Crítica: O Contador (2016)

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GAVIN O’CONNOR CHAMOU A ATENÇÃO DA IMPRENSA ESPECIALIZADA EM 2011, com o excelente Guerreiro (Warrior). Na ocasião, parte do sucesso da narrativa ficou nas costas do talentoso Tom Hardy. Cinco anos depois do seu grande sucesso, o cineasta retornou com duas obras: o discreto Em Busca da Justiça (Jane Got a Gun) e o recente O Contador (The Accountant), com o astro Ben Affleck.

Christian Wolff (Affleck) cresceu aprendendo a lidar com o seu autismo e se transformou num assassino profissional depois de virar adulto. Paralelamente, como disfarce para o seu verdadeiro trabalho, Wolff administra uma empresa de contabilidade. Ele acaba sendo contratado para investigar um rombo numa grande empresa de tecnologia e se vê no meio de uma grande conspiração.

A narrativa é bem simples. Sem inventar demais (nem mesmo a ordem não cronológica dos acontecimentos chega perto de confundir o público – é até didático demais para responder pequenos mistérios colocados em cena), o roteiro trata logo de encaixar todas as suas peças naturalmente. Até mesmo Affleck, que é sempre muito contestado como ator pela crítica, recebe uma atenção especial e um personagem que atende bem as expressões de constipação do ator. Talvez seja essa simplicidade, que pode ser interpretada como falta de ambição, a maior inimiga de O Contador.

O mais frustrante de O Contador é que se trata de um daqueles filmes que funcionam muito bem para a parcela de público que não gosta de roteiros complexos. Tudo é previsível. Enquanto o roteiro se desenvolve para uma história fechadinha, o que sinceramente deveria ser visto como um mérito, acabamos nos sentindo como se já tivéssemos assistido ao filme. Tudo é comum e familiar para quem tem o hábito de assistir muitos filmes, especialmente aqueles com participação de algum nome do elenco. Por exemplo, a lindinha Anna Kendrick parece reprisar a sua personagem de Amor Sem Escalas (Up in the Air, de Jason Reitman). Mesmo o experiente J.K. Simmons parece cair na armadilha do lugar comum repetindo a si mesmo.

Ainda assim, O’Connor cria sequências tensas que deixam seu público sem conseguir tirar os olhos da telona. A introdução é um exemplo. Aliás, bem esperto começar a história vendendo um produto que nos faz lembrar imediatamente do clássico O Profissional, de Luc Besson. Outro momento interessante está na sequência em que Wolff resgata Dana (Kendrick) em seu apartamento.

O Contador diverte com seu humor bem colocado (as piadas são em cima da reação das pessoas com o absurdo de ver um contador se revelando um grande assassino) e um ritmo regular comandado pelo sempre eficiente Gavin O’Connor, mas peca ao dar absolutamente todas as respostas escancaradas para o seu público. Toda essa aparente insegurança em se permitir ser mais ambicioso custa caro e ofusca todo o potencial da obra.