Biografia: Stanley Kubrick

O CINEMA DE BUTECO APRESENTA A BIOGRAFIA DE STANLEY KUBRICK, UM DOS MAIORES NOMES DA HISTÓRIA DA SÉTIMA ARTE:

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O GAROTO STANLEY FOI GENTE COMO A GENTE ATÉ DESCOBRIR O XADREZ E A CÂMERA FOTOGRÁFICA; daí virou Stanley Kubrick. Nasceu no bairro do Bronx em Nova Iorque, 26 de julho de 1928. Apesar do nome judeu, cresceu num ambiente não-religioso. Se dava mal na escola e não tinha muitos interesses, porém era muito inteligente. Em 1941, seu pai Jack apresentou-o ao jogo de xadrez na tentativa de fazê-lo se interessar por alguma coisa. O garoto se apaixonou instantaneamente e tornou-se um exímio jogador. A lógica e estética do xadrez foram usadas por ele durante toda a vida como importantes ferramentas de raciocínio para planejar e criar seus filmes, além de ajudar a lidar com atores difíceis nos sets. O pai, numa outra tentativa bem-sucedida, presenteou-o com uma câmera fotográfica. Stanley Kubrick se tornou um excelente fotógrafo e acabou conseguindo o emprego de fotógrafo aprendiz na prestigiada revista Look, o que mais tarde lhe foi bem útil para adentrar o mundo do cinema.

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Era viciado em cinema e queria assistir “tudo de todos os cineastas do mundo” e mais tarde, já como diretor, assistia a todos os lançamentos do cinema em sua sala de projeção, para estudar os novos trabalhos cinematográficos. Sua carreira foi diretamente influenciada pelos filmes de Max Ophüls, Elia Kazan, Orson Welles, G. W. Pabst, David Lynch, Sergei Eisenstein, Vsevolod Pudovkin e também pelo método de direção de Constantin Stanislavski (o homem que criou o método de atuação americano, adepto de muitos atores, dentre eles Robert De Niro e Daniel Day-Lewis). Ao longo dos anos, tornou-se um aspirante a diretor e começou a fazer documentários como Day Of The Flight, Flying Padre e The Seafarers. Reuniu investidores e colegas adversários de xadrez e conseguiu financiar seu primeiro filme, Medo e Desejo. Em seguida fez A Morte Passou Perto e O Grande Golpe, até que atraiu atenção e conseguiu filmar em 1957 um dos grandes clássicos do cinema, Glória Feita de Sangue, estrelado por Kirk Douglas. A pedido do próprio, tomou as rédeas de Spartacus e transformou em clássico.

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Após filmar na Inglaterra Lolita e Dr. Fantástico, acabou tomando o país como seu lar; muito disso devido à sua decisão de se isolar do sistema hollywoodiano (o que resultou em pouquíssima divulgação de sua vida particular). Em 1987, parou de tirar fotos de si mesmo e o último registro em vídeo dele é o dos bastidores de O Iluminado, em 1982. Não gostava de dar entrevistas, e a mídia tinha tanta dificuldade em conseguir qualquer informação sobre sua vida que até um impostor chamado Alan Conway enganou famosos e jornalistas e se passou por ele em várias situações (Kubrick ficou fascinado ao saber disso, é claro). Essa mesma mídia rejeitada por Kubrick chegou a fabricar a mirabolante teoria conspiratória (que até hoje tem adeptos) de que ele teria filmado a falsa chegada do homem à Lua num estúdio a pedido da NASA.

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Conhecido por seu perfeccionismo exagerado, chegava a fazer oitenta tomadas de uma mesma cena (método também utilizado por David Fincher) e tinha tendência a querer fazer o trabalho de todos os profissionais sob seu mando. Apesar disso, todos que trabalhavam com ele tinham total liberdade para criar, opinar e contribuir diretamente nos filmes. Ele nunca se repetia: mudava radicalmente o tom e o humor a cada novo filme que fazia e por isso teve uma carreira tão versátil e diversificada. Nesse aspecto, sua maior aliada era a edição, que para ele era a fase mais interessante e importante da pós-produção, e podia ficar horas a fio numa salinha editando seus filmes. Com o passar dos anos, seu processo de pós-produção se tornou cada vez mais lento, tamanho era seu detalhismo e cuidado. Apaixonado por tecnologia, tinha um conhecimento vasto sobre câmeras. Mandava fazer lentes customizadas, usava câmeras inovadoras (como em Barry Lyndon, quando quis filmar cenas apenas à luz de velas, mandou criar câmeras de alta fotossensibilidade para tornar o trabalho possível ou como em O Iluminado, um dos primeiros filmes a usar o Steadicam – sistema de captação de imagem de câmera à mão com estabilidade semelhante a de tripés) – muitas das quais chegou a operar em várias cenas – e efeitos especiais de ponta (vide 2001 – Uma Odisseia no Espaço, referência até hoje para profissionais do ramo e deleite para os olhos de quem assiste e não acredita que esse filme foi lançado em 1968). Por sua natureza fotógrafa, preocupava-se mais com imagens a falas. Cenas com diálogos, para ele, não tinham o mesmo efeito que uma boa fotografia regada a boa música, mas apesar disso, seus filmes muitas vezes são lembrados por suas frases fortes e icônicas. Seu legado na história do cinema é marcado pela inovação narrativa e estética, plasticidade e visionarismo tecnológico.
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Pessoalmente, era apaixonado por jazz e muitos diziam que ele mais parecia um beatnik: liberalista, sarcástico, com um jeito largado de se vestir e tinha certo descaso com dinheiro, que para ele nada mais era que a fonte de sua independência. Não pendia para nenhum lado político, mas tinha suas opiniões decididas e muitas vezes contrárias à política americana (muitas delas expressadas em Glória Feita de Sangue, Dr. Fantástico, Laranja Mecânica Nascido Para Matar).

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Dinâmico, desenvolvia múltiplos projetos ao mesmo tempo – prática que ao passar dos anos se tornou frustrante já que muitos deles não se concluíam, como a épica cinebiografia de Napoleão Bonaparte, uma adaptação do livro Wartime Lies de Louis Begley (que foi cancelada porque Steven Spielberg anunciou que iria dirigir A Lista de Schindler, que tinha tema parecido), Rhapsody (thriller psico-sexual), uma versão de O Hobbit estrelando Os Beatles e Blue Moon (sobre o primeiro filme pornô americano) além de seu famigerado último projeto A.I. – Inteligência Artificial (mais tarde finalizado por Spielberg), que levou anos para se desenrolar porque Kubrick não achava que os efeitos visuais da época eram bons o suficiente para representar a história.

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Grandes diretores contemporâneos como Steven Spielberg, James Cameron, David Fincher, Martin Scorsese, Woody Allen, Terry Gilliam, Ethan e Joel Coen, Ridley Scott, George A. Romero, Richard Linklater, Sam Mendes, Quentin Tarantino, Darren Aronofsky, Christopher Nolan, Guillermo Del Toro, David Lynch, Lars Von Trier, Michael Mann, Gaspar Noé, Tim Burton, Paul Thomas Anderson, Todd Field, Michael Moore, Frank Darabont e Nicholas Winding Refn foram altamente influenciados por sua obra e o citam como um de seus cineastas favoritos. Apesar de ser considerado um dos maiores diretores da história do cinema, ganhou somente um Oscar por Efeitos Especiais por 2001: Uma Odisseia no Espaço. Em compensação, ganhou o Prêmio D. W. Griffith por conjunto da obra e que para muitos diretores é considerada a maior de todas as honras. Ironicamente, foi indicado ao Framboesa de Ouro como Pior Diretor por O Iluminado.

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No fim dos anos 90, os efeitos especiais haviam evoluído muito. Kubrick voltou a trabalhar em A. I. – Inteligência Artificial, mas sofreu um ataque fulminante durante o sono e faleceu sem poder sequer iniciar as filmagens, em 1999. Morreu sem saber da fria recepção da crítica a seu último filme, De Olhos Bem Fechados, hoje tido como um clássico cult. Dia 7 de março foi o 14º aniversário de morte de um dos maiores artistas que o mundo já conheceu, gênio criativo que vivia rodeado pela família e por seus bichos, adorador de ficção científica, prodígio curioso e modesto e profissional extremamente generoso.

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Filmografia:

Medo e Desejo (1953)
A Morte Passou Perto (1955)
O Grande Golpe (1956)
Glória Feita de Sangue (1957)
Spartacus (1960)
Lolita (1962)
Dr. Fantástico (1964)
2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968)
Laranja Mecânica (1971)
Barry Lyndon (1975)
O Iluminado (1980)
Nascido Para Matar (1987)
De Olhos Bem Fechados (1999)