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(500) Dias Com Ela

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TODO MUNDO JÁ EXPERIMENTOU AS DORES DE UM RELACIONAMENTO. E quando isso acontece em nossas vidas, é natural buscar conforto em livros, filmes e, especialmente, músicas depressivas que nos dão aquela sensação de que o mundo é mesmo um lugar cruel e que o amor não existe na vida real. Em (500) Dias Com Ela (500 Days of Summer), de Marc Webb, os espectadores encontrarão uma descrição quase perfeita do que sentem aqueles que são deixados de lado pelo “grande amor”.

A trama conta a história de um rapaz chamado Tom (Joseph Gordon-Levitt) que cai nas garras perversas do amor, encarnado na ardilosa Summer (Zooey Deschanel), uma moça alheia às outras pessoas e concentrada apenas em si mesma. Pode parecer que você já viu isso antes, mas eu garanto que não. (500) Dias Com Ela não é como as outras comédias românticas, como fica bem claro na narração da introdução, que diz: “Isso não é uma história de amor”. O filme é uma história sobre como é que nós ficamos após sermos vítimas da rejeição daquela pessoa que parecia predestinada a morrer bem velhinha dormindo coladinho na cama. Ledo engano, querido(a) cinéfilo(a). Ledo engano. Assim como acontece na vida real quando somos ludibriados por aqueles que nos fazem ter coragem de sonhar, Summer não é a pessoa de Tom, e o faz sofrer por isso. E aí entra em cena o mérito da direção, montagem, e narrativa, que ao invés de usar uma cronologia linear, vai apresentando o “romance” aos poucos. Primeiro no começo, depois no final, aí volta para o meio da relação, e assim por diante. Uma maneira eficiente de mostrar os altos e baixos que passamos. Todos nós, sem exceção. Se você discordar, desculpe, mas está fazendo alguma coisa errada.

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A introdução, com uma narração em off, é brilhante ao apresentar o “casal” de protagonistas. Utilizando o recurso da tela dividida (que é usado de maneira genial durante a etapa final da produção – mas falarei disso depois), acompanhamos a infância de Tom e Summer. Logo em seguida, descobrimos que Tom trabalha há quatro anos como redator de cartões de felicitações e Summer é a nova assistente do diretor da empresa. Ou seja, logo de cara estamos diante o velho clichê: o cara é um nada, e se apaixona pela menina impossível. Há poucas indagações sobre o emprego do moço, mas elas estão incluídas sutilmente. Uma característica bem comum de algumas mulheres tentarem modificar seus parceiros (vide Como Não Perder Essa Mulher, estrelado e dirigido por Gordon Levitt).

A primeira interação da dupla acontece por acidente, dentro de um elevador. Tom está ouvindo The Smiths e fica completamente apaixonado depois que a moça diz “adorar” a banda. Quem nunca se apaixonou perdidamente por alguém depois de descobrir o gosto musical da pessoa que atire a primeira pedra. Na maioria das vezes dá merda, mas não no começo, pelo menos. Os dois pombinhos começam a passar um tempo junto, descobrindo várias coisas em comum, e então, finalmente, eles transam pela primeira vez e dão início a um “tipo” de namoro, mas não podia ter esse nome pois Summer não queria “rotular” nada. Ok. Tom está apaixonado. Por que ele deveria criar problema? Deixa rolar. E ele deixa…

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A sequência pós-sexo é hilária. E real. Muito real. Para os apaixonados, a manhã seguinte a uma noite tórrida de amor é sempre mágica. A gente realmente se sente como num musical, com todo mundo dançando feliz, as cores, os bichinhos. Tudo é lindo. Gordon Levitt acerta em cheio nos seus passos, e tem o seu grande momento logo nessa parte, que fica ainda mais forte no link direto com a sequência seguinte. Toda aquela alegria da primeira transa é substituída pela expressão de morte da época em que terminaram. O diretor acertou em cheio, e provavelmente é uma daquelas cenas em que o espectador vai dar uma risadinha que seja. Afinal, adoramos ver outra pessoa se fodendo.

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Uma coisa muito séria que (500) Dias Com Ela faz é deixar os espectadores atentos aos sinais de que seus relacionamentos na vida real podem estar próximos do fim. Tudo começa com um afastamento natural. Depois, a pessoa simplesmente para de achar graça no namorado/namorada. As velhas piadas não funcionam mais e você recebe um olhar de reprovação (vide a cena em que Tom brinca que a pia está estragada). A pessoa não quer contato físico, prefere outros programas (de preferência com outras pessoas) do que ficar a sós com você, e claro, tudo termina sempre na descoberta óbvia: existe outra pessoa. Felizmente (para Tom), o relacionamento dos dois não acaba pelo envolvimento de uma terceira parte, mas isso é tão comum que até dá vontade de insistir que esse foi o motivo. Quem ousaria discordar? Ah, claro. Seria um pecado deixar de mencionar a dolorosa sequência em que nosso “herói” se balança pela cama encarando o celular. Angustiado. Aguardando ansiosamente pelo telefonema que nunca chega, a mensagem que não chega, para o What’s up que não apita. Claro o desfecho da cena é completamente hollywoodiano, mas pelo menos em um momento (500) Dias Com Ela precisava dar um descanso para os espectadores e nos fazer acreditar no amor novamente.

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Summer é a musa de Tom. A Kriptonita do nosso Superboy (ou Robin, né?). Observem só a crueldade do roteiro: Tom já havia “superado”o fim e estava bem, aparentemente. Mas Webb é um sádico e seu filme não descansará enquanto não nos fazer ter cada vez mais pena do quanto Tom se transforma numa criatura patética e dependente. A câmera foca o rosto de Summer iluminado pelo sol, o que apenas ressalta e aumenta o seu poder feminino diante a sua “presa inocente”, que, novamente, se vê perdido num amor impossível. Eles vivem um final de semana bonito no casamento de uma amiga em comum, e Summer convida o ex-namorado para um festa em sua casa na semana seguinte. Eis que temos a melhor cena de (500) Dias Com Ela. Aquela que define o filme, o amor, e toda aquela porcaria de “expectativas” e “realidade”. Utilizando novamente o recurso da tela dividida, e de uma nova narração em off, acompanhamos as idealizações ingênuas de Tom sendo destruídas pela verdade nua e crua de que aquela mulher é uma víbora e o fez mudar tanto apenas para servir como um brinquedinho. A trilha sonora com “Hero”, da Regina Spektor, ajuda a sequência a ter tanta força.

(500) Dias Com Ela é o filme definitivo sobre o “amor” ou a falta dele. Entrar numa relação é sempre uma grande loteria. Você se dá e às vezes recebe algo em troca, mas na maior parte das vezes só chega a solidão e as certezas de que essa vida não é para você. Cometemos erros ao longo do caminho, desejamos mudar fatos e esquecer os dias péssimos, mas enquanto a máquina de apagar a memória de O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças ficar presa no universo fantástico de Michel Gondry, estamos fadados a lidar com nossas perdas, nossos acertos, e principalmente, os erros. Se você não assistiu ainda, faça esse favor a si mesmo. Isso é, se você ainda acreditar em amor, claro.

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Título original: 500 Days of Summer
Direção: Marc Webb
Gênero: Comédia romântica
Roteiro: Scott Neustadter, Michael H. Weber
Elenco: Zooey Deschanel, Joseph Gordon-Levitt, Geoffrey Arend
Lançamento: 7/08/2009
Nota:[quatro]

ps: dedicado para todo mundo que já foi importante para alguém. E fez a diferença, independente do que a “vida” planejou para arruinar tudo.
ps2: a Teoria Pedestáltica manda um abraço.