Filme: Prometheus

Devemos responder as perguntas existencialistas? Ou a procura pela nossa origem pode significar o nosso fim?

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Na mitologia grega, Prometeu é um titã, grande defensor da humanidade, conhecido por sua astuta inteligência e conhecido por ter roubado o fogo dos Deuses para entregá-lo aos humanos. Zeus teria então punido-o por este crime deixando-o amarrado a uma rocha por toda eternidade enquanto uma grande águia comia diariamente seu fígado que se regenerava para ser devorado novamente.

O nome do titã, além de ter nomeado o audacioso projeto de Ridley Scott, também nomeia a nave espacial que viaja da Terra a LV-223, um planeta com características parecidas com a da Terra. Através do estudo de figuras encontradas em escavações de diversas civilizações antigas, concluiu-se que neste planeta poderia estar a resposta para a origem da vida na Terra, e que o mapa desenhado por eles nas cavernas nada mais era do que um convite para a humanidade.

Prometheus já começa grandioso, com cenas cheias de referências a clássicos da ficção científica como 2001, uma Odisséia no Espaço de Stanley Kubrick e acaba sendo tão ambicioso quanto em termos de complexidade e profundidade filosófica. Sendo o tema principal girando em torno da mistura entre fé religiosa e ceticismo científico acerca das questões existencialistas mais profundas.

O destaque fica para a fotografia e o visual desenvolvido por H. R. Giger, um artista plástico suíço muito requisitado em Hollywood e que já havia colaborado com Ridley Scott em Alien, o Oitavo Passageiro. O ponto fraco são alguns problemas no roteiro, quando o espectador fica com dificuldade de entender as motivações de certos personagens e conseqüentemente a justificativa de suas ações.

Assim como no já mencionado Alien, o filme marca pontos em termos de representatividade com suas personagens femininas fortes, tanto a comandante da missão Meredith Vickers (Charlize Theron) quanto Elizabeth Shaw (Noomi Rapace). A cena em que as duas discutem o destino da missão é confirmação de que o filme passa no Teste de Bechdel com louvor.

Nas atuações o destaque fica para o eclético e competente Michael Fassbender que criou o personagem mais intrigante da tripulação, um robô autônomo humanóide extremamente competente a ponto de tocar sozinho uma missão interplanetária enquanto os demais hibernam, ou ainda decifrar códigos alienígenas, mas ao mesmo tempo é amargurado com a sua condição de subserviência a uma causa que considera fadada ao fracasso.

E por conta desta característica, a referência a Lawrence da Arábia tenha sido acertada, uma vez que o protagonista encarna o arquétipo da figura que não se enquadra no ambiente em que está inserido, assim como Lawrence (Peter O’Toole), ele já havia perdido a identidade inglesa, mas nunca se tornou um árabe de verdade. David se frustra por não poder realizar-se em toda a sua potência e também se sente um peixe fora d’agua.

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E por fim, o uso da tecnologia 3D merece críticas, uma vez que a maioria das cenas de ação são no escuro e pouco nítidas. A tecnologia 3D não agregou em nada na narrativa do filme, servindo apenas de engodo para a ambiciosa produção de Ridley Scott.

 

Zona de Spoilers

Existe uma rima narrativa muito interessante entre Blade Runner e Prometheus em relação à imortalidade. Se no primeiro temos replicantes indo atrás de seu criador para lhe pedir mais vida, no segundo são os humanos que fazem uma viagem interplanetária em busca de suas origens, e ao chegar lá vemos o desejo de ser imortal sendo manifestado pelo patrocinador da missão.

Mas minha discussão preferida que está presente em Promethues manifesta-se em dois diálogos envolvendo David. O primeiro com Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) na nave e o segundo com Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) já no encerramento do filme, antes dela partir do planeta LV-223.

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No primeiro, David pergunta a Charlie o que ele espera encontrar ali. E ele responde que a esperança dele é de ter encontrado o seu criador, numa epifania científico-religiosa. David responde que ele, mesmo sendo um robô, conhece o seu próprio criador e não vê nada demais nisso, enfatizando que esta descoberta poderia revelar-se decepcionante. Só depois de ter a confirmação de que Charlie estaria disposto a fazer tudo para encontrar suas respostas, David coloca o dedo contaminado dentro do copo de Charlie.

No segundo diálogo, já para o final do filme, temos David insistindo para Elizabeth que ela voltasse para a Terra, mas ela afirma que quer ir para o planeta de origem daquelas criaturas. Após repetir o mesmo discurso de antes, David recebe uma resposta diferente: “Você pode ter se decepcionado, mas você é um robô e eu sou uma humana. Eu tenho a minha fé.”

Será mesmo que devemos responder as questões existencialistas? Será que nós também podemos nos decepcionar com as respostas? Se resolvermos realmente as questões mais primordiais da vida e do universo, será que encontraremos motivação para ir adiante? A minha impressão é que a busca pelas respostas é mais nobre do que as respostas em si. A jornada é mais valiosa do que o destino final. Por que a busca por nossas origens podem se transformar na nossa extinção.

Texto originalmente publicado no Art Perceptions

Trailer

 

Informações Técnicas

  • Diretor: Ridley Scott
  • Roteiro: Jon Spaihts, Damon Lindelof, Dan O´Bannon, Ronald Shusett
  • Trilha Sonora: Marc Stretenfeld
  • Diretor de Arte: Dariusz Wolski
  • Gênero: Drama, Aventura, Mistério, Ficção Científica
  • Ano: 2012
  • Duração: 2h04
  • Elenco: Charlize Teron, Michael Fassbender, Noomi Rapace, Logan Marshall-Green,

 

Referências

Prometheus

Ridley Scott

Blade Runner

Alien

2001, uma Odisséia no Espaço

Lawrence da Arábia