Holy Motors


FELIZMENTE NÃO FUI A ÚNICA PESSOA QUE FICOU EXTREMAMENTE CONFUSA COM HOLY MOTORS. Antes eu tivesse passado no boteco da esquina, tomado todas e ido sentar na cadeira do cinema. Provavelmente teria aproveitado bem mais desse estranho e peculiar filme, que sinceramente, até agora eu não posso dizer que entendi muito bem. Talvez não exista nada para entender. Simples assim.

Só depois de ler outras críticas sobre o filme (clique aqui para visitar O Pipoqueiro) descobri que aquela sequência inicial que apresenta um maluco enfiando um objeto fálico na parede é estrelada pelo próprio diretor, Leos Carax. Queria dizer que essa informação ajudou o filme a ter algum sentido, mas não. No final das contas, a maluquice completa é o que torna Holy Motors um filme interessante. Mas é preciso deixar bem claro que não é qualquer pessoa que irá apreciar os delírios do longa-metragem. Eu mesmo confesso que não sei se gostei de verdade ou apenas fiquei encantado com o tanto de vezes que me perguntei “wtf?”

A trama básica de Holy Motors aparentemente gira em torno desse sujeito estranho que passa o dia inteiro dentro de uma luxuosa limousine indo de um ponto ao outro de Paris para cumprir seus compromissos. Poderia até lembrar um pouco o trabalho mais recente de David Cronenberg em Cosmópolis, mas as semelhanças param por aí (exceto se você quiser comparar a beleza exótica de Denis Lavant com a beleza de fada de Robert Pattinson).

Lavant dá um verdadeiro show ao se multiplicar na tela. Seu personagem parece não ter uma identidade definida e seus compromissos implicam em assumir diversas personas, entre elas uma velha coroca rabugenta que não consegue olhar para cima; um duende tarado que sequestra Eva Mendes e não disfarça a sua pequena ereção; um pai dando uma bronca na filha mentirosa; dentre vários outros tipos. A cantora Kylie Minogue faz uma participação especial.


O longa-metragem é basicamente isso. Podemos perceber que o personagem está cansado de sua rotina e tem uma relação forte com a sua motorista, mas é só. Carax cria uma história extremamente distante de qualquer compromisso com a realidade e escancara as portas de uma realidade alternativa. Fica o desafio para o espectador querer interpretar o que está de fato acontecendo. Especialmente na cena final, que explica o título do filme. Na verdade, existe outra sequência que merece ser observada com atenção: logo que o título do filme é apresentado na tela, surge um monte de gente dormindo dentro de um cinema. Seria um convite para fechar os olhos, abandonar o compromisso com a realidade e embarcar no mundo de sonhos de Leos Carax?

Acredito que Holy Motors seja mais fácil durante uma revisão, mas a vida é muito ligeira para perdermos tempo querendo acreditar que a “segunda vez é ainda melhor”. É uma história confusa, que provavelmente terá uma eficácia maior se exibida em encontros etílicos, mas que possui um certo charme justamente por esses detalhes, além da bela atuação de Lavant. Caso resolva experimentar o filme duas vezes, não deixe de vir aqui contar o que achou.

Nota:[tres]