Cold Souls

Cold Souls é um filme intrigante. Em tempos onde falar da alma e do espiritismo está em alta com o centenário de Chico Xavier, a diretora e roteirista oferece uma abordagem bem diferente do tema. Em uma história que pode ser descrita como o encontro entre “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” com “Quero Ser John Malkovich“, Sophie Barthes conta a história de um ator decadente que resolve se livrar do peso de sua alma, mas que acaba se arrependendo depois.
Em um primeiro momento, quando o ator Paul Giamatti resolve abrir mão de sua alma, acabamos lembrando imediatamente da escolha de Jim Carrey e Kate Winslet em “Brilho Eterno”. O personagem Giamatti (o mesmo nome do ator, artificio utilizado em “Quero ser John Malkovich“) se diz cansado e angustiado com quem ele é e acha que “perder” a alma é a sua única chance de ser feliz. Depois dessa experiência, ele acaba percebendo que não pode viver sem uma alma e aluga o espirito de um poeta. A partir daí começam as semelhanças com “Quero ser John Malkovich“.
O comércio de almas se revela ilegal (e um negócio bastante sério na Russia) e a alma de Giamatti acaba sendo roubada por uma aspirante a atriz russa. Ou seja, abrem-se portas para que cada pessoa passe a ter um pouco da vida de outra. Mesmo que isso signifique compartilhar das dores e intensidades de cada alma. Giamatti começa a perceber que permanecer sem a própria alma significaria o fim de sua carreira como ator de teatro e o fim de seu casamento. Curioso notar que a peça de teatro que o personagem participa é um paralelo de sua forma de ver e encarar a vida antes de decidir perder a alma. A peça “Tio Vânia” de Tchecov é sobre o vazio de estar diante uma existência que segue descontrolada. De ter que aceitar que o reflexo do perdedor diante o espelho é o seu próprio reflexo. Cold Souls consegue valorizar a moral da peça em um belo e emocionante filme, embelezado pelas paisagens da lendária São Petersburgo de Dostoiévski.
Não deixe de conferir. Quatro caipirinhas.