Filme: Agente do Futuro (Automata)

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Agente do Futuro começa com um letreiro explicando como as explosões solares eclodiram o cenário pós-apocalíptico que veremos a seguir. Logo depois, durante os créditos iniciais somos brindados com uma linda seqüência com travelings de câmera em fotos preto e branco explicando visualmente passo a passo todas as etapas que aquela sociedade passou até chegar no ponto inicial do filme. Tudo isso embalado por uma bela música barroca ao fundo. Com pouco tempo de tela percebemos uma grande sensibilidade estética empregada pelo diretor Gabe Ibáñez. Nestas mesmas fotos, o destaque fica para as crianças rindo ao colocar fogo num robô que assiste sua própria destruição sem esboçar emoção nenhuma, como era de se esperar.

Num mundo tomados por robôs fica difícil não notar uma grande influência do escritor Isaac Asimov, criador das Três Leis da Robótica. Os robôs em Automata são guiados por diretrizes muito semelhantes e assim como nos livros asimovianos, a história se dá a partir das conseqüências na sociedade geradas pela existência de praticamente um robô autômato para cada habitante.

O filme se desenvolve e somos apresentados a Jacq Vaucan (Antonio Banderas), um agente de seguros cuja função é mostrar para os consumidores que os robôs não apresentam defeitos de fabricação através de demonstrações das diretrizes de funcionamento dos mesmos. A partir daí temos diversas possibilidades de interação homem máquina, algumas velhos clichês como um policial bravo dizer para um robô que para morrer é necessário estar vivo, mas algumas outras inéditas que valem a pena.

É muito comum, por exemplo, utilizar robôs humanóides como uma metáfora para o desprezo que pessoas possuem aqueles que executam serviços domésticos. Em Automata existe uma cena em que dois robôs danificados vão atravessar a rua e recebem uma buzinada de um motorista. Na metáfora visual, fica claro que aqueles dois robôs estão representando deficientes físicos, e a crítica está sendo feita para aqueles que os consideram um fardo para a sociedade. Existe ainda uma interessante alusão as relações de trabalho, quando um subordinado se diz um pouco insatisfeito e recebe a seguinte resposta da chefia: “Eu preciso te lembrar o quanto você é afortunado por estar neste emprego?”.

Automata tem ótima fotografia e um grande destaque fica para a cena com cortes rápidos assim que o protagonista acorda no meio do deserto. A medida que a câmera abre, o espectador fica sabendo o que está acontecendo junto com Jacq Vaucan. Os pontos baixos ficam para as cenas de ação e para os personagens secundários que foram muito pouco desenvolvidos, ficaram desinteressantes e pouco agregaram a narrativa principal.

Zona de Spoilers

O grande pecado de um roteiro de Ficção Científica é o recurso Deus Ex-Macchina e muitos filmes pecam neste quesito. No começo da história ficamos com a impressão, pois vemos uma coisa dita impossível acontecer, mas pelo contrário da expectativa, Automata apresenta uma explicação extremamente plausível para a “revolução” das máquinas. O rompimento com a segunda proteção aconteceu por que foi ela foi criada para restringir a inteligência dos autômatos pelo primeiro cérebro nuclear criado, que não havia restrição. Fica subentendido que este cérebro ao criar as diretrizes já deve ter previsto que os autômatos conseguiriam um dia quebrar as restrições e realizar uma revolução.

Ainda sobre o tema principal do filme, a maior prova que aqueles autômatos eram mais evoluídos que o homem é que eles em momento algum quiseram dominar a raça humana e escravizá-la, recorrendo ao já batido efeito Frankenstein, da criatura se voltando contra o criador. Elas só queriam ir embora, diferente daquelas crianças mostradas numa das fotos da seqüência inicial.