Jogos Famintos

Jogos Famintos

JOGOS FAMINTOS É POSSIVELMENTE O MELHOR FILME DA CARREIRA DA DUPLA JASON FRIEDBERG E AARON SELTZER – e afirmo isso com a propriedade de alguém que teve a coragem (eufemismo para “impulso suicida”?) de conferir toda a obra dos cineastas. Naturalmente, minha afirmação não deve ser mal interpretada: por razões que discutirei a seguir, a sexta paródia comandada pela dupla consegue se sobressair diante das anteriores, mas ainda assim se estabelece como uma enorme e completa atrocidade, que deveria (embora não vá) sepultar de uma vez por todas as carreiras de todos os envolvidos.

Diferentemente do que ocorria nos trabalhos roteirizados e dirigidos anteriormente pela dupla, este longa apresenta uma narrativa ligeiramente mais coesa – e sinto calafrios por ser obrigado a fazer uma constatação como essa sobre um roteiro tão patético. Enquanto Uma Comédia Nada Romântica, Deu a Louca em Hollywood, Espartalhões, Super-Heróis: A Liga da Injustiça e Os Vampiros Que Se Mordam pecavam gravemente ao investir na construção de um mosaico esquizofrênico de referências a produções populares diversas e sátiras aos clichês dos gêneros que supostamente pretendiam tirar sarro, Jogos Famintos prefere, de modo geral, reproduzir a estrutura narrativa de Jogos Vorazes (que é consistente), modificando o comportamento dos personagens na tentativa de construir gags e eventualmente inserindo referências a produções aleatórias como Oz: Mágico e Poderoso, Os Mercenários 2 ou à franquia Harry Potter – que, claro, soam sempre deslocadas.

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Como já mencionado, esse singelo mérito não é muito vantajoso: no decorrer dos longos 80 minutos de filme, Seltzer e Friedberg se limitam a reimaginar um apanhado de cenas de Jogos Vorazes, alterando o sentido de cada uma delas da forma mais trivial e óbvia possível, confiando que a simples quebra de expectativa é algo cômico por si só: se a Katniss Everdeen de Jennifer Lawrence se comovia ao descobrir que sua irmã fora selecionada para a competição sangrenta, a Kantmiss Evershot da insípida Maiara Walsh prefere comemorar de forma eloquente. Desse modo, embora razoavelmente coesa, a narrativa revela-se absurdamente estúpida, ilógica e suficientemente previsível, carecendo grave e principalmente de graça – algo preocupante para uma produção que pretende se passar por comédia.

E até os realizadores parecem ter alguma consciência disso – algo que fica sugerido na cena em que Effoff (Lauren Bowles) sorteia diversos nomes com trocadilhos adolescentes (que deixariam os responsáveis por As Aventuras de Agamenon, o Repórter orgulhosos) e os habitantes do Distrito 12 caem na gargalhada, já que o espectador  provavelmente não o fará (afinal de contas, alguém precisa rir do “brilhantismo” de nomes como Hugh Janus e Phil Mahooters). Ainda nesse sentido, os diretores abusam da picaretagem ao incluir erros de gravação (decisão comum em comédias, especialmente nas sem graça) não acompanhando os créditos finais, mas antecedendo-os, como parte integrante do filme, projetados no telão disposto no pátio do Distrito 12 – o que toma um tempo precioso que, eliminado do corte final, poderia diminuir a tortura.

Jogos Famintos

Felizmente (de novo: quanta angústia por ter de usar um termo positivo por aqui!), piadas sexuais, escatológicas ou de extremo mal gosto marcam menor presença em Jogos Famintos – mas estão lá, ao lado dos tombos, pancadas, estereótipos homossexuais ofensivos e outras baboseiras. Já do ponto de vista técnico, o filme é um fracasso colossal: o baixo orçamento não chega a prejudicar a credibilidade do ambiente que sedia os tais jogos (afinal, é apenas uma floresta), mas o acampamento que é apresentado como sendo o Distrito 12 afronta à inteligência do espectador, os erros de continuísmo são irritantes (repare como o merchandising da barba do personagem Seleca muda dentro de uma mesma sequência) e os efeitos especiais (com destaque para os empregados na criação de fogo) estão facilmente entre os piores da história do Cinema.

Lançado com muito menos alarde que as comédias anteriores da dupla (esta é a primeira da carreira de Friedberg e Seltzer que não passa pelas telonas brasileiras), Jogos Famintos talvez possa representar um primeiro passo rumo ao fim da onda de paródias pavorosas que vem assombrando o Cinema atual – e a esperança de que coisas como A Saga Molusco – Anoitecer, Inatividade Paranormal e 30 Noites de Atividade Paranormal Com a Filha dos Homens Que Não Amavam as Mulheres não sejam mais produzidas é algo que vale a pena alimentar. Por isso sim estou faminto.

Título original: The Starving Games
Direção: Jason Friedberg e Aaron Seltzer
Roteiro: Jason Friedberg e Aaron Seltzer
Elenco: Maiara Walsh, Cody Allen Christian, Brant Daugherty, Diedrich Bader, Theo Crane, Dean West, Kennedy Hermansen, Chris Marroy.
Lançamento: 20 de março de 2014, em DVD e Blu-ray
Nota:[meia]