Crítica: Henry: Retrato de um Assassino (1986)

Henry Portrait of a Serial Killer poster

NÃO SE DEIXE ENGANAR: apesar de ter um pôster muito tosco e até mesmo um clima daqueles filmes ruins que ninguém gostava de alugar na época das locadoras, Henry: Retrato de um Assassino (Henry: Portrait of a Serial Killer) é uma surpreendente cinebiografia sobre o assassino Henry Lee Lucas (1936-2001).

Henry (Michael Rooker) é um homem solitário e violento que tem o hábito de matar mulheres. Ao lado do seu colega de quarto Otis, ele começa a atacar prostitutas e casas de família no final dos anos 1970. O filme conta a sua história e o envolvimento romântico com a irmã de Otis, a jovem Becky.

Henry costuma dar uma atenção especial para mulheres, afinal seus crimes são “motivados” justamente pela sua infância difícil, a relação conturbada com a mãe e uma série de abusos: ele era obrigado a se vestir como garota e assistir a mãe trepando com outros homens (Maníaco, com Elijah Wood, também apresenta um psicopata com essas características). O curioso é que quando parece se entregar ao amor, Henry surpreende o espectador com a reafirmação da sua doença e incapacidade de se relacionar com alguém.

Sem precisar apelar para sustos e violência gratuita, Henry: Retrato de um Assassino é um exemplo raro de filme de terror. O desejo de Hollywood em transformar o gênero em apenas um produto de entretenimento corrompeu a essência do que se espera de uma obra assim. Não precisamos nos divertir, e sim sentir medo, asco ou desespero. Não precisamos de explicações óbvias para entender as motivações dos personagens ou de grandes nomes famosos. Terror de verdade se faz cru.

Para quem se sentiu incomodado com aquela sequência de estupro em Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, Henry: Retrato de um Assassino conta com momentos ainda mais perturbadores. Talvez pelo público saber que aquilo aconteceu de verdade ou pelo aspecto amador com que o cineasta decide filmar a ação dos criminosos. É como se estivéssemos assistindo aos crimes de verdade. Se em algumas cenas o longa-metragem acerta por não se preocupar em ser extremamente visual (como na introdução e nos corpos que aparecem naquele momento em que o filme ainda tenta apresentar o seu protagonista através de imagens apenas), quando decide ser visual é uma pancada no nosso estômago.

Justamente por parecer ruim, que Henry surpreende o público como uma das obras mais chocantes já produzidas no cinema. Primeiro pela frieza com que o diretor recria crimes acontecidos na vida real. Segundo pelo excelente trabalho do ator principal. E terceiro pela construção da narrativa e o desenvolvimento do personagem. O minuto final de Henry é assustador porque mostra definitivamente a faceta cruel e independente do psicopata. Lucas confessou ter matado mais de 300 pessoas em vinte anos. Um número assustador.

Recomendado para amantes de cinebiografias, curiosos sobre a vida de psicopatas da vida real e amantes dos filmes de terror. Lembre-se do meu aviso inicial e não desista. Henry é uma daquelas obras que podem deixar a desejar em relação à qualidade visual, mas entregam uma história poderosa que mexem com a gente. Nesse caso, deixando um gosto bem amargo na boca e uma vontade maluca de vomitar, mas apenas por ser incrivelmente eficiente.