Review: Jessica Jones s01e01 – “Ladies Night”

O Cinema de Buteco aproveita a estreia de Jessica Jones no Netflix e preparou uma maratona especial com análises da temporada inteira. Confira a partir de agora:

Review Jessica Jones I've Got the Blues
Jessica Jones (Krysten Ritter) observa Luke Cage (Mike Colter) numa noite tórrida de amor e quando eles finalmente se encontram, óbvio, eles “não flertam” e simplesmente fazem o que tem que ser feito. Na sequência que mostra a transa do casal, segue um breve exemplo do tipo de diálogo que provavelmente acompanharemos bastante ao longo dos 13 episódios da primeira temporada da nova parceria da Marvel com o Netflix:

– Você não precisa se preocupar. Eu não vou quebrar. 
– Vai sim. 

Essa é Jessica Jones. Uma série protagonizada pela primeira personagem feminina realmente poderosa e independente do universo Marvel e que, assim como a sensacional temporada de estreia de Demolidor, parte por rumos completamente diferentes do material exibido nos cinemas. O humor está presente, claro, mas a tônica dessas obras se permite ser mais adulta e sombria. Pode não atender às expectativas de um  público mais desmiolado, mas para os telespectadores ávidos por produções Marvel com mais sustância é uma excelente pedida.

Criada em 2001 para uma série mais voltada para o público adulto da Marvel, a personagem sempre foi uma coadjuvante de luxo participando de histórias dos Vingadores, Capitão América, Homem-Aranha, Homem-Formiga etc. Quando era adolescente, um acidente resultou na morte de sua família e lhe rendeu poderes como super força, voo e resistância. Seu inimigo na série, o Kilgrave, é conhecido nos quadrinhos como o Homem-Púrpura e é um dos adversários do Demolidor.

Jessica Jones é uma série diferenciada porque além de mostrar uma faceta mais sombria do universo Marvel tem uma mulher como protagonista. E não se trata de uma garota indefesa ou super poderosa: Jessica é uma garota que sofreu horrores na mão de um homem manipulador e suas experiências nessa relação a deixaram traumatizadas com tudo ao seu respeito. Jessica se sente perdida e precisa recorrer ao sexo casual e bebidas para acordar todos os dias. O segundo personagem  mais importante da série é um negro, Luke Cage, o que é ótimo para mostrar que o mundo dos heróis não é exclusividade dos loiros bombadinhos dos Vingadores. Ou seja, Jessica Jones atende a uma necessidade do momento e faz isso com qualidade. Acima de tudo, deixa claro que estamos assistindo a uma série com pessoas com defeitos e qualidades comuns a qualquer outra.

Nesse primeiro contato da personagem com o público temos poucos detalhes. Descobrimos que ela sofreu algum tipo de trauma no passado e que tem medo de Kilgrave (David Tennant). Mais do que representar uma ameaça contra todos, Kilgrave também é uma alusão aos relacionamentos abusivos a que várias mulheres se submetem. A série mostra as consequências dessas relações no psicológico de uma pessoa.Solitária e depressiva, apela para o álcool como forma de se manter funcional. O sexo casual também faz parte das suas necessidades para ficar estável, como podemos perceber. Jessica também demonstra uma certa arrogância como detetive particular (ao mesmo tempo que sentimos um pouco do desprezo que ela parece sentir por fazer algo trivial). Com todas essas características pessoais, já temos mais do que  a Viúva Negra (Scarlett Johansson) mostrou nas produções Marvel.

“Ladies Night” é eficiente ao mostrar que Ritter é uma escolha acertada para a personagem e que definitivamente teremos um produto Marvel bem diferente de tudo que nos acostumamos até o momento. E isso é ótimo. A trama do episódio contextualiza o telespectador com o mínimo de informações (é o suficiente para criar um perfil da heroína e garantir nossa curiosidade para o que vem por aí), além de introduzir sabiamente a ameaça do vilão. Kilgrave não aparece efetivamente, mas assombra Jessica durante seus sonhos e ao manipular cruelmente a jovem inocente Hope, que provavelmente descobriu o que Anastasia Steele,de 50 Tons de Cinza, nunca aprenderia sobre BDSM com o sr. Christian Grey.

Ao ter a certeza que Kilgrave retornou, a primeira reação de Jessica é querer fugir para bem longe. Ao longo da narrativa, ela muda de ideia para escapar apenas depois de resgatar Hope das garras do vilão. Ela consegue fazer isso e ao se preparar para ir embora tem aquele momento de grande choque e a chance de decidir fugir ou tomar alguma atitude, o que encaixa Jessica como uma heroína perdida e em busca de sua paz e de fazer a coisa certa.

Bela estreia.