Crítica de Os Sete de Chicago: potencial desperdiçado

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Crítica de Os Sete de Chicago: potencial desperdiçado

Aaron Sorkin tornou-se queridinho de Hollywood após escrever o excelente A Rede Social (2010) e ganhar o Oscar pelo trabalho. Em seguida, assinou o roteiro de O Homem que Mudou o Jogo (2011), outro filme de sucesso. Desde então, esteve envolvido no bem recebido, mas fracasso comercial, Steve Jobs (2015); e A Grande Jogada (2017), que Sorkin também dirigiu, com destino semelhante. Os Sete de Chicago (The Trial of the Chicago 7, EUA, 2020) gerou altas expectativas, uma vez que retrata um famoso acontecimento nos Estados Unidos.

Enredo

Sorkin tinha em mãos uma história poderosa sobre política e liberdade de expressão. Em 1969, Abbie Hoffman (Sasha Baron Cohen), Jerry Rubin (Jeremy Strong), David Dellinger (John Carroll Lynch), Tom Hayden (Eddie Redmayne), Rennie Davis (Alex Sharp), John Froines (Daniel Flaherty) e Lee Weiner (Noah Robbins) foram processados pelo governo dos Estados Unidos – na época, presidido por Ronald Reegan – por crimes como conspiração e cruzar Estados com o objetivo de incentivar rebeliões. Isto, no contexto de protestos feitos em Chicago, durante a Convenção Democrática de 1968. Motivo principal das manifestações? A Guerra do Vietnã.

Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) fez parte da acusação, mas foi removido posteriormente. Por isso, ele não aparece no filme como os demais. Mas já adianto que é um dos pontos altos, mesmo com um menor tempo na tela.

Adaptação

Os Sete Chicago já foram abordados em diversas produções artísticas, mas não farei aqui uma análise sobre a fidelidade de Sorkin aos fatos. Caso queira verificar isso com detalhes, CLIQUE AQUI. Com base no que li, o cineasta mudou algumas coisas, como de praxe em produções do tipo. Inventou, por exemplo, um ou outro personagem, fato, e transformou Richard Schultz (Joseph Gordon-Levitt) numa figura agradável. Particularmente, não gostei do último caso, pois era desnecessário e ainda tornou o desfecho dele estúpido.

Por outro lado, a abordagem política do filme é interessante e bastante válida. Aliás, encaixa-se perfeitamente num contexto em que vemos conflitos entre população civil e polícia cada vez mais, impulsionados pelas redes sociais digitais. Isso é bastante bizarro, pois fica claro que não houve grande avanço na segurança nos últimos 50 anos. Sorkin toma mais o partido do povo, vale ressaltar (não digo que os policiais não cometeram erros, mas alguns manifestantes também passaram dos limites e o longa dá pouquíssima visibilidade a isso).

Liberdade de expressão e racismo

Dois pontos reforçados no drama são a liberdade de expressão e o racismo. Após tudo o que vemos nos últimos anos ao redor do mundo, em nações que se dizem democráticas, Os Sete de Chicago se torna ainda mais relevante. Da mesma forma que a violência policial é presente até hoje, a perseguição a opositores do Estado ainda é realidade. E em países que não são, necessariamente, ditaduras.

O racismo nem se fala. Só de pensar que Seale (Abdul-Mateen II está fantástico) realmente foi colocado no tribunal amordaçado – não apenas uma vez como aparece no filme – me dá um nojo enorme. Cinco décadas depois, vimos George Floyd ser assassinado por um policial em plena lua do dia, asfixiado. É revoltante viver num mundo em que esse tipo de coisa acontece por causa da cor da pele de uma pessoa. Afinal, Julius Hoffman (Frank Langella) não amordaçou nenhum dos outros acusados. Não venha dizer que isso não é racismo, ou querer justificar o injustificável.

Decepção

A intenção de Sorkin foi legítima e ele tem êxito em alguns momentos. Porém, Os Sete de Chicago não é um filme que mexe com você, que te marca. É aquele tipo de produção que te entretém e meses depois você nem se lembra dela. Isso dói porque o potencial era enorme, ainda mais com um roteirista habilidoso como Sorkin por trás.

Os personagens são pobremente desenvolvidos, tendo apenas alguns discursos ou falas reflexivas. É difícil se envolver com uma história se não nos identificamos com a luta dos envolvidos. Redmayne, que interpreta um dos principais nomes, falha em chamar a atenção na tela como Hayden, que tornou-se um político de destaque no futuro. Na verdade, os pontos altos daqui são Cohen, Mark Rylance e Abdul-Mateen II.

Por fim, a cena final funcionou como um gatilho, pois causou em mim o mesmo efeito terrível do desfecho de Steve Jobs (2015): um fim, desculpe o termo, barato. Difícil de acreditar que o cara por trás de A Rede Social foi capaz de escrever uma cena daquelas.

Veredito

Veremos Os Sete de Chicago no Oscar 2021, sem dúvidas. Oscar bait até falar chega, Netflix por trás, Sorkin e um elenco estelar. Terá mérito em alguns quesitos, mas o filme não é isso tudo. Você vai ver e nem vai se lembrar depois.

 

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