Magic Mike

DIZEM QUE A VIDA DE CHANNING TATUM ANTES DA FAMA INSPIROU O ROTEIRO DE MAGIC MIKE. Se é verdade ou não, pouco importa para mudar o fato do filme ser uma espécie de Showgirls, de Paul Verhoeven, para garotas. E garotos também, por que não? Afinal de contas, estamos diante um conto de fadas sobre um cara “legal”, que tenta ganhar a vida da maneira mais fácil, mas que tem consciência de que seu estilo de vida é equivocado.

Dirigido por Steven Soderbergh, a produção até tenta disfarçar, mas o lance mesmo é valorizar a bela forma física de seu elenco masculino. Tatum sempre mostrou ser musculoso e felizmente tem carisma e talento para conseguir se bancar sem depender do sex appeal. O mesmo pode ser dito de Matthew McConaughey, que surpreende bem mais por não ser um quase coroa com pochete do que pelo seu desempenho dramático, que nunca foi questionado. O outro protagonista é a jovem promessa Alex Pettyfer, que faz bem o papel de adolescente delinquente sem nada na cabeça. É complicado julgar o ator pelo seu trabalho em Magic Mike, especialmente quando se tem a lembrança do horroroso Eu Sou o Número 4 fresca na lembrança, mas Pettyfer não compromete em nenhum momento.

Magic Mike (Tatum) é um empreendedor que busca juntar dinheiro o suficiente em seus trabalhos paralelos para investir na sua carreira criando seus móveis personalizados (sem pensar besteira, por favor). Enquanto não tem grana para bancar um financiamento no banco, o cara se divide em vários bicos, dentre eles consertar telhados. É justamente sob o teto de alguma família feliz que ele conhece o aborrecente Adam (Pettyfer). Os dois acabam fazendo uma amizade e Adam é convidado para trabalhar no “outro” emprego de Mike, numa boate muito louca comandada por um cowboy perdido chamado Dallas (McConaughey).

Adam acaba descobrindo uma maneira de aproveitar melhor a sua juventude, tendo sexo, drogas e muito dinheiro fácil ao alcance de suas mãos. Enquanto ele se esbalda, com direito até mesmo a uma transa com uma gótica doidinha com um porquinho de estimação, Mike se apaixona pela irmã de Adam e começa a repensar a sua vida como um stripper de 30 anos.

faltava um toque feminino nesta crítica

O roteiro tenta dar profundidade para os dramas de Mike, mas a verdade é que o personagem não consegue transmitir muita profundidade. Ele simplesmente é aquilo, um burro de carga que tem o seu sonho, mas se acomodou e dá desculpas para abandonar o “negócio”. As subtramas são pouco exploradas e fica a impressão de que o filme não apresenta o desenvolvimento de seus personagens. O público apenas senta, assiste várias cenas constrangedoras (ok, vale uma ressalva: eu não acho que os homens irão se interessar muito em pagar o ingresso para ver um monte de bengaludos rebolando, então não há constrangimento para as garotas. Mas se por acaso, cara leitora, o seu namorado insistir para ir assistir Magic Mike no final de semana, aconselho uma denúncia nesse link aqui, oh) e pronto. Os personagens tentam dizer que evoluíram, que algo aconteceu, mas fora o brilhante insight de Mike durante o stripper de Dallas, nada tem muito valor. Também é interessante a escolha de Cody Horn para representar a vida “real”, uma atriz que embora seja bonita não tem o corpo escultural que estamos acostumados a ver em outras mulheres em filmes de Hollywood. 

Existe espaço para o senso de humor. A cena mais explícita de Magic Mike mostra o verdadeiro segredo do “sucesso” do personagem de Joe Manganiello, cujo instrumento de trabalho deixaria Michael Fassbender com inveja. Outras cenas divertidas envolvem Adam, que passa por situações embaraçosas depois que esquece sua bolsa recheada de acessórios na sala e tem que encarar uma dura da irmã. (“Não é o que parece, irmã” – isso porque ele estava com um gilette e raspando a perna); e também quando descobre a profissão noturna de Mike.

David Holmes, compositor habitual dos filmes de Soderbergh, não assina a trilha sonora de Magic Mike e sua ausência é sentida. A música do filme é pouco inspirada, deixando os fãs do trabalho do musico imaginando como seria ouvir suas faixas embalando a trama. Apesar da falta de um nome forte no departamento musical, o filme faz uma espécie de homenagem para o clássico “Its Raining Men”, de The Weather Girls. Alguém em sã consciência ousaria ignorar o hino dos gogoboys em um longa-metragem sobre o trabalho (duro) deles?

Magic Mike é um filme para moças cansadas da mesmice de seios e bundas na maioria dos filmes de Hollywood. Parece que Soderbergh até chega a gritar: “é hora da vingança feminina!” ao longo do longa-metragem. Observando por este lado, é provável que o resultado agrade em cheio as cinéfilas. Mas se tratando de cinema é uma história pouco original e que pouco acrescenta para o curioso currículo do diretor, que agora poderá se gabar de ter feito um conto de fadas masculino sobre a dolorosa vida de um stripper nos Estados Unidos. Quem dera a vida real fosse tão glamourosa (e divertida) assim, acho que conheço vários garotos que se interessariam por uma vida dessas… Eu, inclusive. 


Nota:[duasemeia]