Sentimento de Culpa

Você se preocupa com o seu próximo? Qual o tipo de relação que você tem com seus visinhos idosos? Você se importa com os outros ou só consigo mesmo? O retorno de Nicole Holofcener as telonas não poderia ter sido melhor, e trás todos estes questionamentos à tona. Com um forte e atual apelo de reflexão, uma ótima inserção no mundo cotidiano e um humor negro na medida certa, Sentimento de Culpa acerta em cheio seu público alvo e com menos de uma hora e vinte nos faz refletir sobre todos os nossos atos.

O filme que começa com a ótima canção ”No Shoes” mostra logo que a intenção é falar da culpa e de seus adeptos, porém passa longe do estilo “10 passos para ser uma pessoa melhor”, muito pelo contrário, não existe tendênciamento no discurso. A diretora se propõe a fazer o que uma película faz de melhor: retratar a realidade o mais próximo possível e não oferecer nenhuma solução para os problemas diagnosticados. Porém, quem sabe, o choque de nos identificarmos com os personagens nos faça colocar na balança algumas coisas que eles também levam a história toda se questionando.


Sentimento de Culpa relata a história de um típico casal bondoso nova-iorquino, coisa que dizem ser muito escassa hoje em dia, Kate e Alex. Kate carrega sobre si a culpa do negócio que a família gerencia: compram móveis de gente morta a preço de banana e vendem como se fosse víntage. Já o marido sente culpa pelo desgaste do romance entre os dois. Junte os dois a uma filha adolescente se tornando o pior pesadelo de Kate uma pessoa insensível e sem coração.

Ao lado da família estão às vizinhas Rebecca e Mary que cuidam da avó ranzinza e mal-agradecida, Andra (extremamente engraçada, diga-se de passagem). A forma das irmãs encararem a situação é completamente diferente. Rebecca praticamente abdica de sua vida para cuidar da avó, que acreditem, resmunga o tempo todo. Já Mary, egoísta e super auto-centrada, não vê a hora da velha morrer para livrarem-se desse estorvo nas suas vidas. Quando esses vizinhos começam a se comparar e interagir uns com os outros, suas questões começam a tomar uma perspectiva muito maior.

O filme é a volta de Rebecca Hall que fez o ótimo Vicky Cristina Barcelona, aliada a todo o humor negro de Oliver Platt e a uma Amanda Peet que está completamente diferente no filme. Aos que estão acostumados ver a atriz bancando a mocinha, preparem-se para ver uma Amanda Peet mais “Bitch”, mais pragmática e mais insensível do que nunca. Devo confessar que na teoria a personagem funciona muito mais. Amanda não encarna toda a diversão que a personagem deveria ter, não sei se por falta de talento, ou se a propósito, para tornar-la mais real.


Adicione a esses atores uma Catherine Keener em uma de suas melhores performances. A atriz dá um banho na pele da altruísta Kate, que carrega um gigantesco fardo de culpa nas costas, se pudesse a personagem levava todas mazelas da humanidade para casa para cuidar. Sentimento de Culpa não é tão bom quanto Mulheres com Dinheiro o último filme em que a atriz trabalhou com Nicole, exatamente pela falta da incrível dinâmica com Frances McDormand, mas ainda assim é uma ótima performance de Catherine.

O filme estreou este final de semana na 34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e é realmente uma ótima opção para os que gostam das dramédias, muito em alta ultimamente. Sentimento de Culpa é um toque nos corações mais insensíveis e uma pulga atrás da orelha de todas aquelas pessoas muito caridosas. Até que ponto estamos sendo bons, ajudando as outras pessoas? De qual culpa você está tentando se aliviar praticando esses atos?


Nome Original: Please Give

Direção e Roteiro: Nicole Holofcener

Elenco: Catherine Keener
Rebecca Hall
Olive Platt
Amanda Peet
Ann Guilbert

Ano: 2010

Duração: 1 hora e 27 min.