Sobrenatural: Capítulo 2

O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: a crítica a seguir possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.

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A CONTINUAÇÃO DE SOBRENATURAL SUSTENTA O MESMO CLIMA ASSUSTADOR DO ORIGINAL, mas toma decisões equivocadas para a sua conclusão. Ainda que não seja uma obra perfeita, o trabalho do cineasta James Wan é interessante o bastante para merecer a atenção do espectador, especialmente aqueles que veneram o gênero horror. Para quem não reconheceu pelo nome, Wan também dirigiu o elogiado Invocação do Mal. Ou seja, em 2013, ninguém mandou tão bem se tratando de terror do que ele.

Sobrenatural: Capítulo 2 se passa imediatamente após os eventos do primeiro filme, então não adianta ir ao cinema sem saber quem são aqueles personagens e o que já aconteceu. Josh (Patrick Wilson) e sua família continuam sendo assombrados por entidades malignas, mas nem desconfiam que o perigo está mais próximo do que imaginam.

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Tudo ia muito bem no filme, mesmo com a presença de uma trama secundária com a investigação sobre a origem dos problemas de Josh. O diretor conduziu tudo com calma para possibilitar os melhores momentos para assustar o público, e, pelo menos na minha experiência, ele conseguiu sucesso. No entanto, por algum motivo do além, o roteiro de Leigh Whannell (que interpreta o bobalhão Specs) decidiu misturar o plano espiritual com viagens no tempo. Como se no mundo espiritual fosse permitido revisitar e interferir no passado. Com todos os detalhes se conectando de uma forma brilhante (como a explicação de como a noiva negra maluca passou a perseguir e atormentar Josh durante a sua infância, o que resulta numa espécie de homenagem indireta ao clássico Psicose, de Alfred Hitchcock, como observou o amigo Joubert Maia), é lamentável que justo na parte mais importante tenham inventado algo tão imbecil.

A obra não oferece nada de original para os espectadores, na verdade, dá até para ficar com a impressão incômoda de que todos os filmes sobre espíritos maléficos são idênticos e seguem as mesmas fórmulas. No caso de Wan, isso fica ainda mais grave pelas semelhanças com Invocação do Mal. Em ambos existe a tentativa de possessão de um corpo, uma família tradicional sendo atormentada, uma casa enorme que se torna ameaçadora com a escuridão e/ou a presença dos invasores. O curioso é que mesmo assim, o diretor consegue garantir bons sustos. Mérito do uso da trilha sonora em momentos chave, justamente para potencializar o efeito da cena.

Ainda que a direção de arte tenha cometido o equívoco de utilizar um armário (porra, precisa ter um em todo filme de terror agora? A última coisa que precisamos é ter medo de abrir o armário em casa, pô!) que lembra bastante Invocação do Mal, e que o roteiro obviamente inclua cenas com espíritos escondidos lá dentro, um dos principais trunfos da obra está justamente nos detalhes. A casa da médium Elise é cheia de objetos estranhos (mais uma lembrança do trabalho anterior do diretor. Será que se trata de uma espécie de homenagem ao casal Ed e Lorraine Warren?) que chamam a atenção do espectador. Mesma coisa acontece quando, já na metade final, alguns dos personagens encontram vários cadáveres podres dentro de uma casa abandonada. É aterrorizante se imaginar próximo de tantos corpos cobertos apenas por um lençol, como se fossem múmias ou fiéis de algum ritual sinistro.

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Reparem na maquiagem usada em Patrick Wilson, que começa apresentando uma aparência cansada e logo depois aparece como se tivesse mais de 60 anos de idade, inclusive com os dentes bem estragados. E por último, mais um detalhe técnico que merece a atenção do espectador, observem com atenção a cena em que o garoto Dalton conversa com a sua mãe (Rose Byrne) sobre o comportamento do pai, e de repente, Josh os interrompe. A câmera mostra Josh com o rosto parcialmente tomado pelas sombras, como uma pista para alertar que ainda há algo muito errado acontecendo.

Sobrenatural: Capítulo 2, como cinema, é superior ao Invocação do Mal, mas por conta das decisões questionáveis que o roteiro encontrou para ligar todos os pontos da história, acabou deixando a desejar e jogou fora todo o seu potencial de ser o grande filme do gênero do ano. Em tempos de tantos longas sobre casas assombradas (Atividade Paranormal, inclusive, recebe uma pequena homenagem na obra, quando uma ilustração do segundo e terceiro filme da franquia é vista em cena), a única coisa que fica na minha mente é o medo de ficar sozinho em casa e passar a ver/ouvir coisas. Com a minha sorte, a minha alma penada da chateação vai gostar de cantar Latino ou Belo. Isso sim é assustador.

Assista ao trailer:

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Nota:[tresemeia]