Sem Evidências

Sem Evidências

A SINCERIDADE É UMA QUALIDADE QUE POUCOS CONSEGUEM ADMIRAR E COMPREENDER. Dito isso, a trama de Sem Evidências, de Atom Egoyan, inspirada em um trágico crime cometido nos Estados Unidos em 1993, se baseia muito nos preconceitos daquela população em relação aos três jovens acusados do triplo homicídio de crianças. E sobre a sinceridade, digo aqui que esse não é um daqueles filmes que realmente prendem a atenção do espectador. Infelizmente.

O grande problema do longa-metragem é a sua falta de foco. Egoyan flerta com o drama, o suspense, com o subgênero de filmes de tribunal, e até tenta incluir temas mais macabros no perfil dos três supostos assassinos, mas acaba fracassando em todas as suas tentativas. A impressão que fica é que estamos assistindo a um episódio de séries investigativas, como CSI, na tela gigante do cinema. E nem a pau que isso pode ser considerado como algo positivo. Existe um enorme material para ser explorado, afinal estamos falando de um caso em que três adolescentes foram presos por uma acusação injusta, tiveram um julgamento em que não existia a menor prova de que foram culpados, e mesmo assim se deram mal. O cineasta filma as três “vítimas” com um distanciamento que impede o espectador de se interessar, e importar, com o destino deles.

Colin Firth (O Discurso do Rei) surpreende com a sua participação como o advogado decidido a impedir que os três adolescentes paguem com a vida por um crime que podem não ter cometido. Se essa surpresa é positiva ou negativa, pode ser uma grande questão de perspectiva. Ele parece atuar no piloto automático. Seu personagem possui um sotaque sulista carregado (e não deixa de ser absolutamente hilário ver Firth falando como um cowboy texano), e ao mesmo tempo uma apatia contagiante. Se o espectador estiver com sono, provavelmente terá sonhos com uma versão de O Discurso do Rei para cowboys.

No elenco ainda temos Reese Whitespoon (eterna Legalmente Loira), que está mais madura em sua carreira e parece ter se distanciado do type casting de sempre. Se não é uma maravilha em frente às câmera, Whiterspoon é boa o suficiente para convencer na pele da mãe de uma das vítimas, e uma das poucas pessoas que parecem realmente prestar atenção nos fatos apresentados durante o julgamento. Detalhe para uma cena linda, na qual a sua personagem é abraçada por várias crianças.

Se tratando de uma obra inspirada em uma história real bem confusa, talvez Sem Evidências tenha acertado na mosca ao se tornar igualmente confuso e perdido. Seu diretor, outrora considerado um cineasta com potencial, jogou no lixo uma excelente oportunidade de se aprofundar num prato cheio para os amantes de suspenses dramáticos, e nos ofereceu uma produção rasa e desprovida de vida. Sem ritmo nenhum, o que apenas deixa aquela sensação desconfortável de algo que poderia ser bem melhor do que é. Como um relacionamento fracassado no qual você sabe que poderia se casar com a pessoa, se ela decidisse abraçar suas responsabilidades e ser maior.

Poster Sem Evidências

[duasemeia]