Love is in the Air. Especial de Junho Parte 1: Apenas o Fim

De Matheus Souza. Com: Gregório Duvivier, Érica Mader.
Se existe a proposta de um mês de Junho recheado de romantismo, porque não falar também de filmes que pensem sobre o amor na medida em que ele se desconstrói, que pára de existir, dando lugar à outro sentimento? Término de relacionamento não deveria ser motivo de filme pra dia dos namorados. Mas eu ainda acho que é nesses momentos de desvelamento de uma relação, quando não há nada, além do fim, é que algumas das reflexões mais verdadeiras sobre o amor aparecem.
Dizer que Apenas o Fim é o “retrato de uma geração” pode ser perigoso. Mas não de todo ilegítimo. Antônio (Gregório Duvivier) chega em sua faculdade para mais um dia de aulas quando é comunicado por sua namorada (Érica Mader, com ares de Natalie Portman em Hora de Voltar) que ela está indo embora. Restam-lhes apenas uma hora para a despedida. Sexo no lugar secreto ou uma caminhada acompanhada de conversas?
É aqui que está o perigo do tal retrato de gerações. A namorada (cujo nome nunca é revelado, recurso quase sempre interessante em um filme, embora aqui soe um pouco desnecessário) não tem motivos claros para partir. Não se sabe ao menos se ela deixou de amar o rapaz. Se ela não foi feliz durante o tempo em que ficaram juntos como ela alega, não é culpa dele: felicidade é uma coisa que ela nunca conheceu, ela diz. Referências divertidas lembram coisas que tiveram lugar na formação de qualquer um que esteja na faixa dos 25. Porque é nessas pequenas coisas que um casal se conhece. A dificuldade de lidar com sentimentos, de se ater à eles fica evidente: não é uma “não disposição” para o amor; aquela jovem (assim como a maioria de nós) pretende ser muito mais complexa do que é. Demérito ou fato? Assusta pela realidade.

Como se relacionar com alguém que ainda não está bem resolvido consigo mesmo o bastante? Existe uma relação onde ambos estão em sintonia? Será isso obra do acaso ou de uma relação mais trabalhada, que não queira dar passos em terrenos maiores que aqueles em que se tem mais segurança?

O fato é que o Dia dos Namorados celebra um amor meio ideal… Todo namoro devia ser parecido com os anúncios da TV. Mas é bem assim. Por trás dos presentes, dos carinhos, dos momentos vividos, está aquilo que não é dito, mas ainda sim pensado e por isso mesmo latente. Antônio não imaginava que sua namorada pensava em ir. O que se demonstra não é necessariamente um referencial numa relação.

Durante o passeio pelo Campus, conversas de todo tipo e assunto. Diálogos espertos, às vezes um tanto forçados, mas naturalistas. É assim que nos fazemos perceber pelo outro: lançando mão de certos artifícios que podem parecer meio manjados, mas que mostram o quanto desejamos seu afeto. Cada um é uma espécie de clichê de si mesmo. E é nas diferenças entre improvável casal (segundo as palavras de ambos) que a relação acontece, com seus belos momentos, que antecederam o fim. Às vezes fica a impressão de que o tal amor ideal é cada vez mais desconhecido e talvez desnecessário.

Imaginar o fim como um momento necessariamente apoteótico, como um acontecimento marcante, é novamente idealizar o amor, diz a garota. Importante mesmo é que haja momentos pra se lembrar, pois o fim é apenas o fim. E nada mais. Cada um segue seu caminho, com suas dores (porque quem termina também sente, os motivos que levam um sujeito a dar fim a uma relação quase sempre estão ligados à ele mesmo), seus desejos (um quer esquecer, dada a impossibilidade, outro quer seguir em frente, já que a história ficou pra trás).

No fim a opção pela conversa no lugar do sexo parece a mais interessante: não é uma lavação de roupa suja. É esse desvelar que aparece com a ligação entre ambos que vai ficando para trás que traz as palavras que ficaram por dizer, as perguntas que não foram feitas. Falar de amor pode clichê. Mas inevitável. Romantismo pode ser condenável em certa medida. Isso definitivamente Apenas o Fim não é. Sentimental é a palavra certa.

O fim serve para dar lugar a um novo começo. Ao coração que teima em bater, avisa que é de se entregar o viver, diz “Pois È”, música de Los Hermanos que encerra o filme. Uma bonita forma de dizer a moral da história. Recomendo.

A garota cool e o rapaz nerd: retrato ou estereótipo de uma geração?

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