a freira melhor filme de terror de 2018

A Freira é o Melhor filme de terror de 2018?

A FRANQUIA INVOCAÇÃO DO MAL SE TORNOU UM PRODUTO LUCRATIVO PARA A INDÚSTRIA E A FREIRA APARECE COMO UM DOS CANDIDATOS A MELHOR FILME DE TERROR DE 2018. Seguindo os passos de outras franquias poderosas, como as produções da Marvel e a série Velozes e Furiosos, os produtores perceberam que criar um universo estendido de um filme de terror poderia ser atraente.

Franquias infinitas como Sexta-feira 13, Halloween e A Hora do Pesadelo pouco exploraram essas possibilidades – por questões de direito autorais ou timing errado (vide o confronto entre Jason e Freddy) – e os fãs tiveram que se contentar com a imaginação. Mas com Invocação do Mal, as coisas começaram a fluir de uma maneira diferente.

O sucesso do primeiro filme logo deixou o público ansioso por uma história dedicada exclusivamente para a horrorosa boneca Annabelle, que gerou um spin-off medíocre no ano seguinte. Tudo que Invocação do Mal tinha de bom foi jogado pela privada em Annabelle, cujo único trunfo incontestável é a sufocante sequência do elevador. De resto, francamente…

Em 2016, Invocação do Mal recebeu uma continuação muito superior ao original, ainda que deixasse de lado velhas fórmulas do gênero para investir numa narrativa em que a família recebesse atenção especial. Era de se esperar que o roteiro apresentasse alguma criatura demoníaca mais interessante que verdadeira noiva do Chucky e isso aconteceu na figura de uma freira bizarra.

Ano passado, em 2017, parece que os produtores decidiram apagar a péssima estreia solo de Annabelle e investiram num filme de origem. Tinha tudo para dar errado, mas o que aconteceu foi um dos principais destaques entre os melhores filmes de terror de 2017. Abriram caminho para o “aguardado” spin-off dedicado para A Freira, que consegue a proeza de ser o pior exemplar de todo esse universo.

A Freira é o melhor filme de terror de 2018? Sério mesmo?

Se você ouvir isso de alguém, desconfie. Quantos filmes será que essa pessoa viu? O que será que ela chama de terror? Será que ela separa terror raiz de terror Nutella (vide meta terror)?

A Freira é um filme que está bem longe de sequer ser lembrado em qualquer lista respeitosa sobre os melhores filmes de terror de 2018. Falo isso como um especialista no gênero e que desde 2011 contribui para indicar as melhores dicas para cinéfilos no nosso apanhado de fim de ano. No entanto, o terror sofre com preconceito dos críticos e certa preguiça de veículos que deveriam se esforçar em apresentar sugestões que fujam do lugar comum que torna A Freira tão medíocre.

Focado quase que exclusivamente em jump-scares (aqueles momentos em que você literalmente pula do assento), o longa-metragem chega a dar risos involuntários em determinados momentos. Tudo bem que isso é bem pessoal e talvez eu seja um cara rabugento demais, mas é como se existisse uma preguiça geral de usar o cérebro e aceitar qualquer coisa que chega. Falta sustância, falta inteligência, falta terror, falta tudo que transformou a série Invocação do Mal no que ela é hoje.

Obviamente, minha visão crítica não é compartilhada pelos resultados nas bilheterias brasileiras. Até encontro colegas da crítica bem sucedidos sexualmente, com humor afiado e capazes de reclamar de coisas engraçadas, ao invés do quanto odeiam os trabalhos que sustentam suas vidas, que dividem essa opinião comigo. Eles me fazem sentir alívio. Por alguns segundos, pelo menos.

O que há de errado com A Freira

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O principal problema é saber que o diretor do incrível The Hallow teve a injusta missão de assumir o cargo de diretor. Imagino que tenha cumprido ordens e privado de qualquer liberdade criativa, pois nada explica Corin Hardy ser o responsável por essa bomba de bosta com uma freira zoada.

Tudo que é subliminar, sutil e aterrorizante em The Hallow é jogado pra escanteio em A Freira. São cenas gratuitas com personagens previsíveis ou totalmente caricatos (temos a porra de uma versão terror de Indiana Jones), em que tudo parece acontecer rápido demais e sem dar a menor chance para o espectador se envolver. Os efeitos visuais razoáveis são comprometidos por uma história sem profundidade.

A própria entidade Freira parece perdida e bobalhona em determinados momentos. Questionamos como uma figura tão forte e poderosa poderia se ver derrotada por apenas um padre cego, uma aspirante a freira e um Indiana Jones comediante. Não faz muito sentido, mas quando a pipoca e o refrigerante acompanha a projeção, tanto faz. A impressão é que as pessoas não estão conectadas de verdade.

Fora a incrível semelhança de Irene (Taissa Farmiga) com Lorraine (Vera Farmiga) – e não estou me referindo às questões genéticas óbvias, mas de caracterização e linguagem corporal – não tem nada que funciona em A Freira. Podemos sim reconhecer como a narrativa se insere imediatamente no Invocação do Mal original e cria uma conexão mais forte para a continuação, mas é pouco quando se pensa na obra como um produto único.

Talvez seja um pouco injusto da minha parte, mas quando se fala em obras de exorcismo existe uma certa obra que fica na memória de qualquer cinéfilo que sofre com o mal da comparação…

O melhor filme de terror de 2018 ainda atende pelo nome de Hereditário

Filme de Terror é para a nobreza cinéfila.

Produções que usam recursos baratos como jump-scares ou apelam para momentos previsíveis não merecem nosso amor.

São produções feitas para lucrar. Fazer dinheiro para os produtores/cineastas terem liberdade em seus projetos.

A Freira é ridículo em suas pretensões e quase arrasa com Invocação do Mal. Há quem goste, e nada de errado nisso, mas a gente precisa ser realista de vez em quando.

Quando digo que o melhor filme de terror de 2018 atende pelo nome de Hereditário é sério. Digo isso não por minha formação ou por ter complexo de pinto pequeno para ficar reclamando de algo que todos gostam. Digo isso porque minha bagagem me faz pensar diferente e me entusiasmar por produções ousadas, que fogem dos clichês fáceis de agradar.

Como disse brevemente no texto sobre meta terror, Hereditário consegue usar as sutilezas para arrebatar o espectador nos minutos finais. Quando uma obra faz isso, meu amor, você possivelmente irá se perguntar porque o seu peido molhou sua bunda. A ausência de pressa e de recursos simplistas como uma trilha sonora alta numa cena de susto, criam resultados incríveis que a maioria das pessoas não consegue apreciar.

Queria eu que o terror usasse mais o silêncio para criar a tensão nos espectadores, como é o caso do brilhante Um Lugar Silencioso. Será uma época muito mais produtiva quando o público decidir usar seu cérebro fora do piloto automático e se permita apreciar de verdade uma boa história de terror.

A Freira não atende aos pré-requisitos, infelizmente.

Links para ler mais sobre A Freira e sobre o melhor filme de terror de 2018

A Freira de Invocação do Mal ganha seu filme” – Marcelo Seabra (O Pipoqueiro)

Crítica de A Freira – Maristela Bretas (Cinema no Escurinho)

Perdido no tom do próprio horror, “A Freira” se rende ao escracho” – Pedro Strazza (B9)

A Freira é bom?” – Otávio Ugá (Canal Super8)