Eu você e todos nós

(Me and you and everyone we know) De Miranda July. Com Miranda July, John Hawkes, Miles Thompson, Brandom Ratcliff.

Eu você e todos nós é um filme estranho. Vários personagens, cada um estranho a seu modo, e mesmo que não haja nenhum fio condutor que os ligue necessariamente, conseguimos perceber uma conexão entre eles que vai surgindo ao longo da projeção. Ao final percebemos que era essa a intenção da roteirista e diretora Miranda July (que também integra o elenco): mostrar como, cada um daqueles personagens, embora donos de universos particulares, buscam por contato, por aproximações, mesmo que não saibam o caminho certo para se alcançar o outro. O contato virtual, como diz uma das personagens em determinado momento do filme, acabou substituindo o contato real, a troca de fluidos e de experiências físicas, onde a possibilidade de errar e de se ferir é bem maior.



Esse medo de se envolver, de se conectar está evidente a todo momento. Christina é uma artista plástica que cria diálogos românticos para pessoas registradas em fotografias, mas quando está perto da pessoa pela qual se apaixonou não consegue dizer algo que faça sentido. Richard é um vendedor de sapatos, recém divorciado e tenta chamar a atenção de seus filhos para se aproximar deles através de um ato drástico, mas isso pode se dar de uma forma mais simples do que ele imagina (um passeio pelo bairro, por exemplo). Duas amigas adolescentes se sentem pressionadas a se comportar como adultas inclusive sexualmente, e preferem perder a virgindade com um estranho pois assim não haverá problema se vacilarem. Esse “estranho” por sua vez, embora tenha algumas fantasias sexuais que poderiam transformá-lo num pedófilo só busca um pouco de carinho e momentos de companheirismo. A garotinha que prepara seu enxoval desde cedo, comprando aparelhos eletrônicos que serão usados por sua futura família imaginada de acordo com o american dream. E finalmente os dois garotos, filhos de Richard que passam a maior parte do tempo na frente do computador em bate papos de sexo.



Christine na compania de suas criações: ela acha que é a única a estar só, mas está enganada…


Miranda July prefere falar estritamente através das imagens. Além de sequências engraçadas, non sense e emocionantes ao mesmo tempo (como o passeio pela rua Tyronne Street), ela mescla cenas dos personagens entre os diálogos, como se simbolizasse essa ligação que de certa forma todos temos uns com os outros. A rima visual utilizada no fim do filme com o quadro colocado na árvore, nos mostra que as coisas voltaram ao seu lugar, ou pelo menos estão de acordo com o que queria Richard queria ao se separar.

E a sequência final do garotinho que preferiu não se conformar com a explicação que lhe foi dada, e descobre o seu próprio modo de ver as coisas, muito mais poético por assim dizer, não deixa de ser uma mensagem: conformar-se é o modo mais fácil de ser infeliz. Buscar novos meios de ver o mundo, ao invés de se estagnar pode ser uma solução muito mais simples do que se imagina.

2t há havia escrito sobre esse filme aqui no blog (e não é que o cara conhece meu gosto pra filmes?) e faço minhas as recomendações dele! Assistam!