O Espetacular Homem-Aranha

POUCO ANTES DA ESTREIA DO FILME DOS VINGADORES, me perguntaram quais eram minhas expectativas sobre o lançamento. Imitei a nossa querida Kristen Stewart, mordi o beiço e disse que esperava muito mais de Homem-Aranha do que da trama com o super grupo da Marvel, que acabou me surpreendendo muito positivamente, ao contrário da sensação que ficou após conferir a refilmagem das aventuras de um dos heróis mais queridos das histórias em quadrinhos. Não é que o filme seja ruim, ele só não é muito bom, é daqueles que você realmente não se empolga assistindo e logo logo esquecerá.

É difícil estabelecer uma análise sem mencionar o longa-metragem lançado há apenas 10 anos: O Espetacular Homem-Aranha, de Marc Webb, muda elementos importantes da origem do personagem criado por Stan Lee, mas ainda assim fica na sombra de Homem-Aranha, de Sam Raimi. Seria injusto comparar as duas produções, já que as abordagens são distintas e cada uma tem o seu ponto forte, mas o principal defeito do novo filme é a sua completa falta de ambição. Webb é um diretor novo e que ainda tem muito para aprender e acrescentar para o cinema, vide o seu excelente (500) Dias Com Ela, mas parece tímido e não consegue nem mesmo ofuscar a grandiosidade do primeiro filme. Talvez parte do conceito de recriar um Peter Parker jovem tenha sido passar a impressão de que O Espetacular Homem-Aranha é um adolescente buscando seu lugar ao mundo e tentando disfarçar seu embaraço.

Se Webb não é o culpado, então será que podemos apelar para o compositor James Horner e sua trilha sonora contida? Novamente comparando com os filmes de Raimi, Danny Elfman não economizou em temas grandiosos e que casaram perfeitamente com a proposta da aventura de Peter Parker e o começo de sua jornada como herói. Horner até oferece momentos interessantes, porém não é nada inovador e chega até mesmo a repaginar um antigo tema da trilha de Titanic durante uma cena que acontece no telhado, com Parker ainda descobrindo seus poderes. Lembrando de uma das grandes qualidades de (500) Dias Com Ela, é surpreendente que Webb praticamente ignore a utilização de canções alternativas no filme, exceto pela bela cena em que Parker e Gwen Stacy flertam ao som de “Til Kingdom Come”, do Coldplay. O resultado é adolescente, babão, mas capaz de derreter quem já sentiu a tensão de convidar aquela pessoa para um primeiro encontro.

As principais diferenças do novo filme para o “original” (também é incômodo para vocês saber que já existe um remake de uma produção lançada há 10 anos?) é que somos apresentados aos pais de Peter Parker (Andrew Garfield) e descobrimos uma curiosa relação de sua família com a Oscorp. É um acerto abordar o Aranha através de sua adolescência e o começo do seu romance com Gwen Stacy (Emma Stone), ao contrário do que Raimi fez em seus filmes, deixando de lado o senso de humor clássico do herói para investir em crises de identidade e a eterna lição de que “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, frase que por sinal, nem é repetida no novo filme. Um absurdo ou uma ousadia?

Webb se aprofunda mais na personalidade Parker e na sua relação com seu tio Ben (Martin Sheen) e sua tia May (Sally Field). Ou seja, o roteiro é cuidadoso na maneira de desenvolver o personagem, e suas limitações e dramas, antes de apresentar o Homem-Aranha. O Peter Parker de O Espetacular Homem-Aranha é um adolescente nerd e bobão impossível de ser odiado, exatamente como nas clássicas histórias desenhadas por John Romita Jr. na década de 70: e Garfield não poderia ser uma escolha mais acertada para o papel. Seu quarto é decorado com um cartaz de Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, e com uma trava de segurança especial na porta. Além, claro, do computador com um papel de parede com a foto de seu amor platônico. A imaturidade do herói fica escancarada na cena em que ele se deita e começa a brincar no celular enquanto espera pelo primeiro sinal do seu inimigo. Mesmo Gwen Stacy ganha contornos especiais, ainda que bobinhos, como sua “vontade de morar numa casa de chocolate” ou suas roupas… ahnm… ousadas demais para uma jovem “cientista” da Oscorp.

Mas mesmo apresentando mudanças (em especial a ausência de personagens importantes nos três filmes anteriores – exceto por Norman Osborn, que espreita ao longo do filme inteiro sem nunca aparecer realmente), o roteiro do trio James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves insiste em repetir vários momentos que o público já viu antes. E o pior de tudo é que o 3D fajuto (de verdade, é completamente desnecessário e muito mal feito) da produção deixa as cenas ainda mais constrangedoras, como no momento desnecessário em que Peter testa seus novos poderes em cima de um skate fazendo manobras “super radicais”. No filme de Raimi tudo parecia mais natural, ao contrário do que acontece dessa vez. Ao assistir as acrobacias do personagem, foi impossível não se lembrar do chilique de Kevin Bacon em Footloose. Inclusive, existe uma cena em que Peter se pendura em uma corrente e se joga de um lado para o outro.

E por fim, insistindo nas comparações inevitáveis, o filme de Webb se aproveita justamente de um dos vilões favoritos de Raimi: o Lagarto. Diz a lenda que o diretor queria fazer Homem-Aranha 3 em cima do gancho criado nos dois filmes anteriores em cima do Dr. Curt Connors, mas que os estúdios insistiram pela inclusão de Venom e deu no que deu. Ainda que a atuação de Rhys Ifans seja um dos destaques de O Espetacular Homem-Aranha, o design final deixou o vilão com cara de palhaço. O CGI é incrível, com direito a belas sequências de ação em lutas (quase) empolgantes com o herói, mas aquela expressão facial simplesmente não funcionou.

No carnaval de emoções que O Espetacular Homem-Aranha tenta ser, no final das contas ele é exatamente o reflexo da personalidade de um adolescente: é coerente em suas confusões. Se começa como um thriller de investigação, se transforma em uma comédia romântica adolescente, flerta com o clima bizarro dos filmes de David Cronenberg, e finalmente se apresenta como um filme nada espetacular para um personagem tão querido quanto o Homem-Aranha.

 

Nota: