Guia de Consumo: O Cinema de M. Night Shyamalan

A nova edição do Guia de Consumo analisa a filmografia de M. Night Shyamalan, diretor que encantou a crítica e o público com O Sexto Sentido e depois viu sua carreira fracassar a cada novo lançamento massacrado pela crítica:

M Nigh Shyamalan

PODEMOS AFIRMAR QUE M.NIGHT SHYAMALAN É UM DOS DIRETORES MAIS POPULARES NO CINEMA DE BUTECO. Ao longo dos nossos oito anos de vida fizemos diversos especiais sobre o cineasta, incluindo a primeira maratona coletiva da equipe. Na ocasião, a equipe da época se reuniu para assistir aos seus filmes e beber algumas cervejas ao longo da noite.

Com a filmografia praticamente completa no site, Shyamalan recebeu homenagens muito especiais no Cinema de Buteco: 15 anos de O Sexto Sentido e uma primeira tentativa de produzir críticas de toda a sua obra. O material que você irá ler logo abaixo é uma versão mais completa com a filmografia inteira comentada do diretor indiano pela equipe do site.

Aprecie sem moderação:

Praying with Anger

Em 1992, M. Night Shyamalan fez a sua estreia atrás das câmeras com Praying with Anger. O cineasta demonstrava desde o começo da carreira seu lado controlador, já que também escreve e estrela a produção que narra a história de um homem que volta para o seu país para concluir seus estudos e entra em conflito com as diferenças culturais do seu país de origem com os hábitos que aprendeu crescendo nos Estados Unidos. Praying with Anger costuma ser esquecido quando se fala da obra do diretor. (Tullio Dias)

Praying with Anger


Olhos Abertos

Quando M. Night Shyamalan estourou mundialmente com O Sexto Sentido, poucos críticos lembraram que o cineasta indiano tinha produções realizadas previamente. Uma delas é Olhos Abertos, um título que Shyamalan não gosta de rememorar. As divergências começaram já na produção em 1995, que fizeram o filme ser lançado somente em 1998. Olhos Abertos também revela uma deficiência de Shyamalan que ressurgiria futuramente para quase destruir a sua carreira: a total inaptidão em conduzir produções voltadas ao público infantil, como vimos em O Último Mestre do Ar e Depois da Terra. Tendo como premissa o desejo de um garoto de 10 anos (Joseph Cross, de Correndo com Tesouras) em não somente descobrir a existência de Deus, como também conversar com o próprio para compreender a morte de seu avô, Shyamalan extrapola todos os limites toleráveis de pieguismo, tornando Olhos Abertos o elemento mais estranho de uma filmografia de altos e baixos. (Alex Gonçalves, do Cine Resenhas)

Olhos Abertos


O Sexto Sentido

“O mundo do cinema de suspense ficou mais iluminado após o lançamento de O Sexto Sentido, no distante ano de 1999. Com aquele final arrebatador, M. Night Shyamalan colocava o seu nome na história de Hollywood e despontava como um dos cineastas mais promissores surgidos na época. Parte do sucesso estava não apenas na surpreendente revelação, mas na atuação do jovem Haley Joel Osment e Bruce Willis, em um de seus principais trabalhos no cinema, e no apuro técnico invejável do diretor.” (Tullio Dias)

Em 1999, um pouco experiente realizador chamado M.Night Shyamalan convocava Bruce Willis,
Haley Joel Osment, Toni Collette e Olivia Williams para realizar a obra que o colocaria sob
o olhar atento, surpreso e admirado da crítica, da indústria e especialmente dos cinéfilos por todo o mundo. Ela recebia o nome de O Sexto Sentido. Não era para menos; a começar pelo trabalho minucioso de criação da tensão – tomando todo o primeiro ato para fazê-lo através da trilha sonora e de todo o espectro audiovisual -, passando pelo absolutamente sublime uso da cor vermelha como ferramenta formal de linguagem – apenas associe esta à presença espiritual na trama -, e por fim com a observação da construção psíquica de todas as personagens envolvidas na trama – e a interdependência entre os arcos destas. Sendo assim, a atenção, a surpresa e a repentina admiração eram absolutamente compreensíveis – embora estivessem diante de um “iniciante”, presenciavam um trabalho digno de um mestre. (Leonardo Lopes)

o sexto sentido i see dead people


Corpo Fechado

“Corpo Fechado” (nome do caralho, parece documentário de umbanda). Mas vá lá: “Shyamalan em, talvez, seu melhor momento. Um filme que retrata as dicotomias clássicas do universo dos super-heróis: o bem e o mal, força e fraqueza, sorte e azar, ser ou não ser um herói. Dicotomias que aparecem a todo momento, seja no roteiro, seja no uso criativo da câmera que, mesmo com movimentos simples, expõe realidades opostas comuns a esse universo. Nada mais que o mito da criação do herói contado de maneira simples e, ao mesmo tempo, complexo. Daqueles filmes pra se rever de tempos em tempos, sempre nos revelando algo não percebido das primeiras vezes.” (Alexandre Marini)

Aqueles que ainda desconfiavam de Shyamalan, a resposta veio em formato de filme, claro, e este recebe o nome de Corpo Fechado. A calada dos desconfiados pode ser divida em três atos: o constante uso da perspectiva subjetiva no primeiro ato – criando eficientemente um ocultismo sobre o protagonista, David Dunn, que não será traído até as últimas consequências -; a sequência da primeira aparição de Elijah, na qual o diretor utiliza brilhantemente as cores vermelha (figurinos) e roxa (a emblemática revista em quadrinhos e sua embalagem, além também dos figurinos) como ferramentas de linguagem posteriormente correspondidas pelo desenvolvimento narrativo; a movimentação da câmera no momento seguinte, envolvendo a mesma revista em quadrinhos. (Leonardo Lopes)

“Verdadeiro hino ao universo dos heróis, Corpo Fechado é um daqueles filmes que crescem bastante durante a revisão e se tornam essenciais na lista de qualquer um que diga adorar produções inspiradas em super heróis. Shyamalan pode ter ficado meio sequelado depois que passou a permitir que o seu nome recebesse mais atenção do que os títulos dos filmes nos cartazes, mas aqui ainda temos um belo exemplar de como se fazer cinema e misturar ação, aventura e suspense com o sub-gênero “filme de herói”. Imperdível.” (Tullio Dias)

corpo fechado


A Vila

Um suspense criativo cujo enredo se torna mais enigmático e intrigante a cada cena. Um filme especial por carregar uma história que assegura emoção e produz um grande clima de suspense. Em A Vila, Shyamalan conseguiu romper com a linearidade durante toda a história e fechou o filme com chave de ouro, tendo feito um final realmente surpreendente que deixou muita gente perplexa! (Juliana Vannucchi)

Fugindo de O Sexto Sentido, que de fato eu considero o melhor trabalho dele, o filme que eu mais gosto deste cara esquisito é A Vila (por favor abaixem estas pedras). Acredito que gostei da obra especialmente pelo momento em que a assisti, bem no começo da faculdade quando um mundo novo se abriu e eu comecei a ver tudo com novos olhos. O lance da opressão exercida na galera que vivia na vila e da implementação da política do medo para manipular as pessoas me fascinou na época.(Joubert Maia)

A trama aparentemente desconexa de A Vila esconde um enredo inteligente, que sutilmente fala de medo e do terrorismo. Uma bela alegoria do terror que assola o mundo atual. (Juliana Uemoto)

A Vila


Sinais

Confesso que sofri na escolha do melhor, mas no momento daria o título para Sinais. Tem tudo que um bom suspense precisa: monstros, acontecimentos bizarros e um drama familiar no meio de toda a confusão. A atuação das crianças, Rory Culkin e Abigail Breslin, é impecável. É uma história completamente possível de ocorrer, sem muito heroísmo ou atos de burrice completa que acabam por tornar o filme previsível. Pra mim, tudo de melhor que M. Night Shyamalan tem a oferecer. (Mariana Alvarenga fez parte da formação da primeira equipe do Cinema de Buteco)

“Com influências como Spielberg, Hitchcock e Kubrick, Sinais é um conto-de-fadas que usa o melhor do suspense para tratar assuntos importantes como religião e ciência, tornando-se uma experiência cinematográfica única.” (Fernanda Minucci)

Sinais


A Dama na Água

“É simples, bonito (especialmente no que diz respeito ao trabalho de direção de arte) e mágico. Uma autêntica fábula que deixou de ter vida apenas enquanto era contada por alguém e se tornou um filme para ser apreciado por pessoas de todas as partes do mundo. Às vezes parece que nós queremos perfeição demais em uma expressão de arte realizada por uma outra pessoa e ignoramos que as falhas também podem render bons momentos.” (Tullio Dias)

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Fim dos Tempos

Existem coisas em Fim dos Tempos que nos fazem questionar o bom senso de M. Night Shyamalan, mas talvez seria mais justo se tentássemos entender que a ameaça invisível criada pelo cineasta nesse longa-metragem esquisito é justa e eficiente. Não seria Fim dos Tempos uma produção maltratada pelas nossas péssimas impressões na época e que contaminam até hoje nossa opinião? Ou será que não existe nada no mundo capaz de justificar Mark Wahlberg batendo um papo cabeça com uma planta? (Tullio Dias)

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O Último Mestre do Ar

“Se um desavisado assistir a O Último Mestre do Ar sem saber que a história é baseada num desenho, ele não vai ter dúvidas de que assistiu à mais uma fábula desmiolada e sem sentido daquele que já foi considerado como uma das maiores promessas do cinema no final dos anos 90.” (Tullio Dias)

“Se tratando de O Último Mestre do Ar, e de toda a besteira que representa, acaba sendo um retrocesso ainda maior do que lembrar do Mark Wahlberg discutindo com uma planta de plástico. O abandono do lugar comum nas obras de Shyamalan me incomodou e pareceu uma tentativa covarde de esperar a crítica diminuir a perseguição. Em vão.” (Thiago Magalhães)

Com um roteiro preguiçoso e mal escrito, principalmente no que toca aos diálogos, e um ritmo na melhor das hipóteses sonolento, Shyamalan matou a sonhada trilogia cinematográfica de O Último Mestre do Ar no berço, sem lhe dar nem mesmo a oportunidade de engatinhar.”(Kravis)

Guia M Night Shyamalan O Ultimo Mestre do Ar


Depois da Terra

“Quem aprendeu a odiar M. Night Shyamalan com o passar dos anos dificilmente conseguirá reconhecer as qualidades de Depois da Terra. O pré-conceito cega e gera impaciência no espectador que mais do que reclamar da qualidade dos filmes, critica especialmente o legado do diretor. É como se Shyamalan tivesse a obrigação de ser o melhor cineasta da história, que cada filme precisasse ser melhor que o anterior, e que a reviravolta de O Sexto Sentido precise se repetir inúmeras vezes. De fato, seus filmes foram ficando piores com o passar dos anos, mas daí a querer massacrar injustamente qualquer coisa que ele faça é uma besteira completa. Cinema é arte, mas também é um produto.” (Tullio Dias)

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A Visita

A Visita é um “found footage” bem produzido e com dinheiro o suficiente para poder superar outras obras que usam e abusam do recurso, pelo menos financeiramente. Aliado ao estilo de Shyamalan, as tais filmagens amadoras ganham um tempero a mais. Desta vez, não existe tanta questão explícita com o ego ou a megalomania do cineasta, que parece ter se concentrado em fazer uma obra de humor negro que conseguisse assustar e fazer rir ao mesmo tempo. E ele consegue. Com louvor.” (Tullio Dias)

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