Assalto ao Banco Central

O Cinema de Buteco recomenda: Leia a crítica de Tainã Senna.

O MAIS TRISTE DE ASSALTO AO BANCO CENTRAL foi perceber que abri mão de continuar assistindo aos filmes de uma certa lista que criei para corrigir alguns defeitos de formação cinematográfica. Claro que a companhia fez toda a diferença do mundo e seria impossível me arrepender de passar um dia ao lado de alguém que te faz sorrir, mesmo quando você a arrasta para assistir um dos filmes mais caricatos do cinema nacional. Mas podia ser pior. Poderia ter convidado a minha amiga especial para assistir Padre. Oh, espere… eu também fiz isso!

As atuações deixam a desejar em todos os momentos, em todas as cenas, em todas as intenções, em todos os pensamentos, em todo frame, em toda e qualquer chance de pensar em atuação. Adoro o Gero Camilo, que está completamente desperdiçado; Milhem Cortaz segura bem a onda, mas a verdade é que Assalto ao Banco Central não passa de uma tentativa do cinema nacional de repetir o fenômeno Tropa de Elite. O pior é que o filme nem se dá ao esforço de tentar disfarçar isso. Pelo menos ele também é cara de pau de utilizar outras referências, como Um Plano Perfeito, de Spike Lee, e Os Suspeitos, de Brian De Palma.

A personagem feminina se revela uma verdadeira puta desde o momento pós-coito. Os olhares e insinuações constantes para cima de outros homens, revelam o caráter duvidoso da mulher. A atriz não tem uma atuação tão inspirada e se apoia na generosa genética para conseguir seduzir e convencer o público. Eu mesmo gostaria de levar um golpe dela, por que não? Hermila Guedes é uma das poucas coisas que valem a pena no filme, que coloca no cinema a história de um dos roubos mais mirabolantes e bem bolados de todos os tempos. Poderia ter rendido um excelente thriller, mas não. Nas mãos de Marcos Paulo virou apenas uma grande novela de ação, traição e com um humor digno dos piores momentos do Casseta e Planeta (se nem os melhores salvam, imagine só…) com várias sacadas batidas, previsíveis e completamente descartáveis.

Mas acontece que o público normal, a maioria que consome cinema, acaba engolindo a história e se divertindo com os clichês e as piadas sem graça que dominam por 90% das tentativas de soarem engraçados. Um sábio filme oferecia o quote de que “a ignorância era uma benção”, e não existe forma melhor de explicar o sucesso dessa produção no país. Seriam as piadas preconceituosas que muitos se deliciam? Ou seria aquele clima de que estão acompanhando um filme que faz pose de inteligente e que não é nada do que deveria? Isso não faz a menor diferença no final das contas, pois a graça de ir ao cinema é justamente ver as mais diversas reações e agradecer por conseguir ficar na linha tênue entre o que é ridículo e aquilo que não é. Não sei se a ignorância é uma benção realmente, mas poder ter consciência de quando escolher abraçar o ridículo, com certeza é. Nunca tive nada contra a maioria das piadas que costumam assombrar as redes sociais e todo mundo faz questão de levantar o dedo e dizer que é desrespeito, preconceito e tudo isso. Defendo que toda piada é justa e vale a pena, desde que seja inteligente ou oportuna. As pessoas se levam a sério demais e isso é um grande problema. Mas no caso da piada de Assalto ao Banco Central, e não falo da piada que é o filme, é que tentam obrigar o público a rir da personagem de Giulia Gam, que é gay, e das reações de Lima Duarte quando descobre a sexualidade da parceira. Porra. Ajuda aí, né?  Chega a ser constrangedora a tentativa de fazer graça. Tanto ou mais do que os lobos de Amanhecer – Parte 1 discutindo.

Para quem espera encontrar em Assalto ao Banco Central um substituto de Tropa de Elite: cuidado! Você poderá ter uma dor de barriga permanente, causada pela indigestão de um dos piores filmes já produzidos no cinema nacional nos últimos anos. Claro que tudo isso, e todo o público que compareceu em peso nos cinemas, ajudou em muito na confirmação de que em breve teremos uma sequência. Estou ansioso para pedir para a Tainã Senna escrever sobre o segundo filme. Que tal?