Crítica: Operação Big Hero

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OPERAÇÃO BIG HERO COMEÇA COMO O GIGANTE DE FERRO E TERMINA COMO GUARDIÕES DA GALÁXIA: concentrando-se na amizade entre um menino solitário e um “ser” sintético teoricamente insensível e logo caminhando para um desfecho típico de formação de super-grupo, o novo longa desta maravilhosa fase do departamento de animação da Disney que já lançou Enrolados, Detona Ralph e Frozen faz jus à magnífica História do estúdio ao unir irreverência e sentimento, priorizando o desenvolvimento de seu protagonista e, de quebra, transformando-se no melhor filme da Marvel (mesmo sem ser produzido pela Marvel) ao finalmente conseguir se equilibrar entre tratar sua história de super-heróis com seriedade e rir de seu absurdo.

Baseado em uma HQ da editora de Capitão América, Thor, Homem de Ferro & cia, o roteiro escrito a seis mãos por Jordan Roberts, Daniel Gerson e Robert L. Baird gira em torno de Hiro (voz original de Ryan Potter), um adolescente de catorze anos de idade que, fã de tecnologia, herda do irmão mais velho, morto em um incêndio, o robô inflável Baymax (Adsit), que, branco e rechonchudo, foi projetado para “cuidar do bem estar” de seu dono – e quando o vilão Yokai (Cromwell) rouba os nano-robôs inventados pelo protagonista  para construir armas de destruição em massa, o boneco se junta ao garoto e ao grupo formado por Fred (Miller), Go go (Chung), Wasabi (Wayans) e Honey Lemon (Rodriguez) para impedi-lo com seus “superpoderes” improvisados.

Baseando seu humor basicamente na figura esquisita de Baymax, que, além de extremamente lento, tem uma dificuldade absurda de compreender ironias e de fazer qualquer coisa que vá contra sua vocação de cuidar – às vezes excessivamente – dos humanos que o manuseiam (e o desengonçado boneco gera uma série de cenas hilárias, como aquela em que pega despreocupadamente um pedaço de durex atrás do outro para conter pequenos vazamentos em sua superfície provocando sons cada vez mais estridentes), o longa acerta em cheio ao assumir-se claramente como filme de ação, abraçando uma série de elementos, convenções e mesmo clichês do gênero ao longo de sua projeção.

Nesse sentido, os diretores Don Hall (O Ursinho Pooh) e Chris Williams (Bolt) se divertem ao criar longas perseguições através de ruas estreitas, construções abandonadas e tubulações sufocantes com a vantagem, proporcionada pela linguagem da animação, de poderem “posicionar suas câmeras” em qualquer ângulo possível e imaginável e executar os movimentos mais engenhosos sem, com isso, deixar de emular o formato das cenas que estamos acostumados a ver nos filmes do gênero, utilizando câmeras lentas, travellings que circulam os personagens em momentos de decisão, gruas que se acompanham lateralmente um carro em alta velocidade e daí por diante.

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Mas se há algo que distingue a Disney de qualquer outro estúdio de animação (e inclua a Pixar neste comentário, já que, com John Lasseter na supervisão criativa do departamento de animação de ambas, a linha entre elas tornou-se muito fina) é sua capacidade de criar personagens que, quando animados, tornam-se tão reais e humanos quanto qualquer pessoa de carne e osso – e Hiro não é diferente: com o entusiasmo típico de um menino de sua idade e carregando uma ferida doída que, mais uma vez, reflete uma estratégia de identificação antiga do estúdio, funciona como centro emotivo da narrativa apesar de não carregar características visuais particularmente marcantes.

A capacidade da equipe criativa de Operação Big Hero de criar personagens divertidos, aliás, se estende também para a equipe reunida por Hiro, que, sem conflito algum além de auxiliar o protagonista em sua jornada, protagonizam pequenos momentos de alívio cômico: se o grande e desajeitado Wasabi mostra-se sempre apavorado e histérico em momentos de perigo e a patricinha Honey Lemon está sempre pronta para tietar o herói como uma boa groupie, Fred é um sujeito loiro com cara de surfista que, apesar da pose de rebelde, está sempre com um largo sorriso no rosto e extremamente empolgado com qualquer ação que execute ao lado de seus colegas super-heróis.

Com um design de produção impecável que, além de recriar com perfeição as ruas íngremes de São Francisco, recria vários temas recorrentes dos filmes recentes de ação/aventura/fantasia e ainda faz pequenas homenagens aqui e ali (como ao transformar o Professor Robert Callaghan em uma versão de Harrison Ford que, quando transformado em Yokai, torna-se um verdadeiro Sith), Operação Big Hero mantém o excelente nível da safra recente de animações da Disney e, se não é uma verdadeira obra-prima, ao menos está cheio de momentos que poderiam muito bem ser citados como alguns dos melhores da História recente do estúdio (eu ressaltaria toda a sequência do “limbo” dentro do buraco de minhoca).

Entre recontar seus velhos contos de fadas agregando valores contemporâneos e investir em histórias “modernas” inspiradas nos gêneros mais populares dos dias de hoje, a Disney, sob a tutela de John Lasseter, finalmente tem voltado a ocupar o posto que quase sempre foi seu.

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Operação Big Hero (Big Hero 6, EUA, 2014). Dirigido por Don Hall e Chris Williams. Escrito por Jordan Roberts, Daniel Gerson e Robert L. Baird. Com vozes de Scott Asit, Ryan Potter, Daniel Henney, T.J. Miller, Jamie Chung, Damon Wayans Jr., Genesis Rodriguez, James Cromwell, Alan Tudyk e Maya Rudolph.