Filme: O Anjo Exterminador (1962)

O Anjo Exterminador
Junto com Um Cão Andaluz, talvez seja o filme de maior reconhecimento de Luis Buñuel. Com um roteiro repleto de originalidade e com o aquele típico toque surrealista clássico do diretor, O Anjo Exterminador apresenta uma sátira ferrenha destinada à aristocracia.

No início da trama, tudo parece bem. Um rico casal convida um grupo de amigos para participar de um jantar formal que eles oferecem. Todos os convidados pertencem à classe média alta. Antes da chegada destes, algo interessante acontece: os empregados da casa, inexplicavelmente começam a abandonar o local. Por fim, as pessoas chegam, as horas passam, tudo corre bem, todos esbanjam luxo e se divertem. Até que, por fim, em certo momento, decidem ir embora. Aqui surge a primeira grande surpresa do filme que servirá como fio condutor do restante da história: os convidados não conseguem sair da casa. Percebem-se presos numa das salas da mansão. Passam-se os minutos, as horas, semanas e os dias. E todos permanecem no mesmo ambiente. Aliás, este espaço será o plano principal do longa-metragem que possui poucas cenas no mundo externo.

Perguntamo-nos: qual é o problema? O que impede que aquelas pessoas retirem-se? Simplesmente a porta de suas mentes e de seus corações que se fecharam criando barreiras imaginárias, e fazendo deles reféns de suas próprias naturezas primárias, pois conforme o tempo passa, o perfil elegante e fino dos personagens, aos poucos, vai se deteriorando e dando espaço na atitudes desesperadas e primitivas, repleta de instintos selvagens. O banheiro, por exemplo, passa a ser improvisado de maneira escrupulosa, os desejos sexuais fora de controle aparecem, a fome, a sede e, por fim, a morte, assombra aquelas pessoas, e tudo isso, é trabalhado por Buñuel para soar da forma mais irônica possível. Os personagens vagam do luxo ao lixo. Ao lixo de suas futilidades e de suas mentes vazias, ao lixo que eles próprios criaram para si através de seu aprisionamento simbólico.

Fora dessa sala em que se encontra o grupo de amigos e desse ataque de Buñuel para com a burguesia, a Igreja aparece no filme como outro aspecto que chama a atenção. A Religiosidade é um tema que foi satirizado e condenado em outros filmes do diretor. Em O Anjo Exterminador alguns elementos fazem alusão ao tema. Existem quadros com temáticas religiosas na sala em que os personagens encontram-se barrados que demonstram ironia em relação à ocasião. Talvez porque a Religião possa aprisionar o homem que, por vezes, se amarra cegamente à transcendência de maneira alienatória. Os cordeiros que entram na casa em certo momento do filme são animais que aparecem na Bíblia. Talvez uma referência ao patamar elitista da sociedade que se comporta de maneira padronizada.

Enfim, é um filme rico com uma história que se propõe a esculachar a hipocrisia de uma classe social. Não foi o mundo que se fechou para a elite. Foi a elite que se fechou para o restante do mundo através de sua posição social separatista. Se a classe burguesa procura isolar-se e separar-se do restante, em O Anjo Exterminador, ela finalmente atinge essa proposta com grande êxito de maneira literal através de uma edificação imaginária de barreiras.