Crítica: Pássaro Branco da Nevasca – Mostra de SP

38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo #5

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Assim como os trabalhos anteriores do diretor Gregg Araki (como Geração Maldita e o pavoroso Kaboom, que em 2010 venceu a “Cheer Palm”, o prêmio de melhor filme com temática GLBT no Festival de Cannes), este Pássaro Branco da Nevasca é um longa excêntrico e kitsch que vez por outra torna-se tão cafona em sua abordagem visual new wave que momentaneamente nos esquecemos que, no restante do tempo, estamos assistindo a um drama bastante eficiente sobre uma adolescente confusa e que precisa desesperadamente superar o fantasma da própria mãe.

Essa adolescente é Kat (Woodley), que tem esse nome porque sua progenitora, a possessiva e desequilieles a única fonte disponível de alívio em meio a uma vida ditada pela repressão de sua feminilidade e da inveja de uma mãe que sempre a tratou como rival – e é curioso como a personagem pode funcionar como um verdadeiro teste moral para o espectador, desafiando-o a “tachá-la” de “vadia” enquanto o filme a trata como uma vítima de seu meio.

Sem muito a oferecer como thriller, apesar de conter uma série de elementos do gênero (e quase se transformando em um suspense do tipo whodunit – ou “quem fez?” – em seu terceiro ato), Pássaro Branco da Nevasca se sustenta mesmo é como estudo de personagem, sendo prejudicado pelo extremo mau gosto de Araki nas concepções estética e textual do projeto, que traz os flashbacks e digressões superexpostos que ele adora, cenas de pesadelo absolutamente descartáveis – e que tentam justificar o título do longa – em que a protagonista em câmera lenta debaixo de uma tempestade de neve e frases embaraçosas (a maioria delas ditas em off) como: “E assim, num piscar de olhos, minha virgindade desapareceu – como a minha mãe”.

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Evocando a década de 80 (e nitidamente se divertindo no processo) através dos figurinos coloridos que flertam com os universos criados por Wes Anderson, das cenas compostas por objetos como Ataris e telefones enormes com fios encaracolados, dos tenebrosos permanentes nos cabelos das personagens femininas (que se vestem no dia-a-dia como se tivessem acabado de sair de um show do The Cure) e de uma trilha sonora cheia de rocks dançantes, Araki dirige em Pássaro Branco da Nevasca o melhor filme de sua carreira – o que não depõe muito a seu favor, já que é Woodley (auxiliada por Green, que vive a primeira “matrona” de sua carreira em uma divertida imitação de Elizabeth Taylor em Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? – e que, por sua vez, já era uma imitação de Bette Davis) quem segura sua barra.

Porque se dependesse do seu estilo afetado e kitsch, acho difícil que o cineasta conseguisse continuar lançando seus filmes em festivais importantes.

(White Bird in a Blizzard, EUA, 2014). Escrito e dirigido por Gregg Araki (baseado no romance de Laura Kasischke). Com Shailene Woodley, Eva Green, Sheryl Lee, Angela Bassett, Thomas Jane, Gabourey Sidibe, Christopher Meloni, Shiloh Fernandez, Dale Dickey e Mark Indelicato.