Crítica: Insurgente

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Suspensão de descrença é uma grande relação de custo benefício. O espectador de um filme abre a mão de acreditar na viabilidade de algo acontecer para em troca ser surpreendido com uma grande trama ou uma grande cena de ação. Podemos citar, por exemplo, na saga Star Wars, as cenas em que temos explosões no espaço, ou ainda, a existência de “espadas” com lasers brilhantes. As cenas de batalha espacial e as lutas com sabres de luz recompensam os fato do observador atento que lembra que não existe barulho no espaço nem tampouco lasers no formato de lâminas. Tudo faz parte do show.

Insurgente é o segundo filme da série Divergente, baseado na série de livros homônimos escrito por Verônica Roth: Divergente, Insurgente e Convergente. A ideia principal da série já havia ficado bem clara no primeiro filme, onde vemos a população mundial dividida em cinco castas: Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição; e aqueles que não se enquadrassem em nenhum destes grupos seriam praticamente banidos da sociedade.

Este é um grande trunfo das distopias, levar os espectadores para um futuro surreal para fazer críticas a nossa realidade, e no caso da série, a metáfora principal se dá no isolamento de pessoas que não se encaixam na sociedade atual, minorias que vivem a margem do padrão comum e que aparentemente não gozam dos mesmos direitos dos demais ditos normais.

No entanto, além da metáfora principal, a série Divergente peca muito em manter a coesão da narrativa. O roteiro não chega a ter o artifício Deus Ex-macchina, que sempre é um pecado mortal, principalmente em filmes de ficção científica, mas peca principalmente na coerência de seus personagens que parecem mudar de opinião rapidamente e sem motivos reais aparentes, servindo apenas de suspense para sustentar falsos plot-twists que mais enganam o público do que os surpreendem.

Em termos da ficção científica em si, Insurgente não traz muitas novidades, e sim apenas alguns elementos reciclados de Matrix, Star Wars e do recente Maze Runner.

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Há de elogiar as atuações de Kate Winslet e Shailene Woodley. A primeira goza de um prestígio que acaba engrandecendo um filme dito fraco se comparado com sua filmografia; e a segunda está seguindo uma carreira interessante alternando boas participações em filmes com apelo jovem como a série Divergente e A Culpa é das Estrelas com filmes mais “sérios” como Os Descendentes, de Alexander Payne. Estratégia esta que parece ter funcionado com Scarlet Johannson e Jennifer Lawrence, e a minha aposta é que ela segue o mesmo caminho.

E este é um filme de protagonistas femininas mesmo, pois a atuação de Jai Courtney, Mekhi Phifer, Theo James, Ansel Elgort e o próprio Miles Teller são apagadas como a importância de seus personagens.

Insurgente foi filmado em 3D e Comparando-se com outros que o antecederam é possível ver alguma evolução no uso da tecnologia, principalmente em cenas externas e bem abertas, onde os cenários mais afastados em profundidade de campo realçam e destaca o primeiro plano, trazendo beleza a cena, mas contribuem muito pouco, ou nada para a narrativa.

As próprias cenas de ação que deveriam ser o grande trunfo na relação custo benefício da suspensão de descrença acima descrita possuem uma sustentação lógica duvidosa e uma edição rápida e confusa, fazendo com que Insurgente entregue muito pouco em relação a falta de coerência que exige dos espectadores.

Só de lembrar que o último livro, Convergente, será dividido em mais dois filmes (parte I e II) eu já fico entediado, mas de certa forma, se o filme está fazendo sucesso entre os adolescentes e isso faz com que eles se interessem por outras distopias como 1984, Admirável Mundo Novo, Laranja Mecânica e Fahrenheit 451; a série já terá cumprido seu papel.