Howl


Já tem algum tempo que assisti o excêntrico Howl e desde então tenho digerido a obra (não só o filme, como o livro também) procurando uma forma de retratar a altura o filme, e justificar porque apesar do grande tema, da ótima fotografia e do maravilhoso elenco, ainda assim o filme não conseguiu passar toda poética contida na obra de Allen Ginsberg. A resposta que encontrei foi porque jamais alguém conseguirá reproduzir uma obra com o tamanho impacto que Ginsberg e sua geração tiveram nos Estados Unidos e posteriormente no mundo.

Howl conta a história de Allen Ginsberg em uma linda fotografia preto e branco, retrata o poema “Howl” em uma animação muito original, e ainda narra o julgamento da obra “Howl and Others Poems” em 57. Tudo isso em menos de uma hora e vinte. Creio que aí reside grande parte do problema do filme, que se divide em três histórias diferentes e não foca em nenhuma delas. É claro que a curiosidade do espectador vai voltada para saber mais da obra de Ginsberg, mas acaba se apegando também a sua história de vida, e também atraído pelo julgamento. O espectador acaba se perdendo e não enxergando toda magia contida no filme.
A título de contextualização Allen Ginsberg é um dos autores mais consagrados e interessantes da “Beat Generation”, lá nos anos 50 precursora do que chamamos hoje de “Movimento Underground”. Por isso, para efeito de me situar quem sou hoje e como cheguei a esse ponto, achei essencial a leitura não só de “Howl and Others Poems”, mas principalmente de “On The Road” de Jack Kerouac contemporâneo de Ginsberg. Aí me aparece um filme sobre “Howl” e ainda com James Franco protagonizando, achei seriamente que fosse ser a décima maravilha do cinema, fui com as expectativas altas, e elas não foram atingidas.
O julgamento estrelar que deveria ser o foco principal do filme é injusta e erroneamente ofuscado pelas outras partes do filme. O julgamento conta com pontas de ninguém menos que Mary-Louise Parker, Jeff Daniels, Treat Williams e ainda conseguimos enxergar um ótimo Jon Hamm na pele do advogado de defesa. A animação é outro destaque a parte. Deveriam fazer um curta só com a animação. Os versos saem da ótima entonação de Franco, que em meio a figuras satânicas controladoras de pessoas e sacrificadoras de criancinhas, libera a constatação:

“Moloch whose eyes are a thousand blind windows! / Moloch whose skyscrap-ers stand in the long streets like endless Jehovahs! / Moloch whosefactories dream and croak in the fog! / Moloch whose smokestacks andantennae crown the cities!”

Mas a parte cativante realmente é a história de Allen Ginsberg e seus romances. James Franco incorporando a tímida personalidade do escritor com certeza foi o “must” do filme. As “quedas” do personagem e como ele não sabia demonstrar seus sentimentos a não ser escrevendo… Apesar de ser uma narrativa é preciso convencer também, e franco faz isso muito bem. A cena em que ele se apaixona por Neal Cassady ao som de “Oh, Lady be Good” é uma das mais peculiares do filme. Franco também dá show nas cenas dos recitais e mais ainda nas cenas da entrevista. Como que ele incorpora todos os trejeitos do autor, a forma de falar, de gesticular, as neuroses… Tudo muito perfeito.
De fato Howl poderia ter sido dois ótimos filmes e um incrível curta de animação, o pecado foi querer juntar isso tudo. Apesar da história do autor não ter sido tão prejudicada, podemos enxergar que dali sairia muito mais cenas incríveis. O mesmo podemos dizer do julgamento, que desperdiçou o potencial de ótimos atores. Enfim… Quem sai com pontos do filmes é o James Franco que se já estava na minha lista de “Não Perco um Filme com Esta Pessoa” agora ganhou lugar cativo nela. Howl é cativante, gostoso de ver, mas fica aquela pontada de que poderia ser muito mais… São três caipirinhas.
Ah! Fiquem atentos que esse ano o nosso querido Walter Salles está dirigindo a adaptação de “On The Road”. Espero realmente que tenha uma condução melhor que a de “Howl”! Indico também seriamente a leitura da obra antes que vire hit teen, já que Kristen Stewart, Kirsten Dunst e Garrett Hedlund estarão no elenco (quase dei um troço quando vi a escalação do elenco principal!).
Nome Original: Howl
Direção: Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Roteiro: Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Elenco: James Franco
Jeff Daniels
Jon Hamm
Mary-Louise Parker
e Allen Ginsberg como Allen Ginsberg
Lançamento: 2010