Crítica: Projeto Flórida (2018)

Sean Baker causou sensação no mundo do cinema em 2015 ao dirigir Tangerine, um longa inteiramente filmado por um iPhone 5S, agora ele está de volta com mais recursos (dessa vez em 35mm) em Projeto Flórida, sobre um verão na vida da jovem mãe Halley (Bria Vinaite) e sua filha Moonee (Brooklynn Prince), que vivem em quarto barato de motel nos entornos da Disney World, na Flórida.

Mesmo que esse tipo de moradia exista em vários lugares dos Estados Unidos, é fundamental que o filme se situe no estado da Flórida, onde está Disney e os parques temáticos, pois assim o diretor foca na clara contradição de desigualdade, afinal aquelas crianças pobres retratadas estão morando no estado que é considerado por muitas outras crianças como o destino mais feliz do mundo.

Mas apesar de expor as mazelas da vida dos menos favorecidos, o filme não é exatamente um drama social com críticas políticas, tanto que o diretor não romantiza a personagem da mãe por exemplo, que apesar de afetuosa se mostra muito irresponsável, mas mesmo assim é um olhar afetuoso sob aquelas pessoas, um olhar de dentro pra fora, mesmo passando por situações difíceis, as crianças são retratadas com felicidade, mérito também da fotografia de Alexis Zabe, que abusa das cores quentes e vivas.

Outra qualidade do longa é o fato do diretor explorar as locações, por exemplo, quando as crianças andam a pé até uma sorveteria ou um terreno abandonado, nós conseguimos ter a mesma perspectiva que elas, e isso é importante para que nós nos sintamos dentro daquele universo.

E é claro que eu não posso deixar de falar sobre os atores, todos estão formidáveis, inclusive os secundários, em atuações extremamente naturalistas, Willem Dafoe é único ator famoso no elenco, ele interpreta o gerente ético e gente fina do motel, Bria Vinaite que interpreta a jovem mãe Halley, foi descoberta através de seu Instagram e arrebenta em seu papel de estreia, mas o destaque fica por conta da protagonista, a menina Brooklynn Kimberly Prince é a estrela do filme.

Nos momentos finais, o diretor da um tom diferente de todo o restante do longa, e é surpreendente e emocionante, mas eu deixo para vocês também tirarem suas próprias interpretações sobre o fim. Para finalizar, Projeto Flórida é como uma criança, não precisa de muito para fazer rir e chorar.