O sumiço online do Radiohead

No último domingo, 1 de maio, o Radiohead iniciou a sua campanha de lançamento do nono disco de estúdio e adotou uma estratégia inesperada deletando grande parte da sua presença online na internet.

Tudo começou com uma limpeza geral no Instagram, Twitter e Facebook (nem mesmo o G+ foi poupado, vejam bem!) e depois o site oficial começou a ficar branco. A mesma estratégia se repetiu no Reddit oficial da banda. A tarde de domingo dos fãs do Radiohead foi quase que inteiramente dedicada a acompanhar o vazio online da banda e a expectativa de um lançamento iminente de material inédito, que vem sendo gravado desde o ano passado.

Muitos lembraram que a estratégia não era muito original porque uma banda indie chamada The 1975 fez a mesma coisa no ano passado. Bem. Eu não sei você, mas eu nunca tinha nem ouvido falar dessa banda. Tudo bem que devem ser parabenizados por causar um buzz inusitado e mobilizar a atenção do seu público, mas devemos considerar a relevância do trabalho de cada um e seu impacto. Uma coisa é um artista desconhecido abrir mão de sua marca nas redes sociais e retornar 24h depois para anunciar material inédito, e outra é ver o Radiohead repetindo o mesmo feito.

Desde o lançamento de OK Computer, em 1997, a banda já demonstrava um comportamento “arredio” com o domínio das gravadoras. Na ocasião, o selo que cuidava dos lançamentos do Radiohead nos Estados Unidos acreditava que a banda tinha cometido uma espécie de suicídio comercial. Não poderiam estar mais enganados: o álbum se tornou um marco na história da música e transformou o Radiohead em uma das maiores atrações do mundo.

https://www.youtube.com/watch?v=sPLEbAVjiLA

O vocalista/guitarrista/compositor Thom Yorke já havia sofrido com o desgaste do sucesso depois que o single de “Creep” se tornou uma espécie de “Anna Julia” do Radiohead, mas nem se comparava com a pressão pós-Ok Computer. Os estúdios desejavam uma continuação de OK Computer, mas o Radiohead preparou um disco conceitual chamado Kid A. Deixaram de lado as guitarras e distorções para investir numa sonoridade mais eletrônica que deixou crítica e público surpresos, e com opiniões divididas. As vendas não foram boas, mas era o Radiohead mostrando que ninguém ia mandar no jeito deles produzirem músicas. Um ano depois (2001), lançaram o Amnesiac, um disco cheio de material gravado na época do Kid A. Era o começo de uma nova era para a música e o Napster começava a fazer sucesso. O Radiohead acabou virando pioneiro nessa história de downloads ilegais.

Hail to the Thief, em 2003, foi o último disco do Radiohead que teve um lançamento físico convencional. Quatro anos depois, já livres das imposições do contrato com a EMI, o Radiohead mostrou que entendia o comportamento dos consumidores do século XXI e a liberdade oferecida na internet. Sem muito alarde, a banda anunciou em outubro de 2007, o sensacional In Rainbows. Para ouvir bastava se cadastrar no site oficial e receber um link para o download: tudo de graça. Na verdade, havia uma mensagem desafiando o público a pagar um valor que achasse justo pelas músicas. Muita gente doou quantias equivalentes a preços normais de discos, mas boa parte baixou sem pagar um tostão sequer.

Isso foi o Radiohead dando um golpe de misericórdia no domínio das gravadoras e na briga contra o consumo de MP3. Se um artista desse nível faz algo assim, é porque as gravadoras precisavam modificar a maneira de agir e parar de querer empurrar conteúdo para o público seguindo modelos de negócio ultrapassados.

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Em 2011, o Radiohead tornou a surpreender o público com o lançamento inesperado de King of Limbs, em fevereiro. O material frustrou quem esperava por uma continuação de In Rainbows (ele está mais para a última parte da trilogia formada por Kid A e Amnesiac) e a banda sequer trabalhou muito tempo na divulgação do cd. Após King of Limbs, os ingleses ficaram longe dos estúdios (exceto pelo lançamento de dois singles – e um projeto abortado de nunca mais lançar discos e preferir singles ao longo do ano) até agora.

O nono disco está prestes a ser lançado e sequer teve o seu título divulgado. Tudo que sabemos é que o Radiohead gosta de surpreender e que a qualquer momento o site pode ser atualizado com alguma novidade indicando o download do material inédito para o público. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos e sonhar para que não demore tanto para o nascimento do novo disco, que já chegará “causando”.

Não seria lindo se o cinema nos surpreendesse assim com frequência? Lamentável que são poucos exemplos de produções grandes capazes de serem mantidas em segredo por tanto tempo (exemplo mais recente foi Rua Cloverfield, 10)


Será que “True Love Waits” finalmente receberá uma gravação de estúdio?