Argo

ARGO É UM DRAMA INSPIRADO EM UMA HISTÓRIA REAL. É bastante improvável acreditar que os eventos narrados no longa-metragem dirigido por Ben Affleck sejam verdadeiros, mas podem confiar: o roteiro de Chris Terrio é baseado em um artigo publicado em um jornal e que revelou para o mundo inteiro a verdade sobre o resgate de seis reféns norte-americanos no Teerã, no começo dos anos 80.

Durante um atentado na embaixada norte-americana no Teerã, 52 pessoas são feitas com o reféns e seis conseguem escapar sem serem vistas. A CIA intervém antes dos terroristas descobrirem que foram enganados e um especialista em resgate inventa um plano mirabolante para conseguir salvar as suas vidas: com o apoio de um produtor de cinema, ele busca patrocínios para rodar um filme falso no país e fingir que os reféns são parte de sua equipe de produção. O filme gira em torno de toda a concepção do plano até o momento em que ele é colocado em ação, gerando várias sequências tensas.

Nunca tive grandes problemas com a carreira de Affleck como ator, exceto por um filme ou outro que realmente deveriam ser banidos de qualquer locadora ou acervo virtual que exista por aí. Ainda assim é uma grata surpresa descobrir que seu talento como realizador é infinitamente superior a tudo que demonstrou até hoje como ator. Mais surpreendente ainda é perceber como a própria atuação do ator melhora quando ele está no comando de tudo. Argo pode até não ser o seu melhor filme até o momento (entre Medo da Verdade e Atração Perigosa, costumo preferir o segundo), mas certamente é mais uma grande demonstração de que ele se encontrou e está no caminho para se tornar um grande diretor.

As atuações do restante do elenco também merecem uma atenção especial. Bryan Cranston finalmente parece ter acertado em uma escolha no cinema depois de encarar participações minúsculas (Contágio, de Steven Soderbergh) e bombas (O Vingador do Futuro, de Len Wiseman), o protagonista do seriado Breaking Bad interpreta um agente da CIA que auxilia o personagem de Affleck na extração dos reféns. No entanto, o melhor está em John Goodman e Alan Arkin, que apesar de ficarem responsáveis do alívio cômico de Argo, conseguem cumprir sua missão de maneira brilhante e hilária. O personagem de Arkin até chega a criar um bordão para a produção: “ar-go fuck yourself”, que é usada em diversos momentos sempre com um excelente timing cômico.

A estratégia utilizada pela CIA para resgatar os reféns acaba rendendo cenas hilárias, ainda que se trate de um filme sério. Durante toda a parte da leitura do roteiro do filme falso, é impossível não rir dos atores vestidos como personagens de Star Wars e Flash Gordon. Como se não bastasse todo o episódio envolvendo o resgate dos reféns ser completamente inacreditável, o filme fake consegue ser ainda mais surreal – para a alegria do espectador que irá se divertir muito com as cenas.

Em determinado momento do filme, pouco antes do terceiro ato, os personagens parecem ter um raro momento de descontração e se reúnem para comemorar a possibilidade de conseguir escapar do Irã. Além das bebidas, a música escolhida é “When The Levees Break”, do Led Zeppelin, o que reforça a atmosfera momentaneamente otimista daqueles personagens.

O climax de Argo é capaz de tirar o fôlego até mesmo do mais chato dos espectadores. Digamos que até quem foi para o cinema apenas para dar uns pegas no namorado (a) irá parar e prestar atenção de tão bom que é. O curioso é que você já assiste ao filme sabendo que tudo deu certo no final das contas e que não há a menor necessidade de criar preocupações, porém a montagem do filme aumentou demais a tensão. Sem entrar em spoilers, a sequência do aeroporto ficará marcada na história da carreira de diretor de Ben Affleck. Para a sorte dos fãs, se algum dia ele conseguir construir alguma cena que supere o terceiro ato inteiro de Argo, estaremos diante uma verdadeira obra-prima.

Segundo a crítica especializada, Argo poderá ser reconhecido com algumas indicações ao Oscar de 2013. Sem querer entrar no mérito da suposição, a produção até merece uma atenção especial da Academia, mas mais importante ainda é a confirmação de que a carreira de Affleck e seus dois filmes anteriores não foram acidentes felizes. Com uma direção segura, e conduzindo os atores de uma maneira eficiente, o diretor ainda terá muitas outras oportunidades de surpreender ao público e crítica.

Nota:[quatro]