Cada Um Tem a Gêmea Que Merece

TIVE A INFELICIDADE DE SELECIONAR QUATRO DOS PIORES FILMES PRODUZIDOS EM 2011/2012 (sim, já vale) para assistir em sequência. Pessoas mais corajosas que eu já teriam desistido e pedido aposentadoria do Cinema de Buteco, mas acho que as várias horas que passei nos últimos anos devorando filmes slashers me deixaram resistente o suficiente. Até mesmo para lidar com o Adam Sandler em dose dupla.

Cada Um Tem a Gêmea Que Merece é horrível. Horrível. Não sei se ficou claro, mas ele é horrível. Sou fã do cabeça de ovo, costumo rir de suas piadas mais imbecis (será que significa alguma coisa?), mas sou incapaz de levantar a mão para defender o longa-metragem de Dennis Dugan (Esposa de Mentirinha). Especialmente por incluir Katie Holmes, que por mais que seja uma paixão adolescente guilty pleasure por sua atuação em Dawsons Creek, nunca me convenceu como atriz: ela tem uma cara de buldogue que nunca demonstra emoção. Ela consegue embrulhar meu estômago em Batman Begins, então dá para ter uma ideia de como vivo uma relação de amor e ódio com a esposa do Tom Cruise. Mas ela até passa em branco, aliás, se você se esforçar, dá até para perdoar o Adam Sandler por surgir em dose dupla e não ser nada engraçado; dá para perdoar Al Pacino por se humilhar e descer ao fundo do poço; mas não dá para perdoar o gênero de filme que Dugan e Sandler estão produzindo atualmente.

A dupla está inventando uma novelização global para as telas do cinema e ultimamente anda incluindo depoimentos de atores/pessoas do dia a dia e incluindo na cena de abertura e também durante os créditos, como maneira de ressaltar e valorizar a família, cultura e respeito. Sim, a mensagem é linda, todo mundo adora ver pessoas se abraçando, reconciliando, mas puta que pariu, né? Precisava ficar tão brega assim? O filme já é completamente mongol e sem a menor criatividade para realmente divertir o espectador que não resolve desligar o cérebro para assistir ao filme (a única risada – não estou brincando, eu ri mesmo – foi resultado de uma cena de violência física, em que uma personagem recebe uma sapatada na cara). E este é um ponto bem interessante: será que Sandler e seu novo diretor favorito menosprezam tanto seus próprios filmes, que o tornam indignos de serem assistidos até mesmo por crianças de cinco anos de idade? E essa necessidade de incluir personagens infantis, fazer o Sandler se repetir como pai de família irritadinho, e ter sempre um moleque “prodígio”? Só falta eles inventarem uma comédia found footage para comemorarem todos os clichês possíveis.

Cada Um Tem a Gêmea Que Merece conta a história de um homem que recebe a visita de sua irmã gêmea idêntica a ele, mas muito mais forte. E chata. Jack (Sandler) não suporta a irmã Jill e tenta de todas as maneiras se livrar da bruaca, mas só acaba criando várias confusões até que Al Pacino entra em cena e se apaixona por Jill. Nem mesmo Johnny Depp (com uma camisa do Justin Bieber) consegue acreditar na paixão avassaladora do colega de profissão, mas é como dizem: o amor é cego.

Mudei de ideia. Não dá para perdoar o Al Pacino. Independente dele fazer uma brincadeira com sua carreira e dizer para queimar o anúncio publicitário (o que serviria também como uma mensagem para o próprio filme), ele faz um número de dança e não é engraçado, é vergonhoso. E o personagem dele se apaixona pelo Adam Sandler. Deus, o Scarface apaixonado pelo cabeça de ovo mais estranho de Hollywood? O que foi que fizemos para merecer isso? Aliás, o que foi que o Pacino fez para se afundar tanto? Espero que seja a primeira e última parceria com Sandler em uma comédia família mongol.