critica de raw

Crítica de Raw (2016)

raw-posterSOU VEGETARIANO DESDE 2013. Estou longe de ser militante de “você vai pro inferno por comer carne” ou falar por horas sobre a crueldade animal. Do mesmo jeito que a pessoa escolhe acreditar em Deus ou torcer por um time de futebol, eu escolhi esse estilo de vida. Em Raw temos uma produção sobre canibalismo que começa exatamente a partir da premissa de um personagem vegetariano.

Escrito e dirigido pela cineasta francesa Julia Ducournau (que já merece até uma edição na nossa lista de melhores filmes dirigidos por mulheres), Raw conta a história de uma jovem vegetariana que entra na faculdade de veterinária e descobre que seus colegas são extremamente carnívoros. Durante um ritual de iniciação dos novos alunos, ela é obrigada a comer um pedaço de carne e isso causa sérios efeitos colaterais em sua vida.

Recentemente li, por indicação da escritora (e também nossa redatora) Graciela Paciência, O Jantar Secreto, de Raphael Montes. O livro fala sobre um grupo de jovens que começa a promover jantares super sofisticados servindo carne humana. Impossível não lembrar dessa obra para fazer a recomendação, caso apreciem essa temática de canibalismo – que não me parece ser um tema que recebe tanta atenção do cinema.

+ Filmes dirigidos por mulheres

Raw é arrepiante. Sem apelar para a violência gráfica gratuita ou criar cenários altamente improváveis, a trama se desenvolve como um tipo de metáfora para o próprio desejo sexual. Justine (numa atuação excelente de Garance Marillier) chega na escola como uma virgem CDF que irrita os professores por sua inteligência. Criada numa família conservadora, é normal que ela seja uma garota reprimida. A partir do momento em que comete o primeiro ato de “transgressão” e come a carne animal, ela começa a se transformar internamente com um desejo incontrolável por mais e mais carne. A surpresa é notar que a sua irmã passou pelo mesmo, mas agora ela possui mais controle sobre o seu desejo.

Existem cenas memoráveis, como quando Alexia decide apresentar o “estilo brasileiro” para a irmã e acaba descobrindo os hábitos alimentares dela; a cena em que Justine tenta converter seu colega de quarto gay e depois leva um esporro homérico (“Não passei a vida lutando para me assumir pra chegar na faculdade e começar a comer garotas”); dentre outros momentos que tornam Raw uma dica preciosa.

Indicado para quem não tem estômago fraco, Raw é presença certa em nossas listas de final de ano. Ou você acha mesmo que nós poderíamos deixar uma produção sobre canibalismo fora das recomendações de filmes de terror? Não mesmo. Filmaço!