The Dark Knight: Por John Pereira

Mais de 24 horas da estréia e ninguém se atreveu a postar algo sobre o filme? Peço o perdão de todos e, principalmente, peço novas resenhas, mas eu postei essa “resenha” abaixo no meu blog e fui obrigado pela Dri a postar aqui também. Não que isso não estivesse nos meus planos, mas queria dar a honra a alguém de começar…

Hoje estive, por pouco mais de 150 minutos, na companhia de um dos melhores filmes que eu já vi na vida. E digo mais, este é o melhor “filme de super-herói” já produzido na história. É clichê começar uma tentativa de resenha desta forma, mas eu não vejo outra forma para me referir a Batman: The Dark Knight (Batman: O Cavaleiro das Trevas). Quer dizer, até vejo, mas aí seria mais clichê ainda, se é que isso é possível.

The Dark Knight começa com uma Gothan City aparentemente mais civilizada, já que a criminalidade temia a presença do Batman (Christian Bale) e a sua aplicação contra o crime. Se aproveitando desta situação, o tenente James Gordon (Gary Oldman) apenas apresentava o já conhecido bat-sinal, o que já era suficiente para que os bandidos deixassem as ruas, já que o herói poderia estar por perto. Além do medo aparente do homem-morcego, havia o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart), que lutava bravamente para colocar atrás das grades os principais mafiosos de Gotham, sem se deixar levar por qualquer tipo de corrupção, algo que ele combatia impiedosamente, inclusive dentro da própria polícia. Obviamente, isto era visto com bons olhos pela população e, mais especificamente, por Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal). População essa que, acometidos de grande inspiração pelas ações de Batman, ocasionalmente se disfarçava de Homem-Morcego em busca da boa e velha “justiça com as próprias mãos”, mas, como já era de se esperar, tudo se resultava em ações sem sucesso.

No meio de uma Gothan aparentemente tranquila, surge um ser estranho, com uma maquiagem de palhaço que tentava esconder suas cicatrizes. Ser que, ao ver uma Gothan nas mãos dos mocinhos, ganha carta branca dos mafiosos para “instalar o caos”.

Assim como em Batman Begins, o primeiro filme da “nova sequência”, Christopher Nolan tenta nos passar uma idéia de que, mesmo que muitos possam pensar nisso como um “devaneio”, ter um Batman ou um Coringa (Heath Ledger) andando pelas ruas de qualquer cidade do mundo não seria algo tão impossível. Enquanto Bruce Wayne (Christian Bale) trabalha ao lado de seu mordomo Alfred (Michael Caine) e do cientista Lucius Fox (Morgan Freeman) em busca do aperfeiçoamento de todos os artefatos utilizados, podemos ver um lado de “construção” do herói, algo que não existia nos filmes de Tim Burton e Joel Schumacher.

Com a chegada do Coringa, Gothan mergulha no caos, instaurado graças ao medo que o ser maquiado causava em toda a população, com suas ações totalmente insanas. O Coringa visto neste filme é um ser sempre ameaçador e com uma risada que, era por si só, um exemplo de toda a crueldade que ele carrega, algo totalmente diferente do Coringa que nos foi apresentado por Jack Nicholson no Batman de Tim Burton, que mesmo bizarro, era algo engraçado. Não que o Coringa de Ledger não nos cause risadas, mas o lado sarcástico deste novo Coringa causa um fascínio incomum, roubando a cena a cada aparição, algo não tão presente no antigo Coringa.

Nos apresentando uma figura de andar torto e cabelos bagunçados, Ledger nos mostra um ser que, além do sarcasmo peculiar, apresentava vários detalhes que servem de exemplos para representar a sua mente perturbada. Detalhes como o fato de nunca focar o olhar no mesmo objeto ou pessoa por um longo período ou então o tique de fazer com que a sua língua percorresse a boca, como se estivesse “conferindo” as suas feridas.

Não dá pra esquecer a cena do Coringa fazendo uma visita a Dent no hospital. O comportamento e, principalmente, o desfecho de sua passagem pelo local, algo triunfante.

Ledger faz com que o Coringa abuse do fato do filme não nos apresentar uma versão definitiva para a origem do vilão. O Coringa é um ser que surge sem nenhum tipo de explicação ou passado, fazendo com que seja difícil entender o que causa uma motivação ao Coringa praticar seus atos, já que claramente ele renega o dinheiro ou poder, talvez dando a entender que o seu objetivo seja unicamente “causar”.

Por outro lado, temos a já conhecida complexidade de Bruce Wayne, que por diversas vezes se via torturado pelas conseqüências de seus atos e lamentando pelo surgimento dos “justiceiros anônimos” e dos vilões, algo que ele sempre creditava a simples existência do Batman. Por várias vezes se vê um Wayne em busca de uma rápida solução para tudo, algo que faça com que ele abandone a máscara e leve a sua vida normal, se é que a vida de Bruce Wayne pode ser considerada normal, com todo o dinheiro, patrimônios e o seu lado “playboy”, o qual não foi tão retratado neste filme como em Batman Begins.

Não dá pra deixar de destacar também o elenco por trás do confronto entre Batman e Coringa. O filme nos apresenta cada um dos personagens “secundários” com suas funções bem exercidas. É bom ver o Alfred se comportando como uma ligação entre o mundo do herói e o mundo real para Bruce Wayne; o tenente Gordon como um homem que sempre luta em busca do bem, mesmo enfrentando a presente corrupção no seu local de trabalho; o grande Lucius Fox que nos dá a impressão de que tudo o que o Batman usa em sua luta contra o crime são coisas simples de se fazer; Rachel Dawes com o seu ímpeto e sua forma destemida de encarar os fatos e Harvey Dent, o cavaleiro branco, que nos mostra com uma intensidade, um homem que sente cada vez mais o peso da pressão enfrentada devido ao seu cargo e a sua postura. Homem que acaba tendo uma trajetória trágica, mas super importante.

The Dark Knight é um filme quase perfeito. Todos os detalhes presentes, a sua produção, imagens incríveis, som maravilhoso e cenários muito bem trabalhados. É incrível ver por exemplo o escritório de Dent todo bagunçado, cheio de pastas jogadas e sem uma cadeira para os “convidados”, deixando evidente o lado trabalhador e obstinado do personagem.

Este é um dos “filmes de super-heróis” mais bem produzidos que eu já pude ver. É um dos filmes onde cada personagem foi bem trabalhado, cada cenário bem utilizado, cada trecho sonoro foi apropriado, cada piada ou tentativa de “ser engraçado” ficou bem encaixada no contexto do filme, como no momento em que Lucius Fox (brilhantemente interpretado por Morgan Freeman), recebe uma ameaça de Reese (Joshua Harto) pedindo dinheiro em troca de seu silêncio sobre a real identidade do Batman.

E por tudo isso, e mesmo sabendo que ainda estamos em julho, estou aqui radiante e batendo palmas por cada um dos 153 minutos que fizeram deste segundo filme da série escrita por Nolan, o melhor “filme de super herói” que eu já vi e, porque não, o melhor filme de 2008, sem sombra de dúvidas.

The Dark Knight [O Cavaleiro das Trevas, 2008]

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan e Jonathan Nolan
Gênero: Ação
Duração: 153 min
Elenco: Christian Bale (Bruce Wayne/Batman), Heath Ledger (Coringa), Aaron Eckhart (Harvey Dent), Michael Caine (Alfred), Gary Oldman (James Gordon), Morgan Freeman (Lucius Fox), Maggie Gyllenhaal (Rachel Dawes), Chin Han (Lau).

Trailer:

Postado também no “Eu, eu mesmo e meus devaneios…”