer de toda a letra da música que eu iria cantar. Fiquei enrolando durante as estrofes, e só me lembrei do refrão: “Mas o culpado sou eeeeeeu… o culpado sou eeeeu!”. O culpado, na verdade, foi o álcool, mas eu divido a responsabilidade.

Tullio: Eu lembro desse show. Foi divertido. Aliás, a Móbile era uma banda muito divertida. Sinto falta. Também me recordo da letra improvisada que você fez e fico feliz de saber que o “culpado” foi o cara do bar te servindo essas coisas…

Lucas: Mas voltando às palhetas do cinema: eu ganhei de aniversário, uma vez, essa Palheta do Destino, do filme do Tenacious D. Tem pouco mais de dois anos isso, e não faço ideia de onde ela foi parar. O que nos leva à propriedade número um das palhetas: elas somem. Alguma teoria?

Tullio: Como é que você me perde a palheta do destino, cara?

Ao contrário de você, eu toco baixo. Minha gente não depende de palhetas, embora seja agradável em determinadas canções. Fiz shows em que tinha três palhetas. Começava tocando, ela caía e sumia no chão. A outra desaparecia de dentro do meu bolso e outras eu quebrava.

Acredito que existe uma regra velada de que palheta que cai no chão, se funde e nunca mais quer ser encontrada…

Lucas: Palheta é que nem caneta. Você sabe que tem um monte em casa, sabe que já comprou um punhado, mas nunca encontra quando precisa.

Eu tenho um problema específico com palhetas: ou elas são frágeis demais e se quebram nas cordas de aço que costumo usar no violão, ou são parrudas demais e arrebentam as cordas, principalmente o bendito mizinho. Já rolou muito de estar no meio de um show, a palheta quebrar e eu continuar esfolando o dedo até o fim da música. Mas a imensa maioria das minhas palhetas simplesmente sumiu: talvez ficaram perdidas entre uma almofada e outra no sofá, talvez tenham caído no interior do violão e lá grudado para sempre, talvez eu tenha emprestado pra alguém tocar e nunca mais tomado de volta… as possibilidades são inúmeras, mas só salientam a grande verdade: se uma palheta escapar da sua mão, não volta mais.

Sobre a minha Palheta do Destino, certeza de que o Diabo a levou de volta. O culpado não sou eeeeeu…

Tullio: Hahahahahahahaha, “se uma palheta escapar da sua mão, não volta mais”…

Lucas: Tullio, além do Russell de Quase Famosos, quem são seus guitarristas favoritos do cinema? Ou baixistas que usem palheta, já que este é o tema da coluna de hoje?

Tullio: Baixistas com palhetas… isso me deprime muito porque lembro do Jason Newsted substituindo o Cliff Burton no Metallica. Foda.

Sinceramente… eu não consigo lembrar de cabeça de nenhum baixista no cinema, fora o Scott Pilgrim, que usava as palhetas superpoderosas.

E também engravidou a Ellen Page em Juno e ficou tocando violão com ela de boa na escadinha…

Lucas: Verdade, tem o Scott Pilgrim. E, bom, tem o Paul McCartney tocando baixo nos vários filmes dos Beatles, e ele já palhetou bastante seu velho Hofner…

Tullio: O Flea apareceu em alguns filmes, mas além dele não depender das palhetas, não tocou nada na sua participação no cinema.

Lucas: Pois é, ele esteve – lá no final dos anos 80 – em De Volta Para o Futuro II e III, interpretando o rival de Marty McFly. Inclusive participa de uma conversa no Skype com o Marty mais de vinte anos antes do Skype ser inventado.

Você sabia que as palhetas também podem ser chamadas de plectros? Do latim plectrum, do grego plektron…

Tullio: Não tinha a menor ideia disso.

Bom, meu caro, acho que a gente precisa é concordar que as palhetas costumam nos pregar peças e sumir quando bem entendem. Ainda que isso signifique nos fazer sofrer e rasgar os dedos.

Lucas: E aguardem, no próximo Mesa de Bar, a nossa ode às correias de guitarra.

Gollum - palheta meme