De Quanta Terra Precisa um Homem

De Quanta Terra Precisa um Homem

De Quanta Terra Precisa um Homem é um conto primoroso escrito por Lev Tolstói, do qual podemos extrair reflexões sobre inúmeros temas, tal como o que significa ter uma vida agradável e satisfatória, os limites e consequências da ambição humana, o valor do acúmulo de bens materiais, os contrastes e definições de certos dualismos morais, e várias outras questões.

Foi originalmente publicado em 1886 no Russkoe Bogotstvo, que era uma “revista do comentário, da indústria, da agricultura e das ciências naturais”. A edição que li e que me motivou a escrever este presente texto foi lançada em 2017 pela editora ViaLeitura.

O conto tem início quando o protagonista Pahóm escuta uma conversa entre sua mulher e sua cunhada, na qual ambas discutem a respeito dos contrapontos, vantagens e desvantagens da vida no campo e na cidade: a cunhada defende a vida na cidade e a mulher de Pahóm, por sua vez, posiciona-se a favor da vida campestre – a saber, sua própria vida.

Enquanto ouve atentamente a discussão, o homem reflete, em silêncio, e conclui que se possuísse bastante terra, viveria bem e não temeria nem mesmo o diabo. Contudo,  curiosamente, o diabo, que estava nesse mesmo ambiente, escondido atrás do fogão, escutou esse pensamento de Pahóm e, então, decidiu que iria dar muita terra ao homem e que seria justamente com ela que iria “pegá-lo”.

A partir desse desfecho, o diabo, de fato, seduz o protagonista que se perde em suas próprias ambições e na aquisição de terras e, nesse sentido, o rumo da história torna-se bastante profundo, apresentando reflexões dualistas bem interessantes (tal como as que mencionei no primeiro parágrafo – “campo x cidade; “vida boa x vida ruim”; “riqueza x pobreza” etc).

A vida de Pahóm torna-se cada vez mais nobre e o homem passa a acumular terras e obter lucro. Entretanto, o personagem torna-se obcecado em acumular cada vez mais terras e conquistar mais e mais retornos financeiros.

É justamente nesse contexto que Pahóm conhece seu fardo e que percebe as trágicas consequências de seus desejos materiais. Esse contexto leva o leitor a compreender o próprio título do livro e a se perguntar, afinal: “De quanta terra precisa um homem?”. Eu ao menos me fiz essa pergunta durante a leitura e suponho que inúmeros outros leitores a fizeram.

Porém, neste texto, não pretendo me estender em reflexões ou posicionamentos subjetivos visando responder a tal indagação – isso seria demasiadamente longo. De qualquer forma, a leitura deste conto de Tolstói proporcionará uma resposta que me parece bastante adequada.

Antecipo: o excesso de terras levou nosso personagem a falência (mas trata-se especialmente falência de “espírito”, meus caros – e eis o grande problema. Eis o diabo, eis o grande “mal” e, parece-me que em nossa história, os males caminham junto com o excesso desenfreado de honrarias e superficialidades).

Leitura recomendada para aqueles que estão dispostos a refletir sobre a existência, de maneira geral, e também sobre a sociedade e condutas morais. A essência desse conto permanece sendo bastante presente nos dias de hoje – afinal, é isso que fazem os grandes gênios literários: obras atemporais.