O Som ao Redor

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QUANDO HAVIA MENOS GENTE NO MUNDO e as distâncias – até para a casa do vizinho – eram maiores, a convivência devia ser mais fácil. Mas a população cresceu, o mundo mudou e todos nós nos apertamos em casas pequenas, grudadas umas nas outras, em prédios, em condomínios. E conviver com tanta gente “estranha” não é fácil. Porque conviver implica aturar o que não é do nosso agrado: o som alto, os gritos, as risadas, o cachorro, o porteiro que dorme, aquele que só pensa em si e não na coletividade (no fundo, somos todos assim, não?)

O Som ao Redor trata disso, de como nós convivemos em sociedade. Ele traz João, um corretor de imóveis que se envolve com Sofia e que vive às voltas com os imóveis da família e com o primo delinquente, Dinho. Tem Bia, dona de casa insone que tem dois filhos e não aguenta mais os latidos do cachorro do vizinho. Tem Seu Francisco, dono da maior parte dos imóveis da rua, um antigo senhor de engenho. E Clodoaldo e Fernando, dois seguranças particulares que resolvem oferecer seus serviços nessa rua, que é em Recife mas pode ser em qualquer cidade, em qualquer país.

É engraçado como somos mais individualistas à medida em que aumenta nossa necessidade de viver em sociedade. Como vemos menos o outro e como nos agarramos a questões tão pequenas, como o caso da reunião de condomínio em que uma senhora reclama porque o porteiro da noite não a cumprimenta (será que ela o cumprimenta sempre?) e também porque tem recebido sua revista semanal fora do plástico. Um belo texto sobre o filme está aqui, no blog Atlântico-Sul, de Alexandra Lucas Coelho.

A segurança (e/ou a falta dela), o cachorro do vizinho, o guardador de carro que retalia uma cliente, as crianças do playground, a bola furada, a vida cotidiana podem enganar em O som ao redor. Pode, a princípio, parecer um filme sobre o nada. Mas Kleber Mendonça Filho mandou bem ao construir a tensão no desenvolvimento do longa (chegou um momento em que me perguntei por que estava ali, sozinha, no cinema, sem ninguém pra segurar minha mão), até chegar à cena final, que é um modo perfeito de terminar a história.

O som ao redor está sendo considerado um dos melhores filmes brasileiros da atualidade, vem sendo comparado a Cidade de Deus e recebeu muitos elogios da crítica internacional, após passar por vários festivais. Não sei se concordo com a comparação com Cidade de Deus, mas digo que é mesmo um dos melhores nacionais que vi recentemente.

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Nota:[cinco]

ps: publicado originalmente no blog Janela Colonial