edificio alvorada

Quarentena de Contos: Colorir no Chão o Vermelho – Ato 1

PARTE IV

 

Bem no momento em que vou para o banheiro e ligo o chuveiro sentindo o meu pau duro como se fosse o dia da Independência da Quarentena, escuto o som estridente da minha campainha. Com a cabeça roxa do meu pau erguida e sentindo como se aquele olho solitário me encarasse indignado, me enrolo na toalha e caminho marchando para descobrir quem é o filho da puta que me interrompeu. Não me surpreendo quando vejo a cara de cu daquele pastor pervertido. Abro a porta sem pressa e tento não deixar explícito o meu incômodo. 

“Bom dia, irmão Michel.”, ele diz com um sorriso cínico que me dá vontade de afundar o braço de minha antiga guitarra Gibson no nariz dele. Sei que esse inventor do tantra BDSM de Jesus não vai com a minha cara. Eu não preciso fingir simpatia e por isso mantenho um metro e meio de distância e apenas aceno para a mão dele erguida no ar solitária. 

Ele acena, como se tivesse entendido, mas sua cara é de deboche. Logo começa a dizer: “Essa noite vou realizar um pequeno culto no meu salão de festas e fazer uma oração para o Seu Lalau, que como você sabe faleceu semana passada e…” 

Minha raiva fala mais alto que o meu bom-senso e minhas atitudes políticas para ser um bom vizinho. Interrompo ele com um tom de voz um pouco mais alto e mais agressivo do que eu gostaria.

“Você tá pensando em realizar um culto no nosso salão de festas durante um período de QUA-REN-TE-NA?”

“Jesus vai nos proteger e impedir que esse vírus de Satanás contamine o nosso prédio. Nós todos sabemos que essa gripezinha não é assim tão forte como a imprensa está dizendo. Isso é tudo uma mentira, mas você não precisa se preocupar. Serão somente 200 pessoas aqui conosco.”

“Você é louco????” – eu desisto de manter a compostura e a educação. Sei que agora eu declarei Guerra contra o Pastor e isso não vai ficar barato. “Pergunta pro Seu Lalau como é que Jesus protegeu o rabo velho dele. Eu não sei nem como você vai enfiar 200 pessoas dentro do salão de festas. Pelo amor de Deus… Estamos no período de ficar em casa e não receber ninguém. Você não pode fazer um culto! Isso é irresponsabilidade” – o desgraçado não se alterou com o meu ataque de nervos. 

“Está amarrado em nome do Senhor. Que Jesus tenha pena da sua alma. Meu irmão Michel, o nosso salão de festas está ungido em nome de Cristo e nenhum vírus de Satanás vai contaminar nenhum dos meus fiéis. Vamos começar a partir das 18h e teremos quatro sessões para receber todos os irmãos que precisarem. Mas eu quero contar com a sua gentileza de ficar no seu apartamento. Nenhum dos irmãos precisa ver uma pessoa no seu estado e perdida do caminho de Deus nesse momento. Faça como a imprensa histérica e os governadores irresponsáveis disseram na TV: Siga seu conselho e FIQUE EM CASA!”, ele disse em um tom de superioridade que quase me fez ultrapassar os limites do contato humano permitido. 

“Você vai fazer esse culto no seu cu, seu filho da puta do caralho! Vou ligar para a polícia, seu exterminador de crente e economista do cu. Limítrofe com uma cruz atolada no seu rabo arrombado. Vai matar seu rebanho e sua fonte de dinheiro, seu idiota”, e então bati a porta tremendo de ódio e medo desse bafo de cu ter me contaminado com a metralhadora de bosta que fui obrigado a ouvir. 

É isso. Tinha tomado uma decisão e não iria deixar esse culto acontecer e colocar todos os idiotas que moram nesse prédio em risco. Meu pau já estava mais morto que o cadáver do Seu Lalau, e isso me deixou mais puto ainda. Por outro lado, reter toda essa porra seria importante para me manter concentrado para conseguir resolver esse problema até antes da Marina chegar. Deixaria para ela resolver o meu problema mais tarde, comemorando a minha vitória abrindo um champagne quentinho como prêmio pelo meu esforço.