Crítica: Maníaco (2012)

DEPOIS DE SOFRER HORRORES NAS MÃOS DO PRIMO PSICOPATA EM O ANJO MALVADO, Elijah Wood acabou provando o sabor de viver ele mesmo um assassino nessa refilmagem muito interessante de um terror trash da década de 1980 Maníaco (Maniac, 2012).

A narrativa é toda contada através da perspectiva do protagonista, ou seja, através do chamado POV (Point of View). Isso é um ponto positivo para o filme, já que obriga o espectador a criar certa conexão com o psicopata vivido intensamente por Wood. Nós entramos quase que literalmente na cabeça dele e assistimos de uma posição privilegiada os seus crimes e crises nervosas.

Frank (Wood) é dono de uma loja de manequins e começa a ajudar uma jovem fotógrafa a realizar uma exibição. Enquanto vai se apaixonando lentamente pela garota, Frank persegue mulheres que cruzam o seu caminho e as mata sem sentir o menor remorso. Inclusive, o seu grande lance é arrancar o cabelo das mulheres e grampear (WTF) na cabeça dos manequins. A viagem de Frank é criar um ambiente doméstico em que todas as suas vítimas vivem pacificamente com ele.

Maníaco poderia muito bem ser um imenso fiasco, mas o trabalho do roteiro na psicologia do protagonista é arrepiante. Frank desenvolveu ódio por mulheres depois de presenciar o comportamento promíscuo da mãe (confesso que ainda tenho as minhas dúvidas se ela não era uma profissional do sexo mesmo ou apenas viciada em drogas ou transas casuais) ao longo de sua infância. Não bastava ver a mãe transando com um homem diferente a cada noite, mas ele também sofria com a falta de carinho e o descaso dela. Era como se ele fosse o culpado por tudo aquilo.

Fragilizado mentalmente pelos seus traumas, Frank se tornou um adulto que direciona a sua raiva contra mulheres inocentes que não passam no seu julgamento de caráter. É como se ele olhasse para todas e lembrasse da mãe. Sentisse uma necessidade de punir pela roupa que vestem e o seu comportamento. Isso transforma Maníaco numa bela metáfora para a realidade, especialmente quando parte da nossa sociedade é incapaz de permitir que todos possuam a mesma liberdade e direito de se expressar/comportar como bem entenderem. Mais do que acompanharmos um assassino, nós nos tornamos a própria sociedade condenando mulheres por serem elas mesmas.

Maníaco é recheado de cenas de violência gráfica explícita e muitas delas são fortes o suficiente para nos fazer querer relembrar o que comemos horas atrás. Destaque principalmente para a atuação de Elijah Wood, que nos convence de seu sofrimento e da sua incapacidade de viver normalmente. Uma história bem triste, mas que não alivia a sua barra: não vamos esquecer que o maluco mata mulheres sem medir esforços. Filmaço.