Crítica: Eternos (Sem spoilers)

A Fase 4 da Marvel foi oficialmente iniciada em janeiro de 2021 com a série para o Disney Plus Wandavision. A produção recebeu 23 indicações no Emmy Awards desse ano e  foi um sucesso de público e crítica. Além disso, Wandavision indicou uma mudança dos estúdios da Marvel em deslocar-se de sua famosa “fórmula Marvel” e assumir riscos em suas obras futuras. Nesse sentido, Eternos, a mais nova estreia da Disney, se enquadra dentro das histórias que há dez anos atrás não imaginávamos que a Marvel iria contar. 

Os Eternos são uma raça de imortais superpoderosos que vieram à Terra há milhares de anos em uma missão liderada por Ajak (Salma Hayek, Casa Gucci) para livrar o planeta dos Deviantes, monstros gigantes que viviam nos oceanos.  A mitologia no filme é intensa: os Eternos foram criados por seres Celestiais e possuem uma relação de fé e devoção a eles. O que explica porque os Eternos não fazem grandes intervenções em conflitos dos humanos e nem apareceram para ajudar Os Vingadores contra Thanos nos eventos de Guerra Infinita e Ultimato. Eles devem obediência aos seus criadores apenas cumprem o que o seu deus Arishem determinou. 

As coisas começam a mudar quando os Deviantes retornam na Londres dos dias atuais e atacam Sersi (Gemma Chan, Let Them All Talk), Sprite (Lia McHugh, Isolados: Medo Invisível) e o namorado de Sersi,  Dane Whitman (Kit Harington, Game of Thrones) que não é um membro dos Eternos mas terá um papel importante no futuro do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Na batalha, eles são ajudados por Ikaris (Richard Madden, Game of Thrones), um dos Eternos com quem Sersi já foi casada e possui uma relação complicada. Para tentar entender os acontecimentos, eles buscam reunir todos os Eternos que haviam se separado centenas de anos atrás.

É por meio desse gancho que Chloé Zhao, diretora e roteirista vencedora do Oscar 2021 por Nomadland, explora o multiculturalismo da história. A cada introdução de um Eterno é mostrado como ele se adaptou ao local, à cultura e aos costumes de onde mora. Um exemplo interessante é o personagem de Kumail Nanjiani (Bless The Harts), Kingo que se tornou um ator famoso em Bollywood e sua participação é hilária. Completam o grupo de poderosos: Thena interpretada pela estrela Angelina Jolie e melhor performance do filme, é uma deusa da guerra que sofreu um trauma em uma das missões e vive reclusa em um deserto com seu amigo e também Eterno Gilgamesh (Ma Dong-seok, Alerta Vermelho). Phastos (Brian Tyree Henry de Atlanta), é capaz de criar tecnologias e invenções, Makkari (Lauren Ridloff de O Som do Silêncio) tem poder de super velocidade e Druig (Barry Keoghan, O Cavaleiro Verde) que consegue controlar mentes, um dos personagens mais complexos.

Por ser um filme de apresentação, Eternos não explora nenhuma das histórias individuais deles com muita profundidade. Em Vingadores a relação entre seus heróis foi construída filme a filme, aqui, em contrapartida, é necessário que a audiência compre rapidamente a ideia de uma família em busca de redenção. De certo modo, não é um feito fácil de atingir e, em alguns momentos, podemos questionar como um time que passou mais de mil anos lutando lado a lado não possui tanto senso de unidade. Tal estranhamento é mais notável no casal Sersei e Ikaris, que apesar dos esforços dos atores, não possuem muita química em cena. 

Por outro lado, a pluralidade é a essência e o coração da história. Ver esses heróis tão diversos em tela de forma tão natural e orgânica traz sentimentos de alegria. Lembro que fiquei genuinamente emocionada com a entrevista de Salma Hayek em que ela diz: “Você consegue imaginar fazer uma heroína aos 50 anos? Mexicana, mulher e com mais de 50?”. Durante o filme, pude revisitar esse entusiasmo em muitos momentos, é bastante satisfatório.

Embora não haja nada muito revolucionário em termos de fotografia e design de produção, os cenários e paisagens contemplativas são muito bonitas. As cenas de ação seguem um certo padrão já mostrado em filmes do subgênero com combates no ar, combates em locações afastadas e são utilizadas para exibir as habilidades de cada Eterno. 

Eternos têm recebido reações muito divisivas, diferentemente de Wandavision, mas acredito que Kevin Feige, produtor responsável por todas produções do MCU, estava contando com isso quando assumiu o risco de contar histórias distintas das fases anteriores. As expectativas podem ajudar a explicar a falta de consenso. Eternos continua, sobretudo um filme da Marvel,  apenas com uma atmosfera diferente que tenta levar a franquia para um nível superior. Nem sempre consegue, mas está no caminho. 

 

Karen Lopes