Guerreiro

EU NÃO SOU PROFUNDA ENTENDEDORA DE ESPORTES, muito menos de MMA.

Sinceramente, só sei o que é porque meu cunhado me deu uma aula intensiva de meia hora enquanto assistíamos ao UFC Rio. Inclusive, fui apresentada a Anderson “Aranha” Silva naquele dia. Gostaria mais do rapaz não fosse, após sua vitória, a citação filosófica de Buteco retirada de Tropa de Elite: “NUNCA SERÃO”. É, eu sei, o cara é o próprio Confúcio. Mas do que é que eu estava falando mesmo?

Ah sim, de Guerreiro. O mais novo filme de luta hollywoodiano, dentre os zilhões que já foram feitos. Confesso que quando vi o trailer fui preconceituosa e torci o nariz. Já gostava de Nick Nolte e Tom Hardy. Joel Edgerton (“Joel quem?”) me foi familiar, e numa rápida pesquisa cibernética descobri de onde o conhecia: não, não era de Animal Kingdom, mas sim de Guerra nas Estrelas! Não dava para passar despercebido um filme que tem Nick “F***” Nolte, Eames/Bane/Bronson e o tio do Luke Skywalker.

E REALMENTE é bom demais para passar despercebido.

O roteiro, meus caros leitores, é SIMPLES – para não chamar de CLICHÊ. É dramaticíssimo: aquela fórmula de família disfuncional de relações partidas, confusões mal-resolvidas, bebedeiras, mulher que apanha do marido, filhos que se separam…

Parece complicado mas Gavin O’Connor, diretor e escritor junto a Anthony Tambakis e Cliff Dorfman, são inteligentes e deixam toda essa problemática para trás. Fica lá, no passado, e o filme faz referências a ela de modo que o que nos resta são os pedaços. A gente vê os pedaços, a gente vive os pedaços e é isso aí. Bola pra frente? Nem tanto, meu bem. Numa família de lutadores, pai e filhos não se dão uns com os outros. O pai é um alcoólatra em recuperação. Um dos filhos é pródigo e à casa torna não tão receptivo e o outro tem família, é professor de Física e endividado até o pescoço. Aquele só quer do pai o treinamento porque prometeu ajudar a família de seu amigo e companheiro de guerra morto em combate; este precisa de dinheiro para pagar um empréstimo do banco senão perde sua casa. A solução: porrada. Eles vão competir no Sparta, grande prêmio de MMA, e quem vencer leva 5 milhões. Tá bom ou quer mais?

Com uma premissa shakespeareanamente simples, o diretor tem um leque de atores incríveis na mão. A direção do elenco principal é finesse puro. Edgerton está incrível neste filme, eu tenho que dizer. Diretamente dos confins do espaço sideral para a gaiola. Brendan é querido pelos alunos, amado pela esposa e pelas filhas. Ele é o irmão menos talentoso, o negligenciado. Mas é um lutador no sentido amplo da palavra, disposto a tudo pela família. É a definição do cara bom. É um homem legal, pô! E “raçudo pra danar”. Ser bonzinho nesses tempos em que o vilão é o mais querido não é fácil, e a profundidade dada por Edgerton é na medida. Hardy é o anti-heroi. Taciturno, esquivo, evasivo e nervosinho. A cena em que ele cuida do pai depois de uma recaída é de cortar o coração, sinceramente. O trabalho que ele fez para esse filme é espetacular: a figura acabrunhada, curvada e sombria; sotaque americano perfeito.

Tommy é só um apelido para Hardy. E Nick Nolte… esse homem dispensa comentários. É um saco falar de atores clássicos porque eu geralmente preciso de um espaço ilimitado de tempo para elogiá-los. Então, para encurtar, eu digo que o homem é fenomenal. Aquilo ali é coadjuvante que se preze, o resto é bobagem.

Esses irmãos são tão simpáticos e com motivos tão sinceros para vencer que fica difícil torcer para alguém. A fotografia vertiginosa é irritante de propósito: a gente fica naquela angústia para conseguir ver com clareza os movimentos das lutas, assim como os lutadores lutam para manter o foco e a respiração entre uma chave de braço e um soco na orelha. Os roteiristas e a equipe de preparadores físicos foram muito felizes na construção dos estilos de luta de Brendan e Tommy. São tão diferentes e ainda assim tão emocionantes! Brendan é o que agüenta a porrada e leva o oponente ao limite e Tommy é o grosso – entra, enche de porrada e vai embora enquanto o adversário chora as pitangas e as feridas abertas.

Apreciadores e leigos (como eu) vão adorar. Você literalmente se pega gritando para os caras se arrebentarem uns aos outros. É um negócio brutal, estou me sentindo um ser humano terrível… mas o filme é bom, o que é que eu posso fazer?

E quem é o guerreiro de Guerreiro? O futuro Bane? O tio do Luke Skywalker? ANDERSON SILVA?!?!? Assista, tenha uma catarse e decida-se depois… se puder.

Título original: Warrior

Direção: Gavin O’Connor

Produção: Lionsgate

Roteiro: Gavin O’Connor, Anthony Tambakis e Cliff Dorfman

Elenco: Joel Edgerton, Tom Hardy, Nick Nolte, Jennifer Morrison, Frank Grillo e Kevin Dunn

Lançamento: 18 de janeiro de 2012 (DVD)

 

Nota: