Alex Gonçalves e os filmes assistidos em maio

O Alex Gonçalves, do Cine Resenhas, está aqui para compartilhar com a gente todos os filmes assistidos no mês de maio.

marcas do passado filmes assistidos em maio

167 – Marcas do Passado: revelada ao mundo com A Teta Assustada, a peruana Claudia Llosa não dá conta de seu primeiro filme falado em inglês, voltado a um misticismo e a conflitos fajutos. Triste os rumos da carreira da bela Jennifer Connelly, há uns 10 anos sem ver o seu nome creditado em um bom longa.

168 – Every Secret Thing: há anos nas mãos da experiente roteirista Nicole Holofcener, esse thriller se transformou em uma bagunça com a escolha da documentarista Amy Berg em conduzi-lo. Cheio de personagens caricatos, há ainda o incômodo provocado pela escuridão da fotografia de Rob Hardy.

169 – Tina: a Tina Turner mostrada nesta cinebiografia é compreendida como uma mulher inteiramente associada a um passado de violência talvez desconhecido para os seus fãs. Por vezes esquemático, a realização de Brian Gibson ganha sopro de vida graças ao indefectível empenho de Angela Bassett.

170 – The Family Fang: antes um romance de humor negro por vezes implacável. Agora, um drama original na sua concepção do que é uma família disfuncional, rendendo evolução como ator e diretor ao simpático Jason Bateman.

171 – Minha Mãe é uma Peça – O Filme: reclama-se excessivamente sobre a precariedade da comédia brasileira, que geralmente recicla narrativas televisivas e internacionais já exaustivas. Mas há exceções e Paulo Gustavo é brilhante ao construir uma Dona Hermínia que contém um pouco de cada uma das mães da classe média.

172 – Midnight Special: Jeff Nichols faz uma junção do elemento fantástico de O Abrigo com a ausência de dados do passado de um protagonista presente em Amor Bandido para criar uma ficção científica quase indigesta e incapaz de mostrar a que veio.

173 – Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil: um olhar estrangeiro para o público brasileiro enfim perceber a riqueza que há em sua diversidade de credos. Desde já um dos melhores documentários do ano.

174 – Gritos e Sussurros: em apenas um ambiente durante uma hora e meia, Ingmar Bergman promove uma observação existencialista do feminino a partir de quatro faces que comportam anseios e repressões distintos com o escarlate da morte sempre a espreita.

175 – Ralé: Helena Ignez parece desejar ir além do cinema deixado como herança pelo seu marido, vislumbrando alguma placidez em meio aquilo que outrora era determinado como marginal. Faltou estabelecer a conexão com uma audiência que só verá um “universo artístico” incapaz de olhar para algo além do próprio umbigo.

176 – Alice Através do Espelho: sem o que fazer após o original se apropriar de todo o texto de Lewis Carroll, restou a continuação ter como base um argumento original, que funciona somente no apuro estético e no passado que imagina para a relação tumultuosa entre a Rainha Branca e a Rainha Vermelha.

177 – Demon: uma produção polonesa que chega ao circuito já envolta em uma aura macabra originada do suicídio de seu cineasta, mas que na prática não funciona em sua junção de horror e humor para mapear uma geração que insiste em deixar os seus esqueletos a sete palmos.

178 – O Ódio: Mathieu Kassovitz parece evocar a filosofia por trás do Scarface de Brian De Palma, com figuras à margem da sociedade que perseguem a posição de reis do mundo. Virou cult, ainda que possa soar para alguns como uma visão superestimada da França longe de cartões-postais mascarando a sordidez da realidade.

179 – A Troca (ou Intermediário do Diabo): única realização expressiva do húngaro Peter Medak como diretor de cinema, essa tradicional história de casarão mal-assombrado tem como maior pecado a antecipação de seu mistério.

180 – X-Men: Apocalipse: após um capítulo que funcionou mais como um corretivo para os problemas da franquia, Bryan Singer dá novo ânimo a velhos personagens com destinos agora em branco. Pena que tudo gire em torno de um vilão boboca, que parece saído de um episódio ruim de Power Rangers.

181 – The Beach Boys: Uma História de Sucesso: novamente a velha armadilha das cinebiografias em cobrir uma vida a partir de duas linhas do tempo que quase se anulam entre si. Ao menos a história de Brian Wilson é forte o suficiente para sustentar o filme, bem como as interpretações, especialmente a de Elizabeth Banks.

Love & Mercy Beach Boys
182 – Hedwig: Rock, Amor e Traição: estreia surpreendente de John Cameron Mitchell, bem-humorado, dramático e colorido sem descambar para a pura extravagância. Destaque especial para as músicas, que asseguraram a extensão do personagem para os palcos da Broadway.

183 – Best Bond Ever: especial para a tevê apresentado por Roger Moore em que o melhor da franquia 007 é comentado por realizadores, intérpretes e membros da equipe técnica. Vale pelo acesso a arquivos raros.

184 – Uma Loucura de Mulher: mesmo sendo apresentado ao público em um timing perfeito – a personagem de Mariana Ximenes guarda semelhanças com a nossa primeira-dama bela, recatada e do lar -, é mais um caso de nacional com o prazo de validade já vencido.

185 – São Paulo em Hi-Fi: documentário saboroso sobre a vida noturna da comunidade LGBT paulistana, que celebrava a sua liberdade inclusive nos ferrenhos tempos da ditadura militar. Uma “cena” que infelizmente não encontraria meios de sobreviver na caretice dos dias de hoje.

186 – Somos o que Somos: o canibalismo aqui é associado a uma luta sem fim entre classes sociais, com os menos favorecidos devorando o que resta ao seu nicho. As tradições por trás disso são mal ajambradas pelo roteiro, que ganhou nova vida no remake infinitamente superior conduzido por Jim Mickle.

187 – A Garota do Livro: a estreante Marya Cohn busca o caminho da contenção ao acompanhar uma personagem severamente marcada por uma relação juvenil talvez não consentida, limando com essa escolha (e o convencionalismo que ela carrega) qualquer oportunidade de uma discussão mais acalorada sobre a posição sufocante na qual uma mulher é mantida diante do desejo em se manifestar.

188 – Mothers and Daughters: a produção consegue reunir Sharon Stone, Mira Sorvino, Susan Sarandon, Christina Ricci e outras atrizes em seu elenco e a única coisa capaz de fazer é entregar uma homenagem maternal amadora em que elas interagem através de computadores e smartphones. Por favor!

189 – Ele Está de Volta: há quem aproveite a liberdade em usar o politicamente incorreto para produzir um humor desconcertante que radiografa perfeitamente a hipocrisia de nossa contemporaneidade e os indivíduos que nela habitam. É o que acontece aqui, embora a mistura de estéticas (ora é ficção com soco no estômago, ora é mockumentary à lá Borat) possa causar exaustão no curso de alguns acontecimentos.

190 – A Lição: exploração excepcional de personagem, com uma câmera sempre concentrada na maravilhosa Margita Gosheva e em seu afinco em jamais fraquejar no abismo cada vez mais profundo que sua Nade mergulha. Faça um favor a você mesmo e descubra essa preciosidade.

191 – Amores Brutos: vencedor de duas estatuetas do Oscar consecutivas, hoje muitos torcem o nariz para Alejandro González Iñárritu. Digno ou não de tantos louros, não se pode negar as suas raízes tempestuosas, conferindo em seu debute um interesse muito mais além do acaso em vidas que se cruzam.

192 – Preso na Escuridão: ainda que seja o filme que tenha revelado Alejandro Amenábar ao mundo, soa como se tivesse dois roteiros muito distintos. De qualquer modo, é muito mais eficaz e visceral que o show de narcisismo de Tom Cruise em Vanilla Sky.

193 – O Vício: Abel Ferrara parece se contentar com o universo particular de sua protagonista de discursos filosóficos por vezes baratos sobre a finitude humana e o descontrole de nossos instintos. É certeiro ao mesclá-los com o tradicionalismo dos filmes de vampiro, com toda a violência e apuro estético pelos quais os melhores exemplares são reconhecidos.

194 – Crepúsculo do Caos: há belas transgressões provocadas por Derek Jarman, mas seu experimento se confunde a todo o momento com a vídeoarte, com toda a sua colagem de imagens e uso de filtros de cores.

195 – Boy Meets Girl: o sucesso de Holy Motors reascendeu o interesse pelo cinema de Leos Carax, o que incluiu a exibição em circuito comercial de Boy Meets Girl há dois anos, obra então inédito em nosso país. Pena que a sua estreia na direção seja frustrante, em uma narrativa totalmente desprovida de ritmo e coerência emocional.

196 – Jogo do Dinheiro: quarto longa dirigido por Jodie Foster, é também o seu melhor momento atrás das câmeras, captando muito bem o sensacionalismo e instantaneidade por trás do jornalismo praticado hoje e a vida privilegiada obtida por alguns figurões em detrimento da desgraça de vidas anônimas.

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