Muita Calma Nessa Hora

Se você foi assistir Tropa de Elite 2 e chegou a tempo de conferir o trailer da comédia Muita Calma Nessa Hora, tenha cuidado quando resolver assistir o filme. Infelizmente, o trailer entrega os melhores momentos do longa e acaba estragando a surpresa ou expectativa do público. Porém, não se pode ignorar o poder comercial da produção roteirizada pelo trio responsável pelo elogiado humorístico Cilada (Bruno Mazzeo, João Avelino e Rosana Ferrão). O elenco é lotado de nomes de peso e a direção ficou por conta de Felipe Joffily, que já havia trabalhado com Bruno Mazzeo no seriado Cilada. Agora, se você não viu o trailer, prepare-se para boas risadas. Principalmente se você tiver menos que 25 anos e se amarrar numa comédia escrachada.

O diferencial de Muita Calma Nessa Hora é investir quase que exclusivamente em conquistar o público jovem, carente de produções nacionais. O resultado acaba sendo parecido com American Pie, mas com foco no universo feminino. Aliás, esse universo acaba sendo muito bem representado pelo talento (e beleza) de Fernanda Souza, Andréia Horta, Gianne Albertoni e Débora Lamn. A modelo Ellen Roche faz uma curta participação logo no começo, contracenando com Bruno Mazzeo. Talvez a tal sequência consiga arrancar risadas de um público mais jovem, afinal não é sempre que se inventam formas alternativas de utilização de preservativos.

O filme conta a história das amigas Tita (Andréia Horta), Mari (Gianne Albertoni) e Aninha (Fernanda Souza). Cada uma delas passou por uma história recente de decepção (uma foi traída pelo noivo e a outra acabou sendo assediada pelo chefe) e resolvem afogar as lágrimas em Búzios. No meio do caminho conhecem a hippie Estrella (Débora Lamn), que está em busca do paradeiro do pai desconhecido. Juntas, as quatro descobrem novos amores e aproveitam a vida com tudo que tem direito.

Cada uma das personagens faz referência a um estereotipo conhecido. Estrella é hippie, fala coisas sem sentido (lembram da Phoebe de Friends?) e gosta de incluir versos de canções do Lulu Santos ou da Legião Urbana no final de suas reflexões. Aninha (provavelmente é uma libriana, de tão indecisa que é) é uma sequelada que nunca sabe o que quer. No começo você tem certa preguiça da personagem, mas depois passa a achar graça. Mari é a publicitária descolada, corpo de modelo, super desejada por qualquer homem. E Tita é aquela mulher paranóica que depois de sofrer uma desilusão amorosa, começa a ver defeitos no seu corpo (perfeito). Impossível não gostar de nenhuma das quatro, principalmente depois das cenas em que elas fumam um baseado juntas.

Joffily recria o universo jovem sem apelar para clichês como o primeiro beijo. O romantismo está presente, mas de uma forma que se pode dizer natural. Em momento algum a história começa a se parecer um episódio especial da tele-série global Malhação. O desejo sexual também surge, encarnado no corpo e músculos do surfista Juca (Dudu Azevedo). A única cena de sexo do filme acaba ganhando contornos poéticos nos closes dos rostos e expressões, algo que soa um pouco deslocado do restante do filme. Claro que dá para entender que uma das três amigas em questão está delirando com um orgasmo fora de série, quase como se fosse uma viagem alucinógena, mas a sequência acaba sendo bonita demais em comparação ao restante do longa.

Dentre as diversas participações especiais, vale a pena prestar atenção (e rir) com a breve presença de Marcelo Adnet, como um ricaço aficionado por novas tecnologias. Apesar da cena ser o grande destaque do trailer, o talento do comediante acaba rendendo outras pérolas. Heloísa Périssé aparece como uma vidente charlatã e consegue fazer uma excelente caricatura dessas “mães Dinah” que abordam os turistas nas cidades praieiras. Marcos MionSérgio Malandro e até a turma do Hermes e Renato (que eu só fui reconhecer no final do filme, praticamente) também fazem pontas na produção. Mas quem rouba a cena é a beata Rita (interpretada pela excelente Maria Clara Gueiros). Impossível não se divertir com as caras e comentários espontâneos da personagem, que passa boa parte do filme achando que as personagens são lésbicas em lua de mel.

A trilha sonora é outro ponto que chama bastante a atenção. Contando com nomes como Pitty (que compôs uma canção exclusivamente para o filme), Leoni (cuja música dá o título do filme), Jota Quest e Antônio Julio Nastácia (membro do Tianastácia), ela ficou na responsabilidade de André Moraes (que já havia feito a trilha para O Homem Que Desafiou o Diabo). Eclética até falar chega, a trilha tem até mesmo um hit do Chiclete com Banana (um dos personagens do filme é um grande fã do grupo de axé).

Em um típico filme com clima de férias (com direito a “Tudo Me Faz Lembrar Você“, canção do Jota Quest que tem os versos sampleados de “Sea, sex and sun“, que são reflexo de tudo que Joffily conseguiu mostrar na tela), muitos corpos sarados e aquele estilo casual, bem parecido com os jovens de hoje em dia, Muita Calma Nessa Hora tem seus vários pontos positivos e negativos. Não fosse pelo foco no público que está entrando na vida adulta agora, talvez o resultado pudesse ser bem mais divertido e, mais importante se tratando de uma comédia, mais engraçado. Ele é um filme novo para pessoas novas (mentalmente também).

São três caipirinhas.