As Virgens Suicidas

Dizem que tudo que é proibido é mais gostoso. Sofia Coppola, diretora e roteirista, consegue mostrar que não é bem assim logo em seu longa de estreia. As virgens suicidas é de 1999 e conta com um elenco de peso: James Woods e Kathleen Turner como Mr. e Mrs. Lisbon, um pai ausente e uma mãe repressora; Kirsten Dunst muito magra como Lux, a filha do casal que exala luxúria e Danny DeVito numa ponta, como Dr. Horniker.

O filme se passa em finais da década de 1970. A ambientação é bem clara: um subúrbio calmo, com pouca movimentação, crianças e adolescentes pelas ruas, jogando basquete nas garagens. E uma família aparentemente convencional: pai professor de matemática, mãe dona de casa, cinco filhas com idades entre 13 e 17 anos. Mas algo acontece ali, o que faz com que a filha mais nova tente suicídio.

A repressão provocada pela mãe e consentida pelo pai leva a algumas situações bizarras, como a retirada das meninas da escola e seu enclausuramento em casa. Os vizinhos adolescentes são uma ponte com o exterior, o que leva a cenas tocantes, como quando eles encontram um jeito de se comunicar com as meninas usando músicas e o telefone. Falando nisso, as trilhas sonoras nos filmes de Sofia Coppola são peculiares. Ela sempre mistura temas da época com rocks de uma forma que, de início, soa estranha, mas se revela bastante harmônica. Assim, é curioso ver a cena em que Mrs. Lisbon obriga Lux a queimar seus discos de rock e a garota se agarra a um bolachão do Aerosmith e outro do Kiss. A mãe, impiedosa, joga os LPs na lareira. Só por esta cena, Mrs. Lisbon deveria arder no mármore do inferno. Queimar vinil é coisa de herege!

Ao contrário do que parece, não é mais um filme adolescente, que mostra como garotos e garotas crescem e entram para a vida adulta. A primeira obra de Sofia Coppola mostra um pouco do que a diretora sempre leva às telas: depressão, privação de liberdade, falta de diálogo, abandono e solidão. São temas que ela trata também em Encontros e Desencontros e Maria Antonieta, seus longas de maior sucesso. Ela carrega um sobrenome de peso e uma necessidade maior ainda de provar que é boa de serviço. E consegue.