As Palavras

 

AS PALAVRAS É UM FILME PARA QUEM GOSTA DE HISTÓRIAS ENVOLVENDO ESCRITORES. Sem oferecer nenhum outro atrativo (exceto se você for apaixonado (a) pelo Bradley Cooper), o longa-metragem é um divertido passatempo com um drama que poderia ser um convite para a reflexão se não fosse os diálogos bobinhos e previsíveis.

Cooper interpreta um escritor que ouviu não demais ao longo de sua carreira. Sua sorte começa a mudar depois que ele encontra um manuscrito perdido e resolve publicar como se fosse seu. O sucesso bate na porta e parecia que ele viveria o sonho norte-americano, só que o verdadeiro autor do texto resolve aparecer para tirar satisfação.

A trama pode lembrar um pouco a ideia de A Janela Secreta (aquele com Johnny Depp), mas as semelhanças param por aí. O verdadeiro autor (Jeremy Irons) não parece fazer tanta questão de destruir a vida de Cooper. Na verdade, parece que o sujeito queria apenas conversar com o babaca que roubou a história de sua vida e ficou famoso. E aí que repousa o problema principal de As Palavras: nós assistimos a um filme que começa dando pistas de que será um thriller de chantagem, mas logo se revela um drama. Um drama parado em que absolutamente nada acontece e cujos personagens não parecem realmente estar sentindo aquilo que está acontecendo ao seu redor. Em momento algum o “ladrão” parece sentir culpa e quando isso acontece chega a ser patético.  


Eu acredito em coincidências, só que aceitar a maneira como tudo se desenvolve na trama é pedir demais. Quais as chances de um manuscrito ficar perdido dentro de uma mala durante anos sem ninguém nunca ter mexido ou lido? Mesmo para um país europeu, acredito ser praticamente impossível. Talvez seja a tal da suspensão da descrença que tanta gente costuma mencionar para aceitarmos argumentos de certos filmes. Só que isso estraga a premissa de um escritor fracassado que não consegue ser publicado e acaba cedendo para sua própria ambição quando a mulher “acidentalmente” lê o manuscrito acreditando se tratar de um “filho” do marido. O dilema de contar a verdade ou manter a esposa feliz é algo curioso. Quem nunca passou por situações assim? Cooper é fraco e simplesmente se deixa levar. Só que o sujeito é tão acéfalo que nem mesmo se preocupa em trocar a droga do título para o caso do escritor verdadeiro estar perdido por aí.

Fora a atuação de Cooper e Irons, também se destaca a participação de Zoe Saldana, que vive a esposa. Dennis Quaid tem um papel importante em uma terceira linha temporal do filme (além da história da juventude de Irons, temos também a parte com Cooper interpretando a versão mais jovem de Quaid) e precisa lidar com a sensualidade de uma estudante decidida a transar com ele. E justamente é esse o pior dos defeitos de As Palavras: o cara estava solteiro e mesmo assim rejeitou a Olivia Wilde. Só mesmo um plagiador para arrumar uma dessas mesmo.

As Palavras é agradável – se é que podemos dizer isso sobre um filme sobre um homem fracassado e que é uma fraude. Existem bons momentos, especialmente se você for um escritor e compreenda como é difícil lidar com bloqueios e rejeições de editores. Embora deixe muito a desejar se tratando de cinema, é um daqueles exemplos de filmes que você pode sentar para assistir e relaxar. Claro que demandará um pouco de trabalho mental, mas nada que seja impossível de se fazer depois de uma longa jornada de trabalho.


Nota:[duas]