Crítica: X-Men: Apocalypse (2016)

X-Men Apocalipse PosterO Cinema de Buteco adverte: o texto a seguir possui spoilers e deverá ser apreciado com moderação.

2016 está sendo o ano com as maiores responsabilidades para as grandes franquias de super-heróis do cinema. A Warner teve a responsabilidade de trazer a Santa Trindade da DC Comics para a tela grande, a Marvel a de adaptar o maior embate de superseres da editora e de ainda provar que consegue fazer um trabalho melhor com o Homem-Aranha do que a Sony, e a Fox de adaptar uma das principais sagas dos X-men e dar continuidade à franquia depois do reboot de Dias de um Futuro Esquecido. A Warner acertou bem pelas beiradas (para muita gente inclusive ela falhou miseravelmente); a Marvel acertou em cheio mas sem mostrar nada que já não tenhamos visto em seus filmes anteriores; e a Fox é a única que realmente surpreendeu até agora com Apocalypse, um longa que consegue trazer tudo de prazeroso que gostamos em filmes de super-heróis.

A trama se passa em 1983, 10 anos depois dos eventos ocorridos em Dias de um Futuro Esquecido. Mística se tornou uma heroína nacional e um símbolo de luta e resistência dos mutantes; Magneto está foragido na Polônia (sua terra-natal); o Instituto Xavier está começando a se tornar a grande escola de mutantes com a qual estamos familiarizados, e os mutantes estão vivendo um período de relativa aceitação (pelo menos em algumas partes do mundo). É nesse cenário um tanto quanto otimista que En Sabah Nur, o mutante mais antigo e mais poderoso do mundo é despertado e dá continuidade a seu plano de construir um mundo melhor onde só os fortes sobreviverão.

O filme é bastante 8 ou 80: os acertos são incríveis, enquanto que os erros são bem decepcionantes. Um dos acertos (que inclusive ajuda a não se notar tanto os erros) é conseguir manter o clima de entretenimento durante todo o filme. Não existe uma cena que você pense: “Por favor, acaba logo!” (talvez uma mas falarei dela mais à frente), e isso faz com que suas 2 horas e 27 minutos passem tranquilamente, podendo parecer até mesmo pouco tempo.

Outro ótimo acerto é a Fox finalmente abraçar a canastrice que sempre permeou a maior parte dos filmes da franquia e que começou a encontrar um ponto de equilíbrio em Primeira Classe. Tudo é bem cafona e exagerado, mas em uma época em que os filmes de super-heróis ou são sérios e sóbrios demais, ou zoeiros e descolados demais, é refrescante assistir a um que não tente se encaixar em nenhum desses padrões e que se preocupe simplesmente em entreter o público. E sejamos sinceros: um pouco de cafonice não faz mal a ninguém, pelo contrário; se você conseguir se divertir com ela sem a levar a sério sua experiência será muito mais interessante. Talvez tenha sido algo que foi evidenciado nesse filme pelo fato dele se passar nos anos 80, mas tomara que eles continuem adotando essa postura nos próximos filmes (eu pessoalmente iria adorar ver mais cenas como a do fierce walk da Jean ou que mantivessem os uniformes coloridos e nada discretos).

Mas se nada mencionado antes tivesse funcionado, o filme ainda teria valido a pena pelas geniosas cenas de humor. Além de conseguirem o feito extraordinário de criarem uma cena para o Mercúrio ainda mais engraçada que a de Dias de um Futuro Esquecido (com direito a “Sweet Dreams” da banda Eurythmics como trilha), ainda fomos presenteados com a melhor piada interna dos últimos tempos (melhor até mesmo do que qualquer uma que vimos em Deadpool), quando os jovens Cyclope, Jean, Noturno e Jubileu dão uma escapada do Instituto para assistir O Retorno de Jedi e a discussão sobre qual dos filmes da franquia é o melhor se torna uma alegoria para descrever os próprios filmes dos X-Men, com Jean ainda soltando: “Bom, pelo menos todos podemos concordar que o terceiro é sempre o pior.” (nós vimos o que você fez Bryan Singer).

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As decepções mencionadas acima se encontram basicamente nas duvidosas escolhas do roteiro de Simon Kinberg. Apocalypse é o mais poderoso de todos os mutantes, e para concluir seu plano logicamente ele deveria se unir a aliados cujo nível de poder seja ao menos parecido, não é? Então porque diabos ele escolhe Psylocke que, apesar ser uma ótima personagem nos quadrinhos, tem habilidades bem medianas como sua cavaleira? Além de também depositar tanta confiança no Anjo que, diferentemente do personagem crucial da história original, não faz nada nesse filme a não ser bater suas asas estilosas. Simplesmente não faz sentido (a performance de Oscar Isaac é bem interessante, mas não dá pra levar o personagem a sério com uma estratégia dessas, ainda mais com o visual que todos compararam ao vilão Ivan Oooze, dos Power Rangers). Falando em Psylocke, eu espero sinceramente que ela e Tempestade tenham um desenvolvimento maior nos próximos filmes, pois apesar dos visuais incríveis (o uniforme da Psylocke é impecavelmente igual ao original e o moicano de Tempestade dispensa comentários), não pudemos ver muito delas, e isso é ruim especialmente tratando-se de Tempestade, que é uma das personagens mais importantes nos quadrinhos e nos filmes não foi mais que uma coadjuvante. E ainda falando de desenvolvimento de personagens: por que tirar a característica do Fera que o torna mais especial? Qual é, Nicholas Hoult? A maquiagem nem é tão complicada assim…

Mas o que mais incomoda no roteiro acontece em uma das melhores cenas do filme, quando os X-Men são capturados por William Stryker e, durante a fuga, dão de cara com o famigerado Wolverine, que havia acabado de ser transformado em Arma X e, quando é libertado, começa a matar todos a sua frente. Para acalmá-lo, Jean traz de volta uma de suas memórias, e os dois claramente criam uma conexão naquele momento, e quem está assistindo toda a cena? Cyclope! Primeiro: eles tinham a oportunidade de ouro de finalmente conseguir desenvolver o casal Cyclope & Jean de forma decente no cinema e simplesmente a jogam foram já estabelecendo o triângulo amoroso que ninguém aguenta mais. Segundo: A Jean é uma adolescente, pelo amor de Deus! Já tentar colocá-la como interesse amoroso do Wolverine é um tanto problemático, não acham?

Os furos de roteiro e os problemas de adaptação ainda estão lá, como também a questão de se tentar trazer importância demais para personagens que não dão conta de sustentá-la (Jennifer Lawrence só desfilou em um look oitentista bacana e soltou algumas frases de efeito pomposas nesse filme, nada mais), e são problemas que não irão ser resolvidos tão cedo, então o melhor a fazer é simplesmente curtir os filmes da franquia e tentar se divertir assistindo, o que não é muito difícil pois eles estão cada vez mais legais, resta aceitar.

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P.S: Eu espero sinceramente que aproveitem mais a Jubileu no futuro. Seria um sonho realizado vê-la soltando aqueles fogos de artifício inúteis pelas mãos, e eu sei que não sou o único que sentiu falta disso no filme, ainda mais com aquele visual tão fiel ao original (aqueles óculos cor-de-rosa e aquela jaqueta amarela…).