A Rede Social

A REDE SOCIAL DE DAVID FINCHER.
Com: Jesse Eisenberg, Rooney Mara, Bryan Barter, Armie Hammer, Joseph Mazzello, Andrew Garfield, Rashida Jones, Max Minghella, Justin Timberlake.

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O nerd tem se tornado um personagem cada vez mais interessante e explorado pelo cinema. Isso reflete uma tendência de que o estranho, o diferente, pode ser bem mais interessante do que retratar o garoto popular ou a garota gostosa e seus conflitos. Se antes eles eram os bizarros, os engraçados, agora, cada vez menos caricatos eles estão ganhando um espaço que antes não lhes pertencia: o de protagonistas.
A Rede Social, David Fincher quer contar a história por trás da criação do site de relacionamentos mais famoso e bem sucedido do mundo, o Facebook, e para isto parte do ponto de partida de que, sua criação, se deveu basicamente a algumas frustrações e à incapacidade de se relacionar (principalmente com as mulheres) de Mark Zuckerberg (Jesse Einsenberg), seu criador. Não se pode dizer (segundo o que nos conta o filme) que ele era um jovem anti-social, já que, de certa forma, existia essa vontade de “fazer parte”, mesmo que não declarada. A diferença é que Zuckerberg canalizava essa vontade no meio virtual: é lá que ele projetava essas vontades, quando cria um site que compara garotas do campus, rapidamente tirado do ar, ou quando cria outro cuja finalidade seria, em outras palavras, catalisar as vontades de todos aqueles estudantes, e a sua própria: conhecer da forma mais rápida possível outras pessoas, seus interesses… O que fatalmente torna esse site um sucesso.

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É interessante perceber como o filme coloca Zuckerberg numa posição no mínimo, contraditória: não consegue se relacionar, se inserir, nem ser minimamente romântico com a namorada (a cena inicial, já nos coloca frente a uma conversa que termina num tenso rompimento, devido à clara falta de jeito do personagem para esse tipo relação). Mas ao mesmo tempo, tem um tipo de percepção interessante sobre o que as pessoas querem e sobre como incorporar isso ao site que estava criando. O Facebook só refletiria e potencializaria as demandas do mundo real. E Zuckerberg não só percebeu isso, como o transformou em ferramentas que uma a uma contribuíram para o sucesso do site.

Por outro lado a intenção de Fincher nunca fica clara o bastante quanto ao personagem que ele quer mostrar. Zuckerberg não é só um quase anti-social: ele também parece às vezes só conseguir agir racionalmente. É como se o tempo todo ele só fizesse operações lógicas, desprezando o fator humano das situações. É uma insensibilidade? É autodefesa? É claro que Zuckerberg se abala, sente (a perda da namorada, o desgaste do processo movido contra ele por um suposto roubo de idéias), mas ao mesmo tempo não se permite expor os sentimentos: permanece numa posição de proteção e até de isolamento, como se não pertencesse àquele lugar.

Totalmente consciente de sua inteligência acima do comum, Zuckerberg não exita em explicitar isso com uma ironia que também transmite esse despreparo com o outro: como se relacionar com o diferente? Como se colocar no mesmo plano daqueles que, mesmo que queiram, não conseguem participar desse universo que ele cria, pra si mesmo, como auto-proteção?
É aqui que chegamos ao personagem de Andrew Garfield, e a seu Eduardo Saverin: desde o primeiro momento em cena, Saverin surge com um contrastante carisma e cuidado com Zuckerberg, que realmente admira e pelo qual sente um carinho, embora não compartilhe com ele sua incapacidade de se relacionar. Sua ligação com o amigo está além dos negócios, e isso fica claro na cena em que ele descobre não ter mais a participação que tinha no começo da criação do Facebook: não é só uma questão financeira que está em jogo; Saverin, o único amigo de Zuckerberg fora traído.

a rede social justin timberlakeE é esta cena, que resume um certo sentimento de incômodo: a forma como os personagens foram colocados até ali gera uma estranheza com relação a Zuckerberg que não se explica totalmente. Quem é ele? E porque ele teria traído seu melhor amigo? Há aqueles que dirão que ele pensa como um empresário, e que nesse campo não há espaço para sentimentos. Isso pode explicar outra contradição quando se trata de Zuckerberg: mesmo tendo criado o Facebook, ele tinha apenas um amigo de verdade, que perdera em função do site. Fica claro também que esta não é uma ambição dele especificamente, mas que surge no contato com Sean Parker (Justin Timberlake) e seu espírito empreendedor, quando este lhe apresenta todas as possibilidades do site, que simplesmente não faziam parte do plano inicial do jovem milionário: ele só queria criar uma irmandade, dessas que só admitem pessoas selecionadas como seus membros, no meio virtual. Proporcionar esta interação sem pré-conceitos, ou diferenciações parecia ser o interesse inicial de Zuckerberg, e isso de certa forma humaniza o protagonista.
A Rede Social é um bom filme, principalmente pela forma como coloca o fator humano por trás da história do facebook, tão controverso e bem explorado. Recomendo.

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