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Crítica: Vingadores Ultimato (2019)

POSTER VINGADORES ULTIMATOO CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A Crítica de Vingadores Ultimato possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.

VINGADORES ULTIMATO É A CONCLUSÃO PERFEITA DA SAGA DE 22 FILMES PRODUZIDOS PELA MARVEL. Estranhamente não é apontado como o último trabalho da Fase 3, cuja responsabilidade será de Homem-Aranha: Longe de Casa, mas ainda assim é a cereja do bolo para os fãs dos maiores heróis do mundo. Ainda assim não é a obra perfeita dos estúdios ou produção livre de qualquer problema.

Desde 2008, quando os estúdios da Marvel começaram a se aventurar por esse território da sétima arte numa espécie de experimentação, muita coisa mudou. Nós, como público dessas histórias, crescemos e adquirimos novas responsabilidades, mas sem nunca deixar de ter carinho e interesse em seguir revisitando nossos heróis favoritos.

Sei que muitos afirmam terem se cansado desse universo repetitivo em que nada de novo acontece. Acho que é injusto querer dizer isso sobre as produções da Marvel e ignorar todos os outros filmes que são lançados por aí usando fórmulas batidas e tentativas pífias de se basear na jornada do herói. No entanto, como disse, a gente mudou muito desde que Homem de Ferro foi lançado em 2008.

Talvez seja exatamente por isso que após 11 anos, os estúdios tenham decidido “encerrar” uma era aposentando seus principais personagens em grande estilo para recomeçar tudo novamente apresentando novos protagonistas para um público que se renova cada vez mais – e que sempre poderão revisitar as produções anteriores sentindo todo o frescor de uma boa novidade.

Afinal, ninguém resiste a uma boa narrativa e isso a Marvel soube fazer muito bem durante a jornada que trouxe seus personagens para o “end game” contra o supervilão Thanos. Tive a chance de fazer uma maratona com todas as obras e posso dizer que é uma experiência deliciosa ter acompanhado essa história e visto todos os episódios dessa imensa série na telona.

Escrevi isso tudo porque para AMAR Vingadores Ultimato e ignorar seus possíveis defeitos, foi necessário entender a força desse fenômeno monstruoso conduzido por Kevin Feige e toda a equipe Disney/Marvel. Contextualizar é importante.

Vamos lá para a crítica de Vingadores Ultimato agora.

critica vingadores ultimato 2O maior problema de Ultimato é competir contra seu significado e toda a expectativa gerada ao longo desses onze anos. Talvez seja por isso que o excesso de auto referenciação tenha me deixado naquela linha tênue entre a aceitação e a revolta. Como produto solitário, Ultimato deixa aquela sensação de WTF está acontecendo. Agora, como um episódio final de uma temporada de 22 episódios, bem, aí não tem como achar ruim tudo ser uma grande autoreferência.

Outro ponto importante: funciona, sabe? Todo o excesso de olhar para seu próprio passado é uma imensa homenagem a todos os momentos dos nossos heróis. Temos a aparição surpresa de Robert Redford revivendo o vilão de Soldado Invernal; Steve Rogers entrando num elevador e repetindo as MESMAS palavras que ouve dos seus adversários numa cena idêntica em Soldado Invernal; Loki sendo Loki; e muito mais. Esses detalhes fazem toda a diferença, então… como realmente achar isso um defeito?

O roteiro trabalha com o conceito de viagem no tempo – e isso torna Vingadores Ultimato um belo representante desse tipo de subgênero, embora os personagens façam questão de destruir tudo que a gente achava que entendia sobre viagens no tempo. Chame de excesso de confiança ou pretensão, mas é o que a narrativa propõe.

Como todo filme de viagem no tempo, ou “assalto no tempo”, como diz o Homem-Formiga, existem pequenas confusões no ar. Não é que todas as perguntas levantadas e deixadas sem respostas sejam o suficiente para a gente reclamar do filme, mas eu seria um fã muito mais feliz sem ter milhares de dúvidas que ninguém terá nenhuma resposta para oferecer durante um bom tempo.

(COMO DIABOS ESTÁ TUDO BEM QUE CINCO ANOS TENHAM SE PASSADO E ELES NÃO DECIDIRAM VOLTAR NO TEMPO PARA ANTES DO THANOS ESTALAR OS DEDOS? Enfim)

Os diretores concentraram sua atenção em quem era mais importante, no caso, o nosso grupo de heróis originais. Danem-se os que vieram depois. O foco é desenvolver e concluir o arco de histórias do Thor, Capitão América, Gavião Arqueiro, Hulk, Viúva Negra e Homem de Ferro. Os outros são figurantes de luxo.

Inclusive, tanto se falou sobre a Capitã Marvel ser a grande salvadora dos heróis, e porra, tudo acontece graças ao Mickey Mouse. Se não fosse um rato, não tinha filme. A impressão é que a personagem de Brie Larson foi simplesmente introduzida para conduzir o futuro da Marvel. No final da história, quando acontece a grande guerra final, a Capitã surge destruindo o arsenal pesado de Thanos sozinha (e sem grandes esforços), mas o roteiro trata de dar uma enfraquecida na heroína quando as outras guerreiras surgem “oferecendo apoio”. A Capitã Marvel não precisa de apoio…

Claro que essa cena em especial está lá por um motivo bem importante: Machistas cuzões, vocês vão ter que aceitar que existem mulheres chutando traseiros e ponto final. No entanto, a cena parece pouco natural dentro do ambiente de zona de guerra e ainda causa um estranhamento diante toda a capacidade da Capitã.

De qualquer maneira, o retorno de todos os heróis no final (com direito ao Falcão Negro fazendo uma referência direta a Soldado Invernal ao dizer “On your left”) é MUITO emocionante. É fácil apontar esse momento como um dos momentos mais importantes de Ultimato, pois vai muito além de trazer novos guerreiros para vencer as forças de Thanos, é simplesmente uma mensagem de esperança para vencer os confrontos mais improváveis. É bonito pra caralho.

A força de Ultimato está na dedicação do roteiro para três personagens em especial. Queria dedicar espaço para comentar o sacrifício da Viúva Negra, a raiva do Gavião ou o Hulk controlando seus poderes, mas não é isso que importa realmente em Vingadores Ultimato. Se no excelente Guerra Infinita, era Thanos que tinha a atenção (e sem isso, Ultimato não funcionaria tão bem), agora tudo está em cima do Thor, Capitão América e Homem de Ferro.

Primeiro temos o Thor, que após se sentir culpado por não conseguir reverter as ações de Thanos, se isola do mundo. Sofrendo uma grande depressão e usando o álcool como uma grande muleta, o herói ressurge mais gordo que uma baleia e isso gera a piada brilhante em referência ao filme O Grande Lebowski, dos irmãos Coen. A oportunidade de voltar ao passado e se fortalecer espiritual e mentalmente para conseguir sua vingança, faz com que o asgardiano seja um dos personagens que mais cresceram ao longo de toda a jornada cinematográfica da Marvel. Quem diria que esse cara chato viraria o herói mais legal?

Segundo temos Steve Rogers, que não consegue aceitar seu próprio fracasso (frase forte dita pelo vilão Thanos no ato final) e dá tudo de si para consertar as coisas. Todo o espaço para as piadinhas (como ele falar palavrão numa cena ou ter um bumbum digno da América) ficam esquecidas quando ele consegue erguer o Martelo do Thor (na cena mais PUTA QUE PARIU, QUE DO CARALHO do filme) e luta de igual para igual contra o vilão. Já no final, Steve aproveita a chance de viver no passado e aproveitar a vida que nunca teve ao lado de Peggy Carter.

Mas… nem o Thor ou o Capitão chegam próximo do que Ultimato faz por Tony Stark. Se tudo começou com ele, nada mais justo que terminar com ele também. Quando volta ao passado, Tony tem finalmente a chance de se reconciliar com o pai. Esse mesmo Tony, que precisou abrir mão da sua filha Morgan no futuro destruído pós-Thanos, é o cara que faz os grandes sacrifícios antes mesmo de tomar para si as Joias do Infinito e causar a derrota de Thanos. É um arco completo, e realmente difícil de querer reclamar ou apontar defeitos.

Escrever a crítica de Vingadores Ultimato é difícil porque é tanta coisa, que não sei nem por onde começar ou como dedicar atenção necessária para tudo que acontece. Não vou escrever mais de uma crítica de Vingadores Ultimato, então terei que me contentar com essa aqui.

Ainda não posso dizer se gostei tanto de Vingadores Ultimato por tudo que ele significa ou se pelos méritos individuais da obra, mas a grande pergunta é como se analisa esse filme por si só e ignora todo seu passado? Eu não consigo e não vou perder tempo fazendo o que teoricamente deveria ser o correto a ser feito quando se pensa em crítica de cinema.

A coerência está em aceitar Ultimato como o capítulo final de uma longa série cinematográfica que depende MUITO dos seus episódios anteriores para fazer 100% de sentido na mente do público. Seria injusto avaliar uma série apenas pelo seu episódio final (estou olhando para todos vocês que criticam LOST) e deixar de levar em consideração tudo que passamos para chegar lá.

Os onze anos de atividades da Marvel nos ensinaram que é tudo sobre a jornada e não sobre o destino final. Até porque nada tem um fim se tratando de heróis.

Veja a edição do 365 Filmes em um Ano com a crítica de Vingadores Ultimato clicando aqui ou logo abaixo: