Halloween – A Noite do Terror

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O SUBGÊNERO SLASHER MOVIE PODE ATÉ NÃO TER SIDO UMA IDEIA DE JOHN CARPENTER, mas foi o diretor quem codificou as inúmeras obras que precederam Halloween, de 1978. Tobe Hooper havia dirigido O Massacre da Serra-Elétrica quatro anos antes, mas o Leatherface era apenas uma ameaça e não um personagem como Michael Myers, que influenciaria a criação de Jason Voorhees, de Sexta-feira 13, e Freddy Kruger, de A Hora do Pesadelo. Mais do que um filme de terror, Carpenter criou um clássico inesquecível e indispensável para qualquer um que se considere “entendido” do gênero.

Laurie (Jamie Lee Curtis) é uma adolescente feliz da vida que ganha o seu dinheiro trabalhando como babá enquanto dispensa a companhia dos rapazes. Ela é totalmente o oposto de suas duas amigas, Annie e Linda, que são verdadeiras adeptas da cultura do rock n’roll e preferem aproveitar o trabalho de babás para transar com seus respectivos namorados, especialmente numa noite de Halloween, quando tudo é permitido. O que as jovens não imaginavam é que um assassino maluco fugiu de um hospício e está com sangue nos olhos para dar game over em quem ele encontrar pela frente.

halloween 1978

Se a gente parar para analisar o roteiro escrito por Debra Hill e o próprio John Carpenter, certas questões ficarão no ar. Por que diabos Michael Myers cismou com Laurie? Como exatamente ele se lembrava de onde morava depois de 15 anos longe de casa? Dentre outras questões que poderiam abalar a fé dos admiradores da obra. As “falhas” do roteiro são perdoáveis, já que Carpenter compensou bastante com os vários méritos de Halloween. Um deles é a marcante trilha sonora. O filme começa com uma abóbora assustadora sendo iluminada por velas enquanto a câmera se aproxima lentamente. É bem simples, mas o poder do tema musical causa arrepios nos espectadores de primeira viagem, e naqueles que estão assistindo pela vigésima sexta vez. Carpenter também assinou a trilha sonora, que basicamente é composta por dois temas. Um para criar o suspense em cenas que podemos ou não ser surpreendidos, e o tema principal que é tão reconhecido quanto a música de O Exorcista ou Tubarão.

Ainda falando dos primeiros minutos de Halloween, seria um pecado imperdoável deixar de chamar a atenção para a introdução. Com um uso sensacional da Steadicam (câmera que fica acoplada no corpo do operador), o espectador se torna os olhos de um assassino e acompanha todos os seus passos até cumprir o objetivo de matar uma garota semi-nua. Ao lado do menininho andando de velotrol em O Iluminado, talvez esta seja a minha demonstração favorita do uso da Steadicam no cinema.

HALLOWEEN ANNIE

Michael Myers é um personagem forte. Quase onipresente. Depois de visitar a casa dos Myers, Laurie passa a ver o vulto do gigante com a máscara do Capitão Kirk, de Star Trek, em todos os lugares. Carpenter é eficiente ao criar o suspense aos poucos, com o vilão cercando suas presas lentamente até deixar uma sensação desconfortável de sufoco em todos os envolvidos, especialmente o espectador. Um exemplo é o momento em que, com a câmera fixa, Laurie se afasta e é possível ver apenas parte do rosto e o ombro de Myers observando a sua futura vítima.

Carpenter economiza nas cenas de violência gráfica em prol da tensão, que explode durante o ato final, após Laurie descobrir que todos os seus amigos estão mortos. O desespero toma conta da personagem e, graças ao talento ímpar do cineasta, somos presenteados com uma sessão de fortes emoções, incluindo o primeiro confronto de Michael com Laurie. Enquanto ela chora sem parar pela morte dos amigos, em uma cena recheada de sustos, Michael surge do meio da escuridão (ou das trevas) para acabar com a última vítima da noite e bater o ponto direto para o inferno. Há ainda uma curiosa rima, quando posteriormente, Laurie e Michael se levantam aos mesmo tempo. Para quem conhece a história, é o primeiro sinal de que TALVEZ John Carpenter tenha feito o roteiro já pensando em deixar claro que Laurie é irmã de Michael, e a cena mostra essa estranha sintonia entre os dois.

Halloween é um clássico obrigatório e se você não viu ainda, dê um jeito de corrigir isso urgentemente. Foi apenas o terceiro filme dirigido por Carpenter, que logo depois ganharia reconhecimento como um dos mestres do terror: ele ainda dirigiria A Bruma Assassina, O Enigma de Outro Mundo (clique para ler a crítica), O Príncipe das Sombras, Christine – O Carro Assassino, À Beira da Loucura, dentre outras de suas obras.

ps: Rob Zombie dirigiu uma refilmagem em 2007. A maioria das pessoas detestou, mas eu gostei da nova ideia do personagem. Foi bom para “conhecer” mais da infância de Michael.

poster halloween

Nota:[quatroemeia]