Resenha: O perfume da folha de chá – Dinah Jefferies

Se você gosta de um romance que retrate o passado, fale de história e envolve um mistério familiar, pode colocar o livro “O perfume da folha de chá” na sua lista de leitura. Dinah Jefferies soube mostrar muito bem o momento histórico da Europa e do Ceilão das décadas de 1920 e 1930, explorando os contrates culturais, sociais e ambientais.

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Rico em detalhes, a obra possui um ritmo mais lento de leitura, pois tem passagens muito descritivas. As paisagens, o clima, as sensações, tudo isso ganha destaque na narrativa. Pode parecer maçante, mas é necessário para ilustrar o choque que foi para a protagonista Gwen, uma escocesa de 19 anos, se mudar para o Ceilão, atual Sri Lanka. Além disso, ela mudou de país para viver ao lado do seu marido, Laurence, dono de uma fazenda de chá, misterioso e mais velho.

Mesmo sendo um livro que fale sobre amor, “O perfume da folha de chá” vai além do romance entre Laurence e Gwen. Retrata também as tensões políticas entre a Europa e Ceilão, a revolta das etnias que existiam no Oriente e questões trabalhistas. “Essa coisa de açoitar um homem por qualquer motivo ficou no passado, e, se o senhor acha que não, deveria se envergonhar”. Frase de Gwen ao lidar com um açoitamento do senhorio da casa, McGregor.

Outro ponto forte do livro é que Dinah poderia ter feito uma mulher frágil e que estaria acuada diante de tantas mudanças na vida, mas não. Gwen é uma personagem questionadora, que sempre quer estar por dentro da política do Ceilão, dos negócios da família, que busca uma ocupação que ultrapassa as atividades domésticas. Claro, nada que seja tão revolucionário, mas percebemos o cuidado da autora em mostrar uma mulher com mais voz e atitude. “Eu acredito que devo tratar os outros de forma justa e gentil, qualquer que seja a cor da pele”.

Aliás, as personagens femininas foram bem construídas, se levarmos em consideração o período em que a história se passa. Verity, irmã de Laurence, não queria se casar. Até arranjou um marido, mas se separou. Cristina, a antagonista, era uma banqueira e independente. Fran, prima de Gwen, também estava sempre à frente do seu tempo, se vestindo como bem entendia e mostrando não ligar para as convenções da época.

Personagens e fatos históricos reais também fazem parte da trama. O naufrágio do Titanic, a presença de Ghandi no Ceilão, o auge da carreira da autora Agatha Christie, o início da publicidade como negócio. “Escreve o que estou dizendo, querida, esse é o futuro. A publicidade está decolando nos Estados Unidos. Você viu a revista, não?”.

Tudo isso ampara a trama principal do livro: o mistério que envolve o passado de Laurence e o presente de Gwen. Sim, os dois escondem fatos relevantes na história. O que posso adiantar é que o de Laurence envolve a morte da esposa e o de Gwen o nascimento dos seus filhos.

Apesar do mistério ser um tanto pequeno frente ao drama e carga emocional que a autora imprime na narrativa, ao final do livro, podemos concluir que todos os problemas, seja o do casal, seja dos trabalhadores, acontecem pela falta de comunicação. Sem diálogo, as situações que seriam simples, se tornam complexas e até irreversíveis.

“O perfume da folha de chá” é um livro que encanta pelo apreço e fidelidade aos fatos históricos, mas que deixa a desejar pelas reviravoltas e mistérios. Ainda assim, é uma leitura que vale a pena.

Ah, um adendo: a nota da autora é uma ótima forma de tirar algumas dúvidas que envolvem o mistério da trama. Não pule! 😉

Ficha Técnica:

Título original: THE TEA PLANTER’S WIFE
Tradução: Alexandre Boide
Capa: L Motley
Páginas: 432
Lançamento: 03/01/2017
ISBN: 9788584390465
Selo: Paralela

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